sábado, 12 de janeiro de 2013

O Cordelista João Firmino Cabral

Cordéis espalhados na Banca de João Firmino Cabral é uma alegria para os olhos dos visitantes

Por: Priscila Silva

Falar da cultura sergipana é englobar diversos fatores num único povo. Danças, lendas, músicas, comidas típicas, roupas e em especifico a literatura do cordel. Esta que é um tipo de poesia de origem popular, que no seu inicio foi difundida oralmente para depois aparecer em folhetos dependurados em cordas ou cordéis, vindo daí a origem do nome cordel, que vem lá de Portugal, que tinha a tradição de pendurar folhetos em barbantes.

Chegando ao mercado central de Aracaju, atravessa-se um corredor de flores, que irá acabar na Praça João Firmino Cabral, e lá, está o poeta do povo com sua simplicidade e atenção em meio a cordéis, visitas de amigos, turistas e passantes num ambiente acolhedor e familiar, como se fosse a sala de sua própria casa. Firmino é um senhor de olhar curioso, que traz na “ponta da língua” um cordel para falar, onde quem pára na sua banca ouve com atenção o que é lhe dito.

Ele é o João Firmino Cabral, 68 anos e com muito amor ao que faz confessa que tem 52 anos de cordel. “Estou completando 52 anos de poeta, comecei a escrever cordel aos meus 16 anos.” A vida do poeta não foi somente de letras e rimas. Na infância, o ilustre itabainense, ajudava a sua mãe Dona Cecília da Conceição, na tarefa de fazer panelas de barro. “Comecei o trabalho cedo, carregando lenha para a minha mãe fazer panelas de barro. Aos 14 comecei a ler cordeis, por causa da minha mãe que comprava para eu ler. E foi através do cordel que aprendi a ler e escrever”.

Quando perguntado qual cordel ele mais gosta, de maneira simples como seu próprio jeito humilde de ser, diz gostar de todos. “Meus cordéis são como meus filhos, eu gosto de todos. Desde o meu primeiro que eu escrevi em 1956 até os mais atuais sobre a dengue e o caso Pipita. Mas tenho um carinho por “Heróis do destino” e “A coragem de uma vaqueiro em defesa de um amor”

O cordelista é referência de pesquisa para estudantes de todas as séries, inclusive das crianças do interior, como é o caso do Colégio Imaculada Conceição da cidade de Capela, onde os alunos da 4 série vieram conhecer o ícone da cultura sergipana. “Gostei muito do João Firmino, ele escreve poemas legais, eu comprei três livrinhos, o monstro sem alma, corruptos do Brasil e As peripécias de João Grilo” , disse contente a estudante Calyane Gomes, 11.

O que deixa João Firmino Cabral orgulhoso do que faz, não é somente as constantes visitas de curiosos, estudantes e pesquisadores mas também a difusão do cordel em todo território brasileiro. “A literatura de cordel está mais divulgada porque já tem em vários estados e muitas pessoas vêm para minha banca conhecer o que é cordel”.

Como forma de retribuição, o cordelista assume a cadeira de número 23 na Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). “Este ano vou fazer parte de uma das cadeiras. Em junho estarei seguindo para o Rio de Janeiro, tomar posse, aliás essa cadeira já pertencia a um ancestral meu, Manuel de Almeida Filho. Isto é bondade do povo, é uma alegria pra mim, porque eu sou o segundo poeta sergipano, teve o Gimar Santana , que é meu discipulo, ele foi o primeiro e eu fiquei honrado. Ele dizia nos jornais e revistas que a cadeira não era para ele e sim para mim e eu sempre falava a ele que um dia iria chegar a minha vez ”, lembra.

Proseando

O poeta nunca imaginou escrever algo diferente de cordel. “Nunca escrevi nada além do cordel a não ser uma cronicazinha com a minha língua matuta, prefiro ficar nesse estilo”. A respeito da procura dos leitores de cordel, Firmino se entristece quando reconhece a falta de interesse da população do interior.“Eu recebo as escolas. E infelizmente o público que lê menos é o povo do interior de Sergipe. Os interiores de outros estados estão sempre por aqui, Alagoas, Pernambuco e Bahia” e ainda acrescenta “O sergipano, estudante que tem uma formação, ele continua admirando a cultura, o cordel, a rima. Já o interiorano acha que o cordel é algo do passado, o povo gosta é de bandas musicais, gosta de lapada na rachada e chupa que é de uva”.

A banca de Firmino é bastante movimentada, de criança a poetas consagrados, um deles é o poeta Ronaldo Dória Dantas que chega à banca sem economizar elogios ao amigo. “Já virou vício estar aqui, meu dia só começa depois que eu passo por aqui para pedir a benção ao meu mestre que me incentivou a escrever e a ser o poeta que sou hoje” e também para Dória a cultura é pouco apreciada pelo público sergipano.

Já o poeta e pesquisador Clenaldo que também é amigo de longa data, não dispensa sua visita diária ao João. “Eu brinco com ele dizendo que ele é um poço de qualidades e ele como sempre, com seu jeito humilde e modesto, me retribuiu com os mesmos elogios” e também considera Firmino um irmão, porque quando ele mais precisou, estava presente. “Quando para mim já não havia mais nenhum um sopro de esperança de vida e a medicina já havia me dado como perdido busquei nos amigos a força e o positivismo para dar voltas e ressurgir das cinzas como uma fênix. Curei-me de um câncer do pulmão, que os médicos diziam que eu tinha apenas 5% de chance de sobreviver e agradeço a este meu amigo-irmão que tanto me deu forças para que eu não desistisse de lutar pela vida”, relembra o amigo e emocionado Firmino com os olhos rasos d’água o abraça, disfarçando, adianta “Estou atrasado, hoje vou dar uma entrevista a Valadão na Tv Caju”. Este é o nosso João Firmino Cabral.
  
Foto e texto reproduzidos do blog: ventoseversos.blogspot
De: Priscila Silva.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 7 de janeiro/2013.

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