Professor Joaquim Vieira Sobral e seu mecenato estudantil,
belo texto de Manoel Cabral Machado.
Por influência do meu amigo Lauro Barreto Fontes, (falecido
recentemente), em 1935 fui transferido do colégio Salesiano para o Atheneu
Pedro II, nesse tempo dirigido pelo professor Zequinha.
Logo depois, no Governo Eronides de Carvalho, a direção do
estabelecimento fora ocupada pelo professor Joaquim Vieira Sobral que então
lecionava Desenho e Inglês. Houve com a nova direção uma mudança total. O
professor Joaquim era amável e acolhedor. Tratava os alunos com cordialidade,
valorando a classe estudantil. Logo no início de sua administração, dirigiu-se
aos estudantes da quinta série pedindo a nossa colaboração. No Ateneu fez
administração revolucionária com inovações pedagógicas ampliando os
laboratórios de Ciências Físicas Naturais, criando biblioteca, apoiando o
grêmio estudantil Clodomir Silva e o seu jornal A Voz Do Ateneu. E realizando o
mecenato estudantil com amparo aos estudantes pobres e assim formar muitos dos
jovens talentosos de Sergipe nas Faculdades da Bahia ou do Rio.
O professor Joaquim Vieira Sobral, nasceu em 03 de abril
1898, na cidade de Japaratuba, no engenho São João, pertencente à família,
filho do doutor Domingos Dias de Menezes Sobral (Dr. Mingu) e sua esposa D.Ana
Vieira Sobral. O Doutor Mingu era agrônomo e formara-se em Salvador na escola
de agronomia de Itapajipe, sendo colega do meu tio Dr. Matheus de Souza
Ferreira Machado, pai do desembargador Antonio Machado falecido há pouco tempo.
Dr. Mingu casara-se com D.Ana Vieira Sobral, filha do Doutor Joaquim Manoel de
Almeida Vieira, médico nascido em Capela e que esteve na Guerra do Paraguai
voltando cheio de glória falecendo muito moço. Fora padrinho de minha mãe e
possivelmente seu parente. Sua esposa muito jovem casa-se com o coronel Semeão
Telles de Menezes Sobral. Este casara-se duas vezes do 1° Consórcio com D. Rosa
Cândida Dias Sobral e tivera 17 filhos. Entre estes o desembargador Semeão de
Menezes Sobral, Pedro Sobral (Promotor de Japaratuba) e outros inclusive o Dr.
Mingu. Do 2° Consórcio com D.Luiza Francisca Acioly Sobral teve seis filhos,
entre estes o arcebispo D. Adalberto Sobral, Dr. Otavio Acioly Sobral, usineiro
da Usina Oiterinhos, José Sobral, Dr. Francisco Acioly Sobral, avô dos meus
netos, Jorge do Prado Sobral Junior e Paulo Henrique Machado Sobral e ainda
duas mulheres Alzira e Eulina. Ver-se que os descendentes do coronel Semeão
Telles Sobral casam-se uns com os outros fazendo um enlaçamento familiar
acontecendo, por exemplo, que D. Adalberto Sobral seja irmão de Dr. Mingu e
irmão também de sua esposa D. Ana Vieira Sobral, mas Mingu não era irmão de sua
esposa Ana Vieira Sobral, pois, que tem o mesmo pai mais não tem a mesma mãe.
Voltando ao professor Joaquim Vieira Sobral diria que por algumas vezes, ele
dirigiu o Ateneu Pedro II e muitos dos estudantes pobres do Ateneu formaram-se
com a sua ajuda. Seja distribuindo bolsas de estudos, empregos ou mesmo ajuda
financeira sua e dos seus amigos. Fora um verdadeiro mecenato. Quando em 1943,
já formado, vim residir em Aracaju e passei pouco tempo depois a ensinar no
Colégio Nossa Senhora de Lourdes e na Escola de Comércio Conselheiro Orlando, o
professor Joaquim convidou-me para lecionar História no Ateneu e conseguiu-me
um documento que permitiu o meu registro como Professor Ginasial.
