Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite (Hospital de Cirurgia).
Foto reproduzida do blog antiguidadecolecoeseartes.blogspot, de Waldemar Neto.
Publicado originalmente no Facebook/Petrônio Gomes, em
2/02/2015.
Ingratidão.
Por Petrônio Gomes.
Como quase todos os recantos tradicionais da cidade, a velha
Avenida Barão de Maruim já foi desfigurada pela sucessão interminável de
reformas das antigas residências, transformadas, agora, em sedes de repartições
públicas ou de empresas comerciais. Mas tenho a meu favor as lembranças
guardadas em decênios, e não podemos deter a marcha também incessante dos
pensamentos.
Não posso deixar de lamentar, em silêncio, o desaparecimento
da vetusta mansão do Dr. Augusto Leite, logo no início da Avenida. Era um dos
marcos da cidade-província, erguida na confluência mais nobre da cidade, hoje
desaparecida. Em seu lugar, a Caixa Econômica construiu uma espécie de barracão
enfeitado, que poderá servir para qualquer coisa no futuro, pois já nasceu sem
graça.
A Avenida Barão de Maruim era também o endereço de alguns
dos nossos professores do passado, como o professor Misael Viana, com quem
jamais consegui aprender suas famosas equações de primeiro e segundo graus.
Morava na esquina com a rua de Santa Luzia e sua casa também já não existe.
O célebre “poeta da rosa vermelha”, o Professor Arthur
Fortes, também residia na Avenida, lado esquerdo de quem vem da Praça Camerino,
e sua casa ainda existe. Naqueles anos, as residências da moda eram os
“bangalôs”, com um jardinzinho na entrada e uma pequena escada que nos conduzia
a um terraço acolhedor. Arthur Fortes era um dos mestres de História e gostava
de ensinar com traços de declamação, sem fitar a classe, olhando pela janela
qualquer ponto indefinido.
João de Araújo Monteiro também residia por aqui, na casa
número 133, lado esquerdo. Quando voltei para Aracaju, ele ainda residia na
Avenida, o famoso “Monteirinho”. Parece-me que ocupou, certa vez, um cargo de
Secretário do Estado, precisamente na época em que eu me encontrava afastado
daqui.
Era, portanto, a artéria das mansões, das residências que
tinham vastos cômodos e quintais com pomares. Depois da Praça da Bandeira,
avistávamos o “sítio do doutor Leandro Maciel”, uma espécie de casa de campo,
construída no meio de um terreno que ocupava toda a quadra. Ali se reuniam os
políticos que militavam no mesmo partido do doutor Maciel, mais tarde
governador do Estado.
E, precisamente em frente ao sítio do doutor Leandro, o
grande Hospital das Clínicas , o famoso “Hospital de Cirurgia”, um nome que,
por si apenas, conta a história de uma cidade-criança! Pois não havia outro
lugar onde se pudesse efetuar uma simples intervenção cirúrgica. Ora, dizer que
em um hospital se pode fazer uma operação é o mesmo que aplaudir um relógio que
funciona. Quando eu era criança, a gente recebia de presente uns relógios de
enfeite. E a primeira pergunta que o outro menino fazia era: “Seu relógio
trabalha?”...
Todos que passassem por ali, deveriam render uma homenagem
em respeito ao velho nosocômio, uma dádiva impagável do Dr. Augusto César Leite
ao Estado de Sergipe. Quantos dramas se desenrolaram no interior de suas
paredes cinzentas, quantos ‘ais’ se perderam na vastidão silenciosa dos seus
corredores! Mas também quantos soluços incontidos de felicidade pela vitória
conseguida sobre tantos males?
É incrível que até mesmo sua obra imortal tenha um nome
popular que mais parece um apelido, pois quase ninguém menciona o nome de Dr.
Augusto César Leite.
E aqui fico a pensar: Por que não existe na cidade uma rua,
uma avenida, com o nome do grande benemérito de Sergipe?
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Petrônio Gomes.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de fevereiro de 2015.
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