Personagens cheios de histórias dão vida aos mercados
centrais de Aracaju.
Por Stephanie Matos. *
Os mercados centrais de Aracaju transbordam cultura popular
o ano inteiro. Do cordel as ervas, do repente a macaxeira. Repletos de cheiros,
gostos e personagens, eles são o ponto de encontro para uns e ganha pão para
outros. Com a capacidade de reunir música, culinária, artesanato e literatura,
e misturar cores, saberes e sabores, os mercados são peças importantes para
manutenção da cultura sergipana.
Localizados no centro histórico de Aracaju, os mercados
Antônio Franco e Thales Ferraz, foram construídos na década de noventa e
passaram por um processo de revitalização no ano de 2000, desde então, atraem
sergipanos e turistas. O mercado Antônio Franco, reserva uma diversidade de
produtos artesanais vindos de todo o estado, além das comidas típicas, da literatura
de cordel e das ervas medicinais. Já no mercado Thales Ferraz é possível
encontrar produtos tipicamente nordestinos, como doces, manteiga de sertão e
tapioca.
E atrás de cada balcão, há um personagem, uma história de
vida construída com o suor do trabalho, que tem no amor pelo mercado, sua
característica mais marcante. São pessoas simples, alegres e falantes. Gente
com cara de gente, sabe? Gente de coragem, que leva a vida com otimismo e força
de vontade, tem orgulho de ser quem é, e sente prazer em contar sua história.
Quem passa pelo mercado e conversa com esses personagens se
encanta, e assim como eu, guarda na memória um pouco de cada rosto, cada voz e
cada sorriso. Hoje, eu divido com vocês, as minhas lembranças sobre o Seu
careca, João Firmino e Zé Américo. Três figuras preciosas que dão vida e
alegria ao Antônio Franco.
O popular Careca
Batizado de José Freire de Oliveira, seu Careca, como é
popularmente conhecido no Antônio Franco, é uma das principais atrações do
lugar. Mas quem o vê na rua, com seus óculos fundo de garrafa, bermudas
folgadas e camisa de botão, não faz ideia de quem ele é. E assim, passando
despercebido em meio à multidão, ele caminha até o mercado onde trabalha há
mais de sessenta anos. Lá, abre sua barraca e se transforma na figura mais
conhecida do lugar: O popular Careca. “Esse é o homem mais famoso daqui”, disse
outro vendedor ao passar pela banca de seu Careca.
Quem passa por sua barraca não deixa de parar por alguns
minutos, seja pra bater papo com seu Careca ou pedir informação. “Trabalho aqui
desde pequeno. Com treze anos eu era empregado numa barraca que vendia manteiga
e quando fiquei moço montei meu próprio negócio. Então, todo mundo aqui me
conhece e eu também conheço cada um que trabalha nesse mercado”, explica ele.
Com 62 anos dedicados aos mercados de Aracaju, seu Careca, conta com aconteceu
o processo de revitalização dos mercados municipais. “Eu lembro que na época da
reforma, mais ou menos em 1997, eu trabalhava no Thales Ferraz e com a mudança,
vim para o Antônio Franco. A grande modificação ficou na parte da organização,
por exemplo, tudo que hoje é vendido lá no Albano Franco, como carne e verdura,
era comercializado aqui”, conta seu Careca.
A barraca do Careca é repleta de artesanato vindo de todos
os cantos do Estado. Peças que garantem o sustento da sua família e tantas
outras. “Criei meus quatro filhos com o dinheiro das vendas. Minha mulher está
sempre aqui comigo e hoje meu filho mais velho vem pelo menos duas vezes por
semana me ajudar”, disse ele.
Trabalhar durante tanto tempo no mesmo lugar acaba criando
vínculos, seu Careca, sabe bem disso, e fala sobre o seu amor pelo mercado.
“Conheci minha mulher aqui, o pai dela era dono de uma barraca no Thales
Ferraz. Namoramos, casamos e criamos nossos filhos entre a casa e o mercado.
Por isso, para mim não há outro lugar. Pretendo ficar aqui até quando a saúde
deixar”, afirma.
O cordel de Firmino
Logo depois da passarela das Flores, que liga o mercado
Thales Ferraz ao Antônio Franco, uma banca colorida de histórias chama atenção
de quem passa. Lá, de sandália de couro no pé e versos na ponta da língua, está
João Firmino Cabral, o maior cordelista do Estado.
