Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 07/06/2006.
Dia da Inteligência Sergipana.
Por Luiz Antônio Barreto.
O dia 7 de junho tem um significado especial para Sergipe e
para a inteligência sergipana, pois nasceu, na então Vila de Campos dos Sertões
do Rio Real, Tobias Barreto de Menezes, em 1839. Crescido como típico menino
sergipano, sem escolas, teve professores que cinzelaram o seu talento,
preparando-o para a vida clerical. Bem que tentou, no Seminário da Bahia, em
Salvador, aonde chegou em 1861, portando a fama de conhecer e ensinar a língua
latina, na sua Província. Mas, fez opção por Pernambuco, e mais especificamente
pela Faculdade de Direito do Recife, aportando ali em 1862 e logo dedicando um
poema – A Vista do Recife –, aos feitos pernambucanos em favor da liberdade,
evocando nomes caros à tradição ideológica do Brasil.
No Recife, Tobias Barreto liderou um grupo de jovens, muitos
seus conterrâneos, alguns de outras Províncias, todos engajados na elaboração
de um programa intelectual que não apenas passasse a limpo a vida brasileira,
mas que pudesse debater os temas que então interessavam o mundo civilizado.
Pequenos jornais passaram a publicar textos, em prosa e em verso, atualizando a
estética literária, ao tempo em que começaram a tratar de temas e sistemas
filosóficos. Silvio Romero, personagem e autor, disse com ênfase apaixonada,
que “Um bando de idéias novas esvoaçou sobre nós de todos os pontos do
horizonte, Positivismo, Evolucionismo, Darwinismo, crítica religiosa,
naturalismo, cientificismo na poesia e no romance, folclore, novos processos de
crítica e de história literária, transformação da intuição do Direito e da
política, tudo então se agitou e o brado de alarme partiu da Escola do Recife.
Tobias foi o mais esforçado combatente, com o senso de visão rápida de que era
dotado.”
A biografia intelectual de Tobias Barreto em Pernambuco tem
três partes principais: uma no Recife, entre os tempos de estudante, a redação
de O Americano e outros jornais, e que vai de 1862 a 1871, a segunda em Escada,
como advogado, político e escritor, período que vai de 1871 a 1881 e a terceira
parte, a do seu retorno ao Recife (1881), Concurso para a Faculdade de Direito
(1882) e até a sua morte, em 26 de junho de 1889. Cada período tem importância
especial, e concorre para a coerência de uma contribuição pluralizada pelo
interesse que ele tinha pela cultura humana. No Brasil do seu tempo ninguém
aprofundou tanto o olhar crítico sobre a realidade nacional.
Vários jornais recifenses atestam em suas páginas a
qualidade do intelectual e suas abordagens sobre a política brasileira, por
exemplo, que se constitui numa reflexão única, desprovida do ranço politiqueiro
e partidário, tão em voga no Brasil. Ao tempo em que crava, com vigor, sua
crítica, Tobias Barreto expõe às gerações de modernistas presentes no Recife, o
trato preconceituoso que
recebeu quando candidatou-se a uma cadeira de professor no
Colégio das Artes, preparatório para o Curso Jurídico. Seus escritos provocam