Professor Joaquim Sobral, estudara as primeiras letras em
Riachuelo, no Engenho Escuta pertencente aos seus pais. Crescendo conheceu e
fez amizade com Dr. Silvio Leite participando das tertúlias literárias do
engenho Lira do Dr. Dionísio Telles de Menezes. Já rapazinho resolveu estudar
no Colégio Salesiano Santa Rosa, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Em
1911, retorna a Sergipe passando a lecionar no Colégio Salesiano em Aracaju. Em
1912, retorna ao Rio de Janeiro ensina no Colégio Salesiano Santa Rosa e faz
curso na Escola Politécnica. Em 1913 outra vez interrompe os estudos voltando a
Sergipe para cuidar dos haveres da família administrando o Engenho Escuta em
Riachuelo. Sete anos depois, casa-se com a sua prima Alzira Garcez Sobral, numa
festa de grande alegria para as famílias. Depois de algum tempo, é nomeado
professor de desenho do Ateneu Pedro II de Aracaju, onde passou toda a sua vida
seja como professor de Desenho ou de Inglês ou mesmo de Diretor do
estabelecimento, ganhando destaque e projeção graças as suas qualidades de
administrador e habilidade com que tratava os seus alunos. Do seu casamento com
D. Alzira teve vários filhos, Dr. Hernani Sobral, (professor de matemática da
Faculdade de Engenharia da Bahia) Clovis Sobral (funcionário público, aspirando
ser Agrônomo, realizou a vocação no seu filho Dr. Lafaiete), Maria Silvia
(professora), Carmem (casada com Luciano Menezes alto funcionário do Banco do
Brasil) e Letícia.
E quando foi criada a Sociedade dos ex-alunos do Colégio de
D. Bosco em Aracaju, ele fora eleito Presidente da Sociedade - sendo eu também
eleito Orador Oficial -. O professor Joaquim, logo depois, conseguiu recursos
para comprar um casarão para a sede da sociedade na rua de Propriá. Extinta a
sociedade, o prédio passou para a Diocese de Aracaju, onde hoje funciona a
Rádio Cultura. Porque falava e escrevia inglês, o professor Joaquim criara um
escritório de representação de máquinas inglesas para atender as necessidades
da nossa indústria açucareira. O professor Joaquim, irmão do desembargador
Carlos Vieira Sobral, Dr. Semeão Vieira Sobral, coronel do Exército José Vieira
Sobral, Dr. Luiz Bosco Sobral, Eduardo Vieira Sobral pai de D. Clara Sobral
Souza, esposa do conselheiro José Carlos de Souza. Quando da sua aposentadoria,
após mais de trinta anos de magistério aposenta-se havendo uma despedida
festiva no Ateneu, sendo saudado pelo poeta Freire Ribeiro, inclusive recitando
um belo poema. Aposentado, passa a dirigir o asilo Rio Branco, cuidando com
afeto os velhinhos empobrecidos.
Faleceu o professor Joaquim aos 83 anos, no dia 28 de
setembro de 1980, cercado do afeto dos seus filhos e netos e ainda da admiração
dos seus ex-alunos e amigos.
Quando do seu centenário de nascimento, a professora Maria
Tethis Nunes liderou o movimento para a comemoração do centenário do mestre
Joaquim Sobral, nos festejos, muitos ex-alunos falaram inclusive eu e a
professora Tethis. Compareceu também à solenidade sua ex-aluna professora Maria
de Loudes Burgos da Universidade Federal de Medicina da Bahia. Fora um homem
admirável pelos seus serviços prestados a educação em Sergipe, e ainda fora um
pai benévolo e dedicado aos seus alunos, especialmente os pobres. Foram muitos
os estudantes pobres amparados e protegidos pelo professor Joaquim Vieira
Sobral. Sendo assim, ele poderá integrar a galeria dos sergipanos excepcionais
e receber as homenagens dos seus coestaduanos."
Jornal da Cidade, Caderno B, em 31/12/2008.
Foto e texto reproduzidos do Facebook/Linha do Tempo/Antônio
Samarone.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 8 de fevereiro de 2014.
Boa noite! Quem seria as senhoras da foto, ao lado do Joaquim Sobral?
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