Os olhos curiosos de Firmino percorrem cada linha do cordel
e sua voz grave dá sentimento as mais diversas histórias. Apaixonado pela
literatura de cordel e dono de uma sabedoria que dispensa diplomas, ele afirma:
“Na minha banca ninguém tem prejuízo, porque ler não é prejuízo. Ler é
cultura”. Há 56 anos produzindo e vendendo cordéis, seu Firmino, é outro
personagem marcante e uma das figuras mais procuradas do Antônio Franco. Amante
das palavras e com talento nato para poesia, ele encanta sergipanos e turistas
com suas histórias. E na barraca “Box do Cordel“ tem de tudo. Do heroísmo a
política e das festas populares aos milagres, para agradar todos os tipos de
fregueses.
Nascido em Itabaiana, interior de Sergipe, Firmino conta que
seu interesse pela literatura surgiu ainda na infância. “Aprendi a ler com o
cordel. Eu comprava os folhetos de cordel e lia várias vezes até aprender. E na
adolescência escrevi o meu primeiro cordel, chamado “As bravuras de Miguel, o
valente sem igual”, afirma.
O amor de Firmino é tão grande que mesmo aos 72 anos, ele
permanece de segunda a sábado, das 08h30 às 16h30 em sua banca. Lá ele expõe
sua obra, vende os mais variados cordéis e livros, lê e todo simpático,
conversa com quem passa e conta os “causos” do dia a dia aos amigos que param
em sua banca. Com 50 trabalhos publicados, o cordelista, vê no cordel a razão
de sua vida. “Eu nasci para isso, minha vida é o cordel, não sei fazer outra
coisa. E não basta querer ser cordelista. Esse dom não se compra, se recebe de
Deus. Felizmente eu fui escolhido por ele”, disse João.
A cozinha de Zé Américo
Quem visita o mercado Antônio Franco também pode desfrutar
do melhor da culinária sergipana, comer o arribação no restaurante Recanto do
Agresteiro, e de quebra bater um papo com Zé Américo do Campo do Brito. O
melhor cozinheiro-sanfoneiro de Sergipe. Com mais de dez anos de mercado, faz
comida por prazer e música por diversão.
Conversador, Zé Américo, passa de mesa em mesa, cumprimenta
os clientes e não deixa de perguntar se a comida está agradando. Fala sobre
tudo, em especial, sobre a cultura sergipana, seu assunto favorito. “Falta
sergipanidade, o povo de sergipano não se interessa pelo que é da terra. Quem
mais deveria apreciar a cultura desse lugar somos nós, sergipanos, mas infelizmente,
os turistas mostram mais interesse. Sergipe precisa aprender a valorizar nossa
cultura, pois temos uma história grandiosa, digna de destaque”, justifica Zé
Américo.
Apaixonado pelo mercado, ele afirma que não pensa em levar
seu restaurante para outro lugar. “Meu lugar é no mercado, aqui me sinto bem,
tenho meus amigos e clientes fiéis, não tenho porque mudar. Daqui eu só saio
morto”, explica. E amor dele pelo por aquele lugar vai além. “Se a prefeitura
autorizasse, eu construía uma casa em cima do restaurante. Só para poder ficar
por aqui o tempo todo”, diz Zé Américo com um sorriso no rosto.
Zé Américo recebe diariamente os mais diversos clientes, das
pessoas que trabalham aos redores do mercado, até artistas e políticos. Seu
famoso cardápio conquistou os sergipanos e turistas, e já foi destaque nos
programas nacionais: “Mais você” (Rede Globo), “Vitrine Brasil’ (TV Brasil) e
“Globo Rural”(Rede Globo). Em 2009, Zé Américo do Campo do Brito foi a capa da
revista “Roteiros do Brasil’, distribuída pelo Ministério de Turismo. Conquista
essa, que lhe rendeu a visita de personalidades como Regina Casé, Padre
Zezinho, Dominguinhos e Gilberto Gil.
Texto reproduzido do site: et7ra.com.br
Foto reproduzida do Portal Infonet
Site: infonet.com.br/cidade/
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 8 de Janeiro de 2013.
mercado central de sobral tem historia
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