Publicado originalmente no site do Jornal do Dia, em
12/05/2015.
Pinduca - um débito a saldar, como dizia Luiz Antônio
Barreto
Por Raymundo Mello*
O sempre lembrado Pesquisador e Escritor Luiz Antônio
Barreto, em seu blog "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/Infonet"
(02/04/2005), registra: "Sergipe e Aracaju devem a Pinduca uma homenagem
que reconheça de público e agradeça a sua contribuição à arte e à cultura, e
especialmente, à música, e, mais especialmente ainda, à percussão, e que faça a
ponte entre Aracaju de ontem e as gerações de hoje, para que o artista
brilhante possa rever as paisagens da sua terra, onde certamente aprendeu o
ritmo, a ginga, a malícia, da música popular, tão expressiva em sua percussão,
nos grupos folclóricos que resistem, heroicamente, a tudo".
Quem é o 'Pinduca' que Luiz Antônio Barreto cita? É o
sergipano, nascido em Propriá em 03 de maio de 1926, e que já mostrou todo o
seu talento em Sergipe durante os anos que organizou e dirigiu a "Pinduca
Rádio Orquestra", composta pelo que havia de melhor entre instrumentistas
locais, a maioria integrantes da Banda de Música do 28.º BC. Ensaiavam, sob a
regência do Maestro Pinduca, em uma casa situada à rua Santa Luzia, entre as
ruas Maruim e Estância, ao lado da residência do então fotógrafo Walmir
Almeida.
Era empolgante, bonito de se ver, músicos experientes, com
larga folha de serviços prestados ao mister, coordenados pelo então jovem
maestro de 15 a 18 anos, que organizou sua orquestra baseado nas apresentações
cinematográficas e discos de cera-de-carnaúba das famosíssimas bandas de Glenn
Miller, Tommy Dorsey, Xavier Cugat e outras grandes figuras do cinema
americano. Componentes bem trajados, estantes bem organizadas e músicos de
prestígio como Mozart, Santana, Armando, Waldemar, Assis, Raimundo, Bodinho,
Cavalcante, Dema, Eronildes, Ivo e outros, todos pertencentes a bandas
militares (Exército e Polícia), além dos experientes civis Bonfim, Bissextino,
Carlito e José, percussionistas, e, ao piano, o Maestro Pinduca e seu irmão
Pinduquinha (Luiz e Antônio). Em paralelo, para 'pocket-shows', atuava então o
"Trio Serenade" - Pinduca (piano), Joãozinho (saxofone) e Bissextino
(bateria). Isso antes, muito antes, de 'Zimbo Trio', 'Tamba Trio' e muitos
outros de presença nacional.
Daqui, o Maestro Pinduca rumou para Salvador (BA) com sua
família, onde integrou-se à orquestra "Britinho e seu Stukas" como
pianista, maestro e arranjador, animando grandes clubes da 'boa terra', além de
participar das emissoras Rádio Excelsior, Rádio Sociedade e Rádio Cultura da
Bahia. Criou o conjunto musical que fundou a 'Boite Xangô' do então famosíssimo
'Hotel da Bahia' e até 1958, com João Mello, Margarida de Lima (cantora e
esposa do maestro), Codó, Bonfim, seus irmãos Joãozinho e Antônio e um
guitarrista havaiano que não lembro o nome, trabalharam e enriqueceram a área
artística e musical baiana que já estava sem Dorival Caymmi e Walter Levita que
também foram para o Rio de Janeiro.
O Maestro Luiz Almeida D'Anunciação, ou simplesmente
'Pinduca', é percussionista, concertista, autor, compositor, com formação nos
Seminários de Música da Universidade Federal da Bahia (1956 a 1959), fez
estudos de percussão na Universidade do Colorado, em Boulder, Estados Unidos.
Foi aluno de vibrafone de Phil Kraus, em Nova York, de marimba com José
Bethancourt, em Chicago, e estudou percussão cubana com José Helario Amat e
Lino Neiva Bethancourt, em Havana, 1996.
Pinduca preparou o 'naipe' de percussão da Orquestra
Sinfônica Brasileira nas excursões à Europa, Estados Unidos e Canadá, sob a
direção do Maestro Isaac Karabtchevsky, sem deixar suas funções de
Professor/Orientador na implantação do Curso de Percussão da Unidade Federal de
Santa Maria, no Rio Grande do Sul, depois de ser integrante, por 18 anos, do
elenco da TV Globo, como percussionista, arranjador e regente.
Autor do "Manual de Percussão", em 4 volumes,
divididos em 14 cadernos e 2 livros distribuídos em: Instrumentos da Rítmica
Brasileira (do Birimbau a Tambores de Percussão Direta); Técnica para
Instrumentos Barrafônicos; Estudos de Técnica para Caixa-clara; Técnica para os
Instrumentos da Percussão Complementar. Escreveu e lançou "Os Instrumentos
Típicos Brasileiros na Obra de Heitor Villa-Lobos".
Como compositor, Pinduca é autor de diversas peças,
destacando-se a 'Pequena Suíte para Vibrafone', 'Um Choro para Radamés
Gnattali' e várias outras peças que, como seus livros, correm o mundo em CDs.
É rica, muito rica, a biografia artística do sergipano
Pinduca, que já mostrou todo seu talento em Sergipe, no Brasil e no mundo.
Em 2005, esteve rapidamente aqui em Aracaju, veio prestigiar
o lançamento de livro 'João Ventura - Cidadão de Aracaju' de autoria do seu
amigo e companheiro de arte por tantos anos, João Mello, e, posteriormente,
veio lançar um seu trabalho e receber uma homenagem da SOFISE (Sociedade
Filarmônica de Sergipe).
Estão em débito com Luiz Almeida D'Anunciação - o Maestro
Pinduca -, o Estado de Sergipe, a cidade de Aracaju e a cidade de Propriá, que
não podem e não devem se furtar em homenagear tão importante figura artística,
divulgada no mundo inteiro.
Gente da Cultura, mãos a obra!!!
P.S. - Um fato pitoresco na vida artística do maestro: a
Orquestra "Britinho e seus Stukas", lá pelo final dos anos 50 foi
contratada para o 'baile de aniversário da Rainha da Inglaterra', no Clube
Inglês, em Salvador (BA). Ora, 'stukas' era o nome que identificava os aviões
alemães que fustigavam a Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, causando
grandes danos, com bombardeios indiscriminados. Lá pelo meio do baile, os
'Servos da Rainha da Inglaterra', após alguns whiskys a mais, resolveram atacar
a orquestra e partiram contra os músicos, que, aterrorizados, deixaram o salão,
às correrias, com seus instrumentos embaixo dos braços. Só o Maestro Pinduca
permaneceu no palco, protegendo seu instrumento (o piano de cauda) - não dava
para correr com ele embaixo do braço.
* Raymundo Mello é Memorialista
raymundopmello@yahoo.com.br
Texto reproduzido do site: jornaldodiase.com.br/noticias
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Imagem Pinduca, postada por MTéSERGIPE. Foto: acervo Luiz Antônio Barreto.
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 8 de janeiro de 2016.
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