Infonet - Blogs - Ana Libório - Publicado em 15.09.2010.
Café Pequeno- Recordar é Viver...
Por Ana Libório.
O desmonte da favela e a transferência dos feirantes para o
novo prédio foi comparado à guerra de Kosovo(???). De nossa parte, proibidos de
acompanhar o processo, acreditamos fazer um trabalho de arqueologia urbana redescobrindo
um tesouro arquitetônico
Hoje, 15 de setembro, faz 10 anos da reinauguração dos
Mercados Antônio Franco e Thales Ferraz. Quanto tempo se passou e, ainda assim,
parece que foi ontem.
Lembro que numa das primeiras vezes que apresentamos o projeto,
na Câmara Municipal de Aracaju, um dos vereadores falou que o projeto era
lindo, porém um sonho. E foi mesmo.
Olhando para trás não acredito que aquilo tudo aconteceu.
Era como se estivéssemos imbuídos de uma missão. E eu acreditava tanto na
proposta que não tinha quem ou o quê me demovesse da ideia. Havia algo de
messiânico...
Para quem não conhece o Antônio Franco, o Thales Ferraz e o
Leite Neto eram os prédios que compunham o antigo mercado central de Aracaju.
Três prédios, três estilos arquitetônicos: um eclético (1926), um neocolonial
(1947) e o mais novo brutalista (aproximadamente 1980- foi demolido na obra),
emaranhados numa intricada rede de barracas de madeira e bancas de alvenaria
conformando uma favela que obstruía ruas, praças e calçadas.
A simbiose e continuidade espacial entre os três mercados e
as barracas era tamanha que constituíam um só organismo. Por sua vez os prédios
escuros, sem manutenção jogavam a feira na rua. Frutas e verduras eram vendidas
no chão, sobre lonas no meio-fio enlameado, conhecido como feira da pedra.
As barracas de camelôs instaladas nas vias públicas
obstruíam o trânsito e fecharam o comércio formal na área por anos a fio. Para
se ter uma ideia do caos urbano existiam prédios de dois andares construídos no
canteiro central das avenidas, margens do Rio Sergipe e no miolo dos mercados.
Pesquisas estimavam um universo de 9.000 pessoas por dia.
Segundo amigos um verdadeiro “set de cinema”. E os dois
prédios antigos, lindos, esquecidos, qual cinderela adormecidos e só
vislumbrados, aqui e ali, por olhares sensíveis. Talvez por isso tenham sido preservados.
A oportunidade de concretização da obra se deu com a
transferência do porto de Aracaju para Santo Amaro que nos permitiu reorganizar
a feira com a construção do mercado novo, edificado a partir do
reaproveitamento de antigos galpões portuários abandonados que foram
incorporados ao complexo.
O desmonte da favela e a transferência dos feirantes para o
novo prédio foi comparado à guerra de Kosovo(???). De nossa parte, proibidos de
acompanhar o processo, acreditamos fazer um trabalho de arqueologia urbana
redescobrindo um tesouro arquitetônico para a cidade que hoje se orgulha do seu
patrimônio histórico.
Do início do processo até a conclusão da obra foram mais dez
de anos de estudo, então podem fazer as contas. Arquitetura leva tempo!
Daquela época, além da certeza e entusiasmo, um temor da
ideia não vigar, virar folclore. Mas como dizia o Raulzito:
“- Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas
sonho que se sonha junto é realidade.”
Texto e fotos reproduzidas do site: infonet.com.br/analiborio
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 16 de Janeiro de 2013.
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