Publicado pelo Portal Infonet em 29 de outubro de 2010.
Blog Luiz Antônio Barreto
Juarez Conrado e seu interesse permanente na figura de
Lampeão
Por Luiz Antônio Barreto
Morreu em Aracaju, aos 79 anos, e foi sepultado terça-feira,
dia 26, o jornalista e escritor baiano Juarez Conrado. Jornalista experiente e
político promissor na Bahia, Juarez Conrado resolveu viver em Aracaju, onde
chefiou o escritório que o jornal A Tarde montou na capital sergipana, para
estreitar os laços entre os dois Estados. A parceria foi boa para os dois, de
um lado o jornal circulava para um público próximo e interessado, do outro
Sergipe conquistou espaço nas edições diárias e um Caderno especial, semanal.
Cordial, afável, Juarez Conrado de logo conquistou a
simpatia e a atenção dos sergipanos, convivendo harmoniosamente com os colegas
da imprensa, circulando sem embaraço entre políticos e administradores, ele
prestou enorme serviço ao jornal no qual trabalhava e ajudou Sergipe a
comunicar-se com o Brasil.
Desde que chegou e fixou residência em Sergipe, como
Correspondente de A Tarde, da Bahia, que Juarez Conrado voltou-se para a
pesquisa, a anotação e a reflexão sobre a vida e os fatos ligados a Virgulino
Ferreira da Silva, o Capitão Lampeão. Textos cursos, reportagens, livros, enfim
uma contribuição que abarca a oitiva de testemunhas, sobreviventes dos tempos
de 30, que desembocaram no 28 de julho de 1938, quando uma volante, ajudada por
coiteiros, riscou do mundo e da vida, na Gruta do Angico, território de Poço
Redondo, o afamado bando e seu chefe.
Sergipe foi, durante muitos anos, o terreno preferido de
Lampeão, para fazer seus negócios, empreender sua guerra particular com as
forças policiais e as volantes. São muitos os testemunhos que atestam a relação
de intimidade do cangaceiro com a terra e com certas figuras, ricas e pobres,
que lhe serviam. Nem o Major médico Eronídes Ferreira de Carvalho, que foi
Governador e Interventor Federal no Estado escapou nas suposições que estão,
ainda correntes, no imaginário dos sergipanos.
Lampeão assaltos e mortes em Sergipe enfeixa uma visão geral
dos fatos, pelos documentos, pelos jornais, pelo ouvir dizer dos testemunhos, o
que poderá provocar novos debates. Lampeão não tem imagem unânime, nem aquela
que o põe como anjo vingador, nem a que, ao contrário, execra sua figura como
satânica. Ele é o que é, junção de suas circunstâncias, fosse para a propaganda
do bem, fosse para o rótulo do mal. Na medida em que amplia o horizonte da
pesquisa, da leitura, e se debruça sobre o material para retratar, amplamente,
o seu personagem, Juarez Conrado lança um longo olhar sobre os fatos, o que
pode implicar numa revisão de conceitos.
Aflora pelo interesse, a visão que o autor tem de 16
municípios sergipanos, das regiões mais secas, onde a comunicação parca
facilitava o deslocamento de Lampeão e dos seus rapazes, criando raízes em
Sergipe. Outros temas, como a vingança de Corisco, e tudo o que dela decorre,
um olhar sobre a imprensa, visões que completam o trabalho de Juarez Conrado.
Doravante, a leitura estará ao alcance dos olhos e ouvidos,
límpida como a água, ao alcance dos de hoje, que conhecem Lampeão pela
iconografia. A bibliografia sobre o ciclo do cangaço ganha mais um título,
construído no curso do tempo, após trabalho exaustivo de ausculta, de
anotações, de concordâncias e divergências, sem os quais, aliás, não se amplia
o conhecimento. Um personagem tão complexo como Virgulino Ferreira da Silva não
cabe num livro só. É preciso conhecer suas justificativas e a dos que se
dividiam em apoiadores e combatentes, como é preciso vê-lo na dimensão mítica
de sua sobrevivência sábia, nas catingas sertanejas do nordeste brasileiro. E
ainda falta compreendê-lo como personagem que anima a lúdica nordestina, com
seu trajo e com tudo o que esteticamente o cerca.
Foto e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Foto: Assembléia Legislativa da Bahia.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 23 de abril de 3013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário