domingo, 9 de fevereiro de 2014

Professor Joaquim Vieira Sobral e seu mecenato estudantil


Professor Joaquim Vieira Sobral e seu mecenato estudantil, belo texto de Manoel Cabral Machado.

Por influência do meu amigo Lauro Barreto Fontes, (falecido recentemente), em 1935 fui transferido do colégio Salesiano para o Atheneu Pedro II, nesse tempo dirigido pelo professor Zequinha.

Logo depois, no Governo Eronides de Carvalho, a direção do estabelecimento fora ocupada pelo professor Joaquim Vieira Sobral que então lecionava Desenho e Inglês. Houve com a nova direção uma mudança total. O professor Joaquim era amável e acolhedor. Tratava os alunos com cordialidade, valorando a classe estudantil. Logo no início de sua administração, dirigiu-se aos estudantes da quinta série pedindo a nossa colaboração. No Ateneu fez administração revolucionária com inovações pedagógicas ampliando os laboratórios de Ciências Físicas Naturais, criando biblioteca, apoiando o grêmio estudantil Clodomir Silva e o seu jornal A Voz Do Ateneu. E realizando o mecenato estudantil com amparo aos estudantes pobres e assim formar muitos dos jovens talentosos de Sergipe nas Faculdades da Bahia ou do Rio.

O professor Joaquim Vieira Sobral, nasceu em 03 de abril 1898, na cidade de Japaratuba, no engenho São João, pertencente à família, filho do doutor Domingos Dias de Menezes Sobral (Dr. Mingu) e sua esposa D.Ana Vieira Sobral. O Doutor Mingu era agrônomo e formara-se em Salvador na escola de agronomia de Itapajipe, sendo colega do meu tio Dr. Matheus de Souza Ferreira Machado, pai do desembargador Antonio Machado falecido há pouco tempo. Dr. Mingu casara-se com D.Ana Vieira Sobral, filha do Doutor Joaquim Manoel de Almeida Vieira, médico nascido em Capela e que esteve na Guerra do Paraguai voltando cheio de glória falecendo muito moço. Fora padrinho de minha mãe e possivelmente seu parente. Sua esposa muito jovem casa-se com o coronel Semeão Telles de Menezes Sobral. Este casara-se duas vezes do 1° Consórcio com D. Rosa Cândida Dias Sobral e tivera 17 filhos. Entre estes o desembargador Semeão de Menezes Sobral, Pedro Sobral (Promotor de Japaratuba) e outros inclusive o Dr. Mingu. Do 2° Consórcio com D.Luiza Francisca Acioly Sobral teve seis filhos, entre estes o arcebispo D. Adalberto Sobral, Dr. Otavio Acioly Sobral, usineiro da Usina Oiterinhos, José Sobral, Dr. Francisco Acioly Sobral, avô dos meus netos, Jorge do Prado Sobral Junior e Paulo Henrique Machado Sobral e ainda duas mulheres Alzira e Eulina. Ver-se que os descendentes do coronel Semeão Telles Sobral casam-se uns com os outros fazendo um enlaçamento familiar acontecendo, por exemplo, que D. Adalberto Sobral seja irmão de Dr. Mingu e irmão também de sua esposa D. Ana Vieira Sobral, mas Mingu não era irmão de sua esposa Ana Vieira Sobral, pois, que tem o mesmo pai mais não tem a mesma mãe. Voltando ao professor Joaquim Vieira Sobral diria que por algumas vezes, ele dirigiu o Ateneu Pedro II e muitos dos estudantes pobres do Ateneu formaram-se com a sua ajuda. Seja distribuindo bolsas de estudos, empregos ou mesmo ajuda financeira sua e dos seus amigos. Fora um verdadeiro mecenato. Quando em 1943, já formado, vim residir em Aracaju e passei pouco tempo depois a ensinar no Colégio Nossa Senhora de Lourdes e na Escola de Comércio Conselheiro Orlando, o professor Joaquim convidou-me para lecionar História no Ateneu e conseguiu-me um documento que permitiu o meu registro como Professor Ginasial.

