terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Ingratidão

Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite (Hospital de Cirurgia).
Foto reproduzida do blog antiguidadecolecoeseartes.blogspot, de Waldemar Neto.

Publicado originalmente no Facebook/Petrônio Gomes, em 2/02/2015.

Ingratidão.
Por Petrônio Gomes.

Como quase todos os recantos tradicionais da cidade, a velha Avenida Barão de Maruim já foi desfigurada pela sucessão interminável de reformas das antigas residências, transformadas, agora, em sedes de repartições públicas ou de empresas comerciais. Mas tenho a meu favor as lembranças guardadas em decênios, e não podemos deter a marcha também incessante dos pensamentos.

Não posso deixar de lamentar, em silêncio, o desaparecimento da vetusta mansão do Dr. Augusto Leite, logo no início da Avenida. Era um dos marcos da cidade-província, erguida na confluência mais nobre da cidade, hoje desaparecida. Em seu lugar, a Caixa Econômica construiu uma espécie de barracão enfeitado, que poderá servir para qualquer coisa no futuro, pois já nasceu sem graça.

A Avenida Barão de Maruim era também o endereço de alguns dos nossos professores do passado, como o professor Misael Viana, com quem jamais consegui aprender suas famosas equações de primeiro e segundo graus. Morava na esquina com a rua de Santa Luzia e sua casa também já não existe.

O célebre “poeta da rosa vermelha”, o Professor Arthur Fortes, também residia na Avenida, lado esquerdo de quem vem da Praça Camerino, e sua casa ainda existe. Naqueles anos, as residências da moda eram os “bangalôs”, com um jardinzinho na entrada e uma pequena escada que nos conduzia a um terraço acolhedor. Arthur Fortes era um dos mestres de História e gostava de ensinar com traços de declamação, sem fitar a classe, olhando pela janela qualquer ponto indefinido.

João de Araújo Monteiro também residia por aqui, na casa número 133, lado esquerdo. Quando voltei para Aracaju, ele ainda residia na Avenida, o famoso “Monteirinho”. Parece-me que ocupou, certa vez, um cargo de Secretário do Estado, precisamente na época em que eu me encontrava afastado daqui.

Era, portanto, a artéria das mansões, das residências que tinham vastos cômodos e quintais com pomares. Depois da Praça da Bandeira, avistávamos o “sítio do doutor Leandro Maciel”, uma espécie de casa de campo, construída no meio de um terreno que ocupava toda a quadra. Ali se reuniam os políticos que militavam no mesmo partido do doutor Maciel, mais tarde governador do Estado.

E, precisamente em frente ao sítio do doutor Leandro, o grande Hospital das Clínicas , o famoso “Hospital de Cirurgia”, um nome que, por si apenas, conta a história de uma cidade-criança! Pois não havia outro lugar onde se pudesse efetuar uma simples intervenção cirúrgica. Ora, dizer que em um hospital se pode fazer uma operação é o mesmo que aplaudir um relógio que funciona. Quando eu era criança, a gente recebia de presente uns relógios de enfeite. E a primeira pergunta que o outro menino fazia era: “Seu relógio trabalha?”...

Todos que passassem por ali, deveriam render uma homenagem em respeito ao velho nosocômio, uma dádiva impagável do Dr. Augusto César Leite ao Estado de Sergipe. Quantos dramas se desenrolaram no interior de suas paredes cinzentas, quantos ‘ais’ se perderam na vastidão silenciosa dos seus corredores! Mas também quantos soluços incontidos de felicidade pela vitória conseguida sobre tantos males?

É incrível que até mesmo sua obra imortal tenha um nome popular que mais parece um apelido, pois quase ninguém menciona o nome de Dr. Augusto César Leite.

E aqui fico a pensar: Por que não existe na cidade uma rua, uma avenida, com o nome do grande benemérito de Sergipe?

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Petrônio Gomes.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de fevereiro de 2015.

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