(Historinhas sergipanas)
A ameaça da Luftwaffe
A Polônia, primeiro pais vítima do maluco do Hitler na sua
obsessão pelo trono do mundo, comeu o pão que o diabo amassou com os
bombardeios da Luftwaffe. Ficaram os poloneses de então condicionados a
procurar um abrigo anti aéreo, assim que ouvissem o estridor das sirenes. Vocês
devem conhecer esta história, mas como foi que, muito após a guerra, veio o
derrotado esquadrão aéreo do Terceiro Heich perturbar a paz dos sergipanos?
Pois eu conto:
O ex deputado federal José Carlos Teixeira, fundador da
Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, gozava de grande cartaz no governo
central e no ambiente cultural do Rio de Janeiro, onde mantinha relações de
amizade com artistas do teatro e da música erudita. O suficiente para incluir o
Teatro Atheneu no roteiro das atrações internacionais que percorriam o país, em
tournées patrocinadas pelo Ministério das Relações Exteriores. Foi um tempo
áureo para o Atheneu, abrigando em seu palco grandes companhias de artes
cênicas e seletos recitais com músicos mundialmente famosos..
Este é o caso de um pianista polonês de nome complicado -
cheio de consoantes e ipissilones – que aqui chegou precedido de grande
estalhardaço na mídia local. A nata social e administrativa compareceu em peso
com seus trajes mais sedosos e suas jóias mais coruscantes, seus sapatos
altíssimos compradios na loja Denier Cri. .
No centro do palco, sob a luz divinal de um estratégico
refletor, brilhava majestosa a jóia da nossa coroa: o precioso piano Steinwey
de meia cauda com fama de melhor do mundo, adquirido graças a um Livro de Ouro
habilmente passado pelos fundadores da SCAS entre os ricos da época. Este
piano, ainda hoje em uso, provocava upas e bravos dos músicos visitantes que
não esperavam encontrar, por aqui, tão excepcional instrumento.
Batido o bastão o pianista entrou com escovada casaca e
alvos punhos de renda. Frisson! O recital ia começar. Mas eis que, cumprindo a
mais corriqueira tradição do Colégio Atheneu, o bedél Manelzinho acionou a
estridente sirene que anunciava o final da última aula. Hóóóómmmmm!
O polonês ficou lívido. Olhou pro teto, balbuciou alguns
vocábulos ininteligíveis e se jogou pra debaixo do piano, tremendo como vara
verde.
O público não entendeu o que se passava no palco, mas todo
mundo intuiu que algo estarrecedor estava prestes a acontecer, ameaçando, não
somente o esperado deleite artístico como a segura tranqüilidade das melhores
famílias sergipanas.
Precisou que o professor João Costa, homem de aguçado
raciocínio e fleuma quase britânica, tomasse as rédeas da situação e nos
explicasse, usando sua técnica irretocável de impostação vocal, que ocorrera
ali uma demonstração tardia de trauma de guerra. Que o virtuose, ao ouvir a
sirene, sentiu-se sob um bombardeio iminente da Lufetwaffe e que isso era
normal entre os poloneses testemunhas da segunda guerra .
Ninguém contava era com a sirene de Manelzinho para
aterrorizar o grande recital.
O pianista polonês foi devolvido ao hotel, ainda catando
nica.
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 31 de janeiro de 2015.
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