Publicado em 25/06/2010, pelo Portal Infonet.
Blog de Luiz Antônio Barreto.
Viana de Assis
Um exemplo singular de cidadania
Por Luiz Antônio Barreto.
A morte costuma estimular a exaltação de pessoas, como uma
espécie de justiça tardia, revisando as omissões ou opiniões anteriores. Com
Viana de Assis não será diferente, pois vencerá o reconhecimento do mérito,
destacando uma existência rica de embates e exemplar, uma cidadania que bem
pode servir de modelo às novas gerações, quanto aos compromissos, formação
política e ideológica, e uma militância conseqüente.
Nascido em Aracaju, em 12 de setembro de 1933, filho do
comerciante Antonio Veriano de Assis e de Edith Viana de Assis, Antonio
Fernandes Viana de Assis estudou no Grupo Escolar Manoel Luiz, no Salesiano e
no Ateneu, onde integrou e presidiu o Grêmio Cultural Clodomir Silva, que
naquele tempo ainda guardava o eco das causas abraçadas pelo seu fundador Joel
Silveira. A política marcaria o caminho de Viana de Assis, bacharel pela
Faculdade de Direito de Sergipe, na turma de 1957, guardando uma forte
influência dos professores Renato Cantidiano e Armando Rollemberg, que o
recrutaram para os quadros do PR – Partido Republicano.
Católico por convicção, atuou na AP – Ação Popular, enquanto
advogava na área trabalhista, criando laços eleitorais com a massa de
trabalhadores e suas famílias. Na sua banca de advogado repartia o trabalho com
Jaime Araújo e Tertuliano Azevedo, que além de colegas e parceiros eram amigos.
Trabalhou, como Assessor, na Prefeitura de Aracaju, na gestão do prefeito
Roosevelt Cardoso de Menezes, antes de ser nomeado Delegado do INCRA em
Própria, onde montou sua base de atuação política, liderando a coligação PSD –
Partido Social Democrático e PR – Partido Republicano, candidatando-se e
elegendo-se Deputado Estadual à Assembléia Legislativa, em 1958, cumprindo
mandato que servia para colocar seu nome entre os grandes parlamentares que tiveram
assento naquela Casa, sendo vice-líder de Manoel Cabral Machado, na oposição ao
Governo udenista de Luiz Garcia. Em 1960 integrou o comando da campanha do
general Teixeira Lott a presidente da República, na disputa com Jânio Quadros.
Na eleição seguinte, de 1962, participou ativamente do
lançamento da candidatura de Seixas Dória ao Governo do Estado, como dissidente
da UDN, apoiado pela Coligação PSD-PR, contra o retorno de Leandro Maciel, que
usava o slogan “Ninguém se perde na volta.” Com a eleição de Seixas Dória o tom
dos discursos ganhou força progressista e Viana de Assis, ao lado de Cleto Maia
e de Baltazar Santos, continuava com sua pregação nacionalista, enquanto
prepara sua candidatura a Prefeito de Aracaju, que o movimento militar de 1964 abortaria.
O Governador Seixas Dória foi preso, deposto e levado para a ilha presídio de
Fernando de Noronha. Os discursos da Assembléia eram, na grande maioria, de
apoio aos militares, mas a voz de Viana de Assis não calou, nem mesmo quando
teve seu mandato cassado e recebeu, imediatamente, voz de prisão. Suas palavras
soaram como uma reação digna, um protesto veemente, um testemunho de coragem,
quando o manto escuro do autoritarismo interrompia a democracia brasileira.
Passada a borrasca, Viana de Assis retoma sua banca de
advogado, inicia projetos como empresário, porém mantendo acesa a chama da vida
pública.
Em 1955, com o retorno das eleições diretas para Prefeito
das Capitais, foi candidato a Vice-Prefeito de Aracaju, como companheiro de
chapa de Jackson Barreto de Lima. A tranqüila eleição de Jackson Barreto
encontrou pelo caminho da administração certos percalços que determinaram a
intervenção na Prefeitura Municipal de Aracaju. Viana de Assis assumiu o
restante do mandato e apesar do pouco tempo que teve deixou marcas de sua
passagem pelo executivo municipal, simbolizada pela construção do Calçadão da
Praia 13 de Julho, conhecido como Calçadão de Viana, que por projeto do
vereador Helber Batalha Filho passará a ser formalmente denominado de Calçadão
Viana de Assis.
Exerceu o cargo de Secretário da Indústria e Comércio,
consolidando uma postura em defesa do turismo, muitas vezes aflorada em
iniciativas particulares e públicas, como é exemplo o Hotel Beira Mar. E em
1986 candidatou-se a Senador, tendo antes do pleito pesquisas que apontavam a
sua eleição. Dormiu eleito, acordou derrotado, perdendo por pouco mais de cinco
mil votos para Francisco Rollemberg. Com ele, mas por outra coligação, também
perdia Seixas Dória. Por fim, ganhou relevo na biografia de Viana de Assis sua
presença no Rotary Club, como espaço de convivência fraterna. Governador do
Distrito, Viana de Assis foi, na história de 75 anos, um dos mais abnegados
rotarianos, um líder, um companheiro, que deixa lacuna na instituição.
Política, advocacia, empreendedorismo, cultura, turismo,
civilidade marcaram a vida de Viana de Assis, que morreu aos 76 anos,
segunda-feira, dia 21, deixando tristeza e saudade para a sua família – a
mulher Yara, paulista sergipanizada, e os filhos, que são mais próximos -, e
para os amigos e admiradores que sentirão a perda. E Sergipe ficará desfalcado
da inteligência, do patriotismo, da cordialidade e do espírito público,
sintonizado com os tempos renovados, de Viana de Assis.
Foto e texto reproduzidos pelo site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 23 de abril de 2013.
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