Publicado pelo site osmario.com.br, em 05/02/2014.
A Tradição da Zabumba de “Seu” Quendera
Por Osmário Santos
Na Rua Altamira, número 28, bairro Industrial, numa pequena
casa vive a viúva do “Seu” Quendera e seus filhos.
- Quem foi Quendera? Um dos músicos que com o seu pífano e
seu grupo de zabumba, deixou uma grande marca no folclore sergipano. Quendera
com seus músicos estava presente nos acontecimentos culturais de Aracaju e de
outras cidades de Sergipe, nos acontecimentos políticos e até marcava presença
nos acontecimentos religiosos, levando animação com o som regional.
Era um grupo que agradava a todos, principalmente os
contratantes que pagavam uma irrisória quantia e tinham uma boa música. Nos
comícios “Seu” Quendera estava presente. Nas inaugurações oficiais do governo
lá estava Quendera e seu grupo.
Era uma figura que conquistava a todos pela sua maneira de
ser alegre e pela postura de músico responsável e apaixonado pela música. Não
tinha hora para terminar de tocar e a zabumbada tomava conta da noite. Em
qualquer festa Quendera estava presente e até no futebol, na condição de
torcedor apaixonado pelo Confiança. Misturava o som do pífano e da zabumba, com
a fanfarra da torcida organizada do time azul e branco do bairro Industrial.
Seu Quendera tocava em todas as épocas, principalmente nos
festejos juninos, quando o som da sua zabumba esquentava as noites da rua de
São João, com a música de sua autoria “Esquenta Mulher”.
Hoje já não temos mais Seu Quendera que está em outra
constelação, mas sua arte de tocar pífano com o seu grupo musical faz falta.
Após a sua morte, a família resolveu assumir a
responsabilidade do grupo, depois de um período de crise, de dor e de
sofrimento, consequência de sua inesperada partida, vítima de problemas
cardíacos. O filho que acompanhava o pai em suas tocadas desde pequeno na
zabumba assumiu o comando. A viúva Maria José dos Santos Menezes dá o devido
apoio e fica contente diante da continuação do grupo. Ela hoje, com 70 anos
fala de alguns dos bons momentos vividos com Quendera depois de sete anos de
sua morte, já que ele faleceu em 1982.
Seu Quendera quando jovem era tocador de destaque da
bandinha de pífano de seu Raimundo. Com a morte do dono do conjunto, seu
Quendera, assumiu o comando já estava casado com dona Maria e isso aconteceu
com poucos anos de casamento. Dona Maria nos afirmou que são 50 anos de
existência do grupo com o nome de seu Quendera. A banda de seu Raimundo somente
tocava no bairro e quando seu Quendera assumiu o comando, deu o seu nome ao
grupo e começou a tocar fora do bairro, a fim de conseguir alguns trocados para
ajudar em casa, já que o pouco ordenado de eletricista do Estado não dava para
nada. Passou a tocar nos leilões da época, a fazer acompanhamento de procissões
e a tocar em todo tipo de festa. O seu conjunto era mais procurado para as novenas
de Santo Antônio e neste período a agenda sempre estava cheia. Além de tocar
pífano, seu Quendera tocava zabumba e violão. Fazia algumas músicas e batizava
com nomes bem sugestivos como: “Esquenta Mulher, Landu, Cachorro e a Onça” e
preparou uma especialmente para as procissões, dando o nome de “Acompanhamento
de Santo”. Seu Quendera foi um dos poucos grupos musicais que representou em
exibições de caráter folclórico, tendo ido para Goiânia, Recife, Ceará, Rio de
Janeiro e Salvador.
Seu Quendera era um eletricista que trabalhava nos bondes
que antigamente circulavam em Aracaju. Nas horas de folga, sempre pegava um
instrumento musical e estava a compor música para o repertório do seu grupo. Da
música não deixou amparo para a família, pois o que ganhava sempre era pouco e
ainda tinha que repartir com os demais companheiros. Na sua morte, a viúva numa
última homenagem, a conselho de um amigo, colocou no caixão o seu pífano,
atitude, que provocou arrependimento mais tarde.
O grupo ficou depois de sua morte parado durante três anos.
Dona Maria, sentindo a ausência do companheiro de tantos anos, vendo os
instrumentos em casa, de uma hora para outra resolveu dar fim e vendeu tudo.
Mas essa atitude foi também de revolta, pelo esquecimento da Emsetur que era quem
mais contratava o conjunto e despareceu no momento mais difícil.
Com a ajuda de Aglaé Fontes, então diretora do Centro de
Criatividade, que colaborou financeiramente para a compra de novos instrumentos
depois de muitos conselhos, encucando na família a necessidade da volta do
conjunto e assegurando um cachê para a primeira apresentação depois da morte do
velho, o conjunto voltou tendo à frente o filho do Quendera, Adelson Santos
Menezes.
Adelson fala bem do seu pai e lembra da vocação que o velho
tinha para Bom Jesus dos Navegantes, quando fazia questão de acompanhar a
procissão com o seu conjunto de pífano, sem receber nenhum cachê.
Ele gosta de tocar as músicas compostas por seu pai e
promete não acabar nunca o conjunto. Uma coisa triste que notamos é a sua
acomodação, pois ele fica somente esperando pelos órgãos oficiais e não busca
apresentações nem mesmo nestes órgãos, esperando que venham contratá-los em
casa. Assim o conjunto cai no esquecimento e uma vez ou outra é que retorna com
o seu gostoso e contagiante som.
Hoje, o conjunto não mais ensaia e só faz apresentação
praticamente para os órgãos culturais. Adelson nos fala que foi bastante
decisiva para o retorno do conjunto, uma reunião que aconteceu com velhos
amigos do pai como mestre Euclides, mestre Oliveira, Durval e com a
participação de Aglaé.
Antes o conjunto era composto por seis componentes: dois
pífanos, a zabumba, o pandeiro, a caixa e o triângulo. Hoje é composto de
quatro elementos sendo eliminado o pandeiro e o triângulo.
Sua última apresentação foi no Festival de Laranjeiras. Ele
reclama da demora dos pagamentos por parte dos órgãos culturais do Estado.
No último São João ninguém chegou a contratar o conjunto e
assim não tocou para ninguém. Perguntamos qual era a profissão do Adelson e ele
nos respondeu que era vigia e que atualmente, estava desempregado. Sobre a
profissão dos demais componentes do grupo, ele nos disse que um era aposentado,
um pescador e dois que trabalhavam numa serraria.
Hoje o conjunto só depende dos órgãos culturais. Nem por
brincadeira, numa roda de bar o conjunto aparece. Eles não se reúnem para
tocar, não fazem como antigamente, onde a garra e o sangue de mestre Quendera
contagiava a todos.
Publicado em 18/12/1989.
Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 14 de fevereiro de 2014.
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