sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A Tradição da Zabumba de “Seu” Quendera


Publicado pelo site osmario.com.br, em 05/02/2014.

A Tradição da Zabumba de “Seu” Quendera
Por Osmário Santos

Na Rua Altamira, número 28, bairro Industrial, numa pequena casa vive a viúva do “Seu” Quendera e seus filhos.

- Quem foi Quendera? Um dos músicos que com o seu pífano e seu grupo de zabumba, deixou uma grande marca no folclore sergipano. Quendera com seus músicos estava presente nos acontecimentos culturais de Aracaju e de outras cidades de Sergipe, nos acontecimentos políticos e até marcava presença nos acontecimentos religiosos, levando animação com o som regional.

Era um grupo que agradava a todos, principalmente os contratantes que pagavam uma irrisória quantia e tinham uma boa música. Nos comícios “Seu” Quendera estava presente. Nas inaugurações oficiais do governo lá estava Quendera e seu grupo.

Era uma figura que conquistava a todos pela sua maneira de ser alegre e pela postura de músico responsável e apaixonado pela música. Não tinha hora para terminar de tocar e a zabumbada tomava conta da noite. Em qualquer festa Quendera estava presente e até no futebol, na condição de torcedor apaixonado pelo Confiança. Misturava o som do pífano e da zabumba, com a fanfarra da torcida organizada do time azul e branco do bairro Industrial.

Seu Quendera tocava em todas as épocas, principalmente nos festejos juninos, quando o som da sua zabumba esquentava as noites da rua de São João, com a música de sua autoria “Esquenta Mulher”.

Hoje já não temos mais Seu Quendera que está em outra constelação, mas sua arte de tocar pífano com o seu grupo musical faz falta.

Após a sua morte, a família resolveu assumir a responsabilidade do grupo, depois de um período de crise, de dor e de sofrimento, consequência de sua inesperada partida, vítima de problemas cardíacos. O filho que acompanhava o pai em suas tocadas desde pequeno na zabumba assumiu o comando. A viúva Maria José dos Santos Menezes dá o devido apoio e fica contente diante da continuação do grupo. Ela hoje, com 70 anos fala de alguns dos bons momentos vividos com Quendera depois de sete anos de sua morte, já que ele faleceu em 1982.

Seu Quendera quando jovem era tocador de destaque da bandinha de pífano de seu Raimundo. Com a morte do dono do conjunto, seu Quendera, assumiu o comando já estava casado com dona Maria e isso aconteceu com poucos anos de casamento. Dona Maria nos afirmou que são 50 anos de existência do grupo com o nome de seu Quendera. A banda de seu Raimundo somente tocava no bairro e quando seu Quendera assumiu o comando, deu o seu nome ao grupo e começou a tocar fora do bairro, a fim de conseguir alguns trocados para ajudar em casa, já que o pouco ordenado de eletricista do Estado não dava para nada. Passou a tocar nos leilões da época, a fazer acompanhamento de procissões e a tocar em todo tipo de festa. O seu conjunto era mais procurado para as novenas de Santo Antônio e neste período a agenda sempre estava cheia. Além de tocar pífano, seu Quendera tocava zabumba e violão. Fazia algumas músicas e batizava com nomes bem sugestivos como: “Esquenta Mulher, Landu, Cachorro e a Onça” e preparou uma especialmente para as procissões, dando o nome de “Acompanhamento de Santo”. Seu Quendera foi um dos poucos grupos musicais que representou em exibições de caráter folclórico, tendo ido para Goiânia, Recife, Ceará, Rio de Janeiro e Salvador.

Seu Quendera era um eletricista que trabalhava nos bondes que antigamente circulavam em Aracaju. Nas horas de folga, sempre pegava um instrumento musical e estava a compor música para o repertório do seu grupo. Da música não deixou amparo para a família, pois o que ganhava sempre era pouco e ainda tinha que repartir com os demais companheiros. Na sua morte, a viúva numa última homenagem, a conselho de um amigo, colocou no caixão o seu pífano, atitude, que provocou arrependimento mais tarde.

O grupo ficou depois de sua morte parado durante três anos. Dona Maria, sentindo a ausência do companheiro de tantos anos, vendo os instrumentos em casa, de uma hora para outra resolveu dar fim e vendeu tudo. Mas essa atitude foi também de revolta, pelo esquecimento da Emsetur que era quem mais contratava o conjunto e despareceu no momento mais difícil.

Com a ajuda de Aglaé Fontes, então diretora do Centro de Criatividade, que colaborou financeiramente para a compra de novos instrumentos depois de muitos conselhos, encucando na família a necessidade da volta do conjunto e assegurando um cachê para a primeira apresentação depois da morte do velho, o conjunto voltou tendo à frente o filho do Quendera, Adelson Santos Menezes.

Adelson fala bem do seu pai e lembra da vocação que o velho tinha para Bom Jesus dos Navegantes, quando fazia questão de acompanhar a procissão com o seu conjunto de pífano, sem receber nenhum cachê.

Ele gosta de tocar as músicas compostas por seu pai e promete não acabar nunca o conjunto. Uma coisa triste que notamos é a sua acomodação, pois ele fica somente esperando pelos órgãos oficiais e não busca apresentações nem mesmo nestes órgãos, esperando que venham contratá-los em casa. Assim o conjunto cai no esquecimento e uma vez ou outra é que retorna com o seu gostoso e contagiante som.

Hoje, o conjunto não mais ensaia e só faz apresentação praticamente para os órgãos culturais. Adelson nos fala que foi bastante decisiva para o retorno do conjunto, uma reunião que aconteceu com velhos amigos do pai como mestre Euclides, mestre Oliveira, Durval e com a participação de Aglaé.

Antes o conjunto era composto por seis componentes: dois pífanos, a zabumba, o pandeiro, a caixa e o triângulo. Hoje é composto de quatro elementos sendo eliminado o pandeiro e o triângulo.

Sua última apresentação foi no Festival de Laranjeiras. Ele reclama da demora dos pagamentos por parte dos órgãos culturais do Estado.

No último São João ninguém chegou a contratar o conjunto e assim não tocou para ninguém. Perguntamos qual era a profissão do Adelson e ele nos respondeu que era vigia e que atualmente, estava desempregado. Sobre a profissão dos demais componentes do grupo, ele nos disse que um era aposentado, um pescador e dois que trabalhavam numa serraria.

Hoje o conjunto só depende dos órgãos culturais. Nem por brincadeira, numa roda de bar o conjunto aparece. Eles não se reúnem para tocar, não fazem como antigamente, onde a garra e o sangue de mestre Quendera contagiava a todos.

Publicado em 18/12/1989.

Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 14 de fevereiro de 2014.

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