Publicado pela Infonet/Blog Luiz Antônio Bareto, em
05/03/2010.
As efemérides sergipanas de Epifânio Dória
Por Luiz Antônio Barreto.
A cultura sergipana contou, no curso da história, com alguns
autores que deram intensa e ampla contribuição na fixação da vida local, muito
embora não tenham resistido ao tempo, muito menos ao descaso com a memória.
Recortando-se apenas o tempo da República, anota-se o nome de Felisbelo Freire
(1858-1916), que além da clínica médica, da militância política, legou aos
pósteros uma História de Sergipe, uma História Territorial do Brasil (que
inclui Sergipe) e uma História Constitucional da República, dentre outros
livros referenciais. Outros nomes merecem destaque, como o de Francisco
Carvalho Lima Júnior, o de Clodomir Silva, o de Manoel dos Passos de Oliveira
Teles, pinçados dentre muitos que dedicaram tempo à pesquisa e aos estudos
sergipanos.
Outro nome que também é uma referência é o de Epifânio Dória
(1884-1976), o organizador de acervos, o gestor dos arquivos, o zelador
perfeito da documentação sergipana. Sua biografia ilustre começa em Maroim,
onde emprestou seu talento no Gabinete de Leitura daquela cidade, fundado em
1877. O circuito de atividades de Epifânio Dória inclui a Biblioteca Pública,
que hoje leva seu nome, o Arquivo Público do Estado de Sergipe, a Loja
Capitular Cotinguiba, a mais antiga instituição maçônica, ainda em
funcionamento, e o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, onde doou suas
últimas forças, preservando o acervo e a prestação de serviços da Casa de
Sergipe, que muito em breve celebrará seu Centenário.
Além do esforço pessoal, dos contatos protetores para as
instituições nas quais servia, e da prestimosa atenção que dispensava aos
leitores e pesquisadores, Epifânio Dória organizou uma vasta obra, que demarca
a vida intelectual sergipana, desde sua participação, em 1925, na edição do
Dicionário biobibliográfico sergipano, de Armindo Guaraná, ao lado de Prado
Sampaio. Os jornais das cinco primeiras décadas do século XX estão repletos de
artigos, comentários, correspondências, anotações de Epifânio Dória, tudo
destinado a formar um repertório de conhecimento local, fazendo despontar fatos
e pessoas que nem sempre conquistaram o justo lugar no panteão dos construtores
da sergipanidade.
De todos os trabalhos empoeirados, sem edição, Epifânio
Dória deixou um, que pela sua contribuição merece destaque. Refiro aos artigos
enfeixados no título geral de Efemérides sergipanas. Trata-se de artigos
publicados em vários jornais, acrescidos de novas informações, anotados e
algumas vezes refundidos, que constituem um corpus de excelência sobre Sergipe
e os sergipanos. Não há nada igual. Por isto mesmo muitos dos pesquisadores
atuais sonharam com a organização, a fixação dos textos e a publicação das
Efemérides sergipanas. Havia, contudo, muito a enfrentar e superar, para dar
forma e divulgação ao esforço gigantesco de Epifânio Dória.
Ana Maria Fonseca Medina, professora e pesquisadora, já
formando alentada obra de referência com temática sergipana, a exemplo dos
livros sobre a Ponte do Imperador, sobre Hermes-Fontes, a partir de cartas,
sobre os desembargadores do Tribunal de Justiça, decidiu enfrentar o desafio de
recolher, cotejar, organizar e publicar, em 2 volumes, a obra maestra de
Epifânio Dória. Um trabalho hercúleo e audacioso, uma contribuição enorme e
útil, que recupera para os contemporâneos uma obra de referência que corria o
risco de permanecer inacessível às novas gerações de sergipanos.
Os dois volumes formam, na verdade, uma Seleta da imensa
colaboração aos jornais, dada por Epifânio Dória. É certo que alguns artigos
foram perdidos, juntamente com os jornais que os publicara. É possível, ainda,
localizar versões de efemérides, que foram reescritas ou corrigidas, ou mesmo
ampliadas pelo autor. Nada, contudo, tornará menor o esforço de Ana Maria
Fonseca Medina, em organizar e editar a principal das obras de Epifânio Dória.
A publicação, que seguiu o ordenamento cronológico, contou com o patrocínio do
Governo do Estado, do BANESE e do BANESE CARD, e mereceu comentários de Ivan
Valença, Luiz Eduardo Costa, Pedrinho dos Santos, Coronel José Garcez da Costa
Dória, Tânia Menezes e do Governador Marcelo Deda, Prefácio de José Ibarê da
Costa Dantas, Introdução da organizadora, cronologia, por José Francisco
Menezes, e fortuna crítica reunindo opiniões de Urbano Neto, Ariosvaldo
Figueiredo, Manoel Cabral Machado, Hugo Costa, José Augusto Garcez, Dilton
Maynard e Arivaldo Silveira Fontes.
Uma obra, portanto, das entranhas da história e da cultura
de Sergipe, para servir de lume ao conhecimento das atuais e das novas gerações
dos sergipanos. Pelo seu caráter didático, tomara que chegue às escolas, de
todos os níveis, onde é feita a formação do cidadão desta terra.
Foto e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 22 de abril de 2013.
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