quarta-feira, 28 de março de 2012

No tempo do vídeo cassete, Ana Valença era uma fada.

No tempo do vídeo cassete, Ana Valença era uma fada. 
Ela tinha a varinha mágica para nos transportar ao universo espetacular do cinema, às paisagens deslumbrantes da sétima arte e ao extraordinário universo onírico que o cinema nos propunha, tanto para o nosso auto-conhecimento quanto para a nossa danação filosófica. 
A locadora de Ana Valença era um templo moderno, cheio de estantes abarrotadas de vídeos escolhidos pela sagacidade do seu marido, Ivan Valença, de uma universalidade incontestável . 
Ana era a senhora das ricas prateleiras na lojinha de cinema de Ivan Valença, ali perto da Praça da Imprensa . Chegando lá, era Dona Ana que nos conduzia às melhores delícias e era ela quem mandava anotar quanto tempo poderíamos curtir o filme alugado.
Muitas vezes peguei uma porção de fitas por mero respeito à importância delas, mas em casa, fissurado no “O Clone”, me esquecia de vê-las. Até porque, sempre precisei de ajuda para lidar com as conjuminâncias do aparelho vídeo-cassete, tabaréu que sempre fui, com dedos rombudos para tecados tão minúsculos, ou pela absoluta indiferença que sempre nutri aos efeitos do Enter ou do Plus.
Eu fui criado arredondando botões num rádio de pilha, para acessar a estação radiofônica que queria. 
Acho que Ana entendia isto porque não me cobrava tanto pela demora. Quando eu voltava lá, doido pela maravilha de um filme novo,ou pela sua interessante conversa, ela assumia o prejuízo da minha inadequação e sempre me enchia de novas preciosidades. 
Eu voltava para casa decidido a entender, definitivamente, de cinema. Tanto quando o seu marido Ivan Valença, nosso ídolo. Claro que eu nunca consegui, mas vi bons filmes indicados por Ana.
Devolvo amanhã “A Última Loucura de Mel Brooks” que tanto me serviu para entender a comédia. Pode me cobrar o quanto quiser pela demora. Eu juro que valeu á pena. 
Sou devedor.


Amaral Cavalcante

Postagem original na página do Facebook em 27 de março de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário