Publicado originalmente no Facebook/Lygia Prudente, em
04/05/2015.
Cadernos (especiais) de Receitas.
Por Lygia Prudente.
Outro dia, arrumando meu “baú” de lembranças, cheguei a uns
antigos cadernos, amarelados pelo tempo. Eram livros de receitas, da minha mãe
e da minha sogra. Folheá-los, trouxe à tona, lembranças que acalentaram o meu
coração, com ricos registros, escritos à mão, traçados e imortalizados. Agora,
por conta do clima comercialmente explorado, com a proximidade do Dia das Mães,
volto no tempo e até sinto a presença forte das duas, cuja convivência deixou
marcas e ensinamentos profundos e colocados em prática diariamente.
Interessante imaginar que simples cadernos guardam histórias, lembranças e
tradições, através de anotações de uma receita especial, com o carinho e a criatividade
muito pessoal de cada uma delas, que puderam provar tudo isso com o toque
especial que transformava uma simples receita em pratos divinos. A minha mãe,
enquanto teve saúde, abria o livro sobre a mesa da cozinha e começava a
inventar receitas nos finais de semana. Ela juntava os ingredientes numa
desenvoltura - adicionava o açúcar, leite, manteiga - e voltava a olhar o
livro, e da receita escolhida, surgiam receitas diversas, porque ela ia criando
e substituindo ingredientes quando não tinha na dispensa algum recomendado no
livro. Eu, sentada à mesa da cozinha, ficava observando a concentração no
trabalho executado com tanta segurança, e aguardava ansiosa, para comer o que
restava da massa de bolo crua... até que chegassem meus irmãos com o quais eu
dividia sempre. E assim, surgiam bolos, doces-de-leite, pastéis, molhos... de
tudo um pouco. Sinto ainda o cheirinho bom que dominava a casa enquanto o fogão
cumpria o seu papel de bom grado: dali surgiam obras de arte como a famosa
torta gelada, os deliciosos e inigualáveis cigarretes. Tínhamos uma outra
cozinha, separada do corpo da casa, na qual os quitutes eram feitos. Nela
haviam dois fogões: um a gás e outro à lenha. Verdade. E, para completar, havia
também um tacho grande, de cobre, onde eram feitos os doces batidos de goiaba,
colhidas das cinco goiabeiras do nosso quintal. Nossa... como é bom lembrar.
Junto à lembrança “viva” da minha mãe, vem também a das minhas avós. Nenete, a
quem visitávamos diariamente com o meu pai e que sempre tinha guloseimas,
feitas por ela, a oferecer aos netos – doce de leite, de goiaba, de banana, de
bolas de queijo e assim vai. Lucila, avó pelo lado materno, morava em Salvador,
mas vez por outra estava aqui, cuidando de armazenar a casa dos doces batidos
de goiaba, que tanto gostava de fazer no tal tacho de cobre. Como se não
bastasse, a minha sogra era “cozinheira de mão cheia” e doceira fina. Com ela
aperfeiçoei as minhas ideias criativas na cozinha e reforcei os ensinamentos e
as observações culinárias da minha infância. Dessa fase, ficaram as balas de
leite condensado – as tais balivas (balas de Maria Aliva – esse era o seu
nome), os sonhos de valsa completamente caseiros, sorvete de guaraná, e tantas
outras receitas. Constato hoje, que o prazer que tenho pela cozinha tem razão
de ser, e, com certeza, essas histórias se perpetuarão com Simone – minha
filha, e Elaine – minha nora. Incontestavelmente, com as lembranças vêm os
aromas e consigo sentir os cheiros dessas experiências na minha infância e
adolescência. Por conta dos Cadernos de Receitas que guardei dessas adoráveis
mulheres, e do que eles suscitaram, decidi assim, homenageá-las pelo papel
dignificante que sempre exerceram como Mães e o legado que deixaram para os
seus filhos, netos e gerações futuras. A felicidade é nossa de tê-las como Avós
e Mães.
Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lygia Prudente.
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 5 de maio de 2015.
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