Publicado originalmente no blogdesamarone, em 08/09/2013.
Saúde Pública em Sergipe (Parreiras Horta e Graccho
Cardoso).
Por Antônio Samarone.
Paulo de Figueiredo Parreiras Horta nasceu no dia 24 de
Janeiro de 1884, na cidade do Rio de Janeiro. Filho do engenheiro Dr. José
Freire Parreiras Horta e de Paula Margarida de Figueiredo Parreiras Horta e
veio a falecer na mesma cidade, em 29 de julho de 1961.
Formado em farmácia em 1903, pela Faculdade de Farmácia do
Rio de Janeiro, posteriormente graduou-se em medicina, com a tese
"Contribuição para o Estudo das Septicemias Hemorrágicas", na cadeira
de Bacteriologia, defendida em 21 de janeiro de 1905, tendo sido aprovado com distinção.
O Dr. Parreiras Horta viveu sob a influência das idéias
prevalecentes da época, oriundas do Velho Continente, principalmente da França,
em que a medicina deveria ser conduzida por conceitos fisiopatológicos. O termo
fisiopatologia, o estudo das doenças fundamentada na fisiologia, deve tudo a
Claude Bernard, que criou a medicina experimental. O mundo, entre o final do
século XIX e a 2ª Guerra Mundial, viveu a crença que a ciência e a medicina,
através das pesquisas e da benemerência, legariam à humanidade um futuro
venturoso, rico e saudável. As palavras e o espírito de pesquisador de Claude
Bernard na "Introduction à le étude de la médicine experimentale", em
1865, constituía-se inspiração para os jovens médicos, quando ensinava,
categoricamente: "A inspiração dos médicos que não se esteiam na ciência
experimental é só fantasia, e é em nome da ciência e da humanidade que devemos
reprová-la e baní-la".
O lugar ideal para suas aspirações seria o pequeno centro da
ciência. O Instituto Manguinhos, criado e dirigido por Oswaldo Cruz, recebeu os
interessados em pesquisa. Muitos deles ainda estudantes, como o caso Parreiras
Horta, desejavam elaborar suas teses de final de curso, sobre assuntos
originais no campo da hematologia, sorologia, bacteriologia, parasitologia,
anatomia patológica, entomologia, que até 1906, eram os trabalhos mais
desenvolvidos na Instituição. Outros médicos vinham em busca de conhecimentos
especializados sobre a medicina experimental, ou em busca do conhecimento
necessário para prestação de concursos no campo da Saúde Pública, especialidade
médica que começava a se tornar importante no meio médico.
Parreiras Horta, desejoso de seguir a carreira de
pesquisador, em 1904, último ano do seu curso de Medicina, procurou o Instituto
Manguinhos. Entre 1906 e 1907, fez o Curso de Especialização em Microbiologia
no Instituto Pasteur, em Paris. Através de portaria datada de 30 de agosto de
1909, foi nomeado para exercer o cargo de Assistente do Instituto de
Manguinhos, em substituição ao Dr. Henrique de Figueiredo Vasconcelos. Admitido
no Instituto como pesquisador, a convite do Prof. Oswaldo Cruz, passou a
desenvolver seus trabalhos no campo da bacteriologia e da dermatologia.
A partir de 01/10/1911, foi contratado como Assistente do
Instituto, ficando por pouco tempo, pois em 08/03/1912, a seu pedido, foi
exonerado do cargo por ter sido nomeado Chefe da Secção Técnica da Diretoria
Geral do Serviço de Veterinária do Ministério da Agricultura, Indústria e
Comércio. Em 1917 foi nomeado professor catedrático de Microbiologia e
Parasitologia dos Animais Domésticos, da Escola Superior de Agricultura e
Medicina Veterinária, do Rio de Janeiro.
Em 1919 exerceu o cargo de Diretor da Escola Superior de
Agricultura e Medicina Veterinária e integrou o corpo clínico da Policlínica
Geral do Rio de Janeiro, trabalhando no Serviço de Dermatologia e Sifiligrafia,
onde sucedeu ao Dr. Werneck Machado e foi substituído pelo Dr. Ramos e Silva.
Tornou-se grande amigo do Dr. Maurício Graccho Cardoso e
este, quando estava no Rio de Janeiro, freqüentemente se encontrava com o Dr.
Parreiras Horta para trocar idéias. Foi esta amizade, além do seu espírito
empreendedor, que o fez vir a Sergipe em 1923 e aceitar o desafio de construir
e fundar o Instituto Parreiras Horta, o primeiro no gênero a ser criado no
norte e nordeste do país. Foi uma mudança que mobilizou toda a sua família,
pois trouxe com ele sua esposa Ruth e seis filhos pequenos, deixando em Petrópolis
apenas Paula e Carlos, que estavam estudando.
Em Aracaju, dedicou-se com empenho na fundação do Instituto
Parreiras Horta, instituição que foi criada através da Lei nº 836 de 14 de
novembro de 1922, destinada a completar a nova estrutura de Saúde Pública
estadual. Foi responsável por toda a concepção arquitetônica e organização
funcional da nova entidade, acompanhando diariamente a construção do prédio,
tijolo por tijolo, localizado no mesmo lugar onde ainda hoje presta serviços à
comunidade sergipana.
O Instituto tinha como finalidades principais a produção de
insumos básicos, combater a raiva, produzir a vacina anti-variólica, possuía
laboratório de análise clínica, bacteriológica e química, além de funcionar
também como um centro de pesquisas médicas. O início da construção, em 23 de
julho de 1923, repercutiu favoravelmente no meio médico e na sociedade
sergipana, porque através da sua capacidade científica, poderia contribuir para
esclarecer as chamadas "febres de Aracaju", como também contribuiria
decisivamente para elevar o padrão do atendimento da saúde da população,
através dos exames de laboratório, contribuindo concretamente para o exercício
da medicina científica em Sergipe.
O Instituto foi inaugurado em 05 de maio de 1924, em dia
festivo, com a presença do Governador Graccho Cardoso, do Dr. Parreiras Horta e
de diversas autoridades e funcionários públicos. Em dezembro de 1925, o Dr.
Parreiras Horta, terminada mais uma das suas bem sucedidas missões, tendo
contribuído decisivamente para o desenvolvimento da prática médica e a
implantação da medicina científica em Sergipe, retorna ao Rio de Janeiro,
deixando em seu lugar como diretor da nova instituição, o médico Dr. João Firpo
Filho.
Texto e imagem reproduzidos do blogdesamarone.blogspot.com.br
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de julho de 2015.
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