Professor Joaquim Sobral, estudara as primeiras letras em Riachuelo, no Engenho Escuta pertencente aos seus pais. Crescendo conheceu e fez amizade com Dr. Silvio Leite participando das tertúlias literárias do engenho Lira do Dr. Dionísio Telles de Menezes. Já rapazinho resolveu estudar no Colégio Salesiano Santa Rosa, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Em 1911, retorna a Sergipe passando a lecionar no Colégio Salesiano em Aracaju. Em 1912, retorna ao Rio de Janeiro ensina no Colégio Salesiano Santa Rosa e faz curso na Escola Politécnica. Em 1913 outra vez interrompe os estudos voltando a Sergipe para cuidar dos haveres da família administrando o Engenho Escuta em Riachuelo. Sete anos depois, casa-se com a sua prima Alzira Garcez Sobral, numa festa de grande alegria para as famílias. Depois de algum tempo, é nomeado professor de desenho do Ateneu Pedro II de Aracaju, onde passou toda a sua vida seja como professor de Desenho ou de Inglês ou mesmo de Diretor do estabelecimento, ganhando destaque e projeção graças as suas qualidades de administrador e habilidade com que tratava os seus alunos. Do seu casamento com D. Alzira teve vários filhos, Dr. Hernani Sobral, (professor de matemática da Faculdade de Engenharia da Bahia) Clovis Sobral (funcionário público, aspirando ser Agrônomo, realizou a vocação no seu filho Dr. Lafaiete), Maria Silvia (professora), Carmem (casada com Luciano Menezes alto funcionário do Banco do Brasil) e Letícia.

E quando foi criada a Sociedade dos ex-alunos do Colégio de D. Bosco em Aracaju, ele fora eleito Presidente da Sociedade - sendo eu também eleito Orador Oficial -. O professor Joaquim, logo depois, conseguiu recursos para comprar um casarão para a sede da sociedade na rua de Propriá. Extinta a sociedade, o prédio passou para a Diocese de Aracaju, onde hoje funciona a Rádio Cultura. Porque falava e escrevia inglês, o professor Joaquim criara um escritório de representação de máquinas inglesas para atender as necessidades da nossa indústria açucareira. O professor Joaquim, irmão do desembargador Carlos Vieira Sobral, Dr. Semeão Vieira Sobral, coronel do Exército José Vieira Sobral, Dr. Luiz Bosco Sobral, Eduardo Vieira Sobral pai de D. Clara Sobral Souza, esposa do conselheiro José Carlos de Souza. Quando da sua aposentadoria, após mais de trinta anos de magistério aposenta-se havendo uma despedida festiva no Ateneu, sendo saudado pelo poeta Freire Ribeiro, inclusive recitando um belo poema. Aposentado, passa a dirigir o asilo Rio Branco, cuidando com afeto os velhinhos empobrecidos.

Faleceu o professor Joaquim aos 83 anos, no dia 28 de setembro de 1980, cercado do afeto dos seus filhos e netos e ainda da admiração dos seus ex-alunos e amigos.

Quando do seu centenário de nascimento, a professora Maria Tethis Nunes liderou o movimento para a comemoração do centenário do mestre Joaquim Sobral, nos festejos, muitos ex-alunos falaram inclusive eu e a professora Tethis. Compareceu também à solenidade sua ex-aluna professora Maria de Loudes Burgos da Universidade Federal de Medicina da Bahia. Fora um homem admirável pelos seus serviços prestados a educação em Sergipe, e ainda fora um pai benévolo e dedicado aos seus alunos, especialmente os pobres. Foram muitos os estudantes pobres amparados e protegidos pelo professor Joaquim Vieira Sobral. Sendo assim, ele poderá integrar a galeria dos sergipanos excepcionais e receber as homenagens dos seus coestaduanos."

Jornal da Cidade, Caderno B, em 31/12/2008.

Foto e texto reproduzidos do Facebook/Linha do Tempo/Antônio Samarone.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 8 de fevereiro de 2014.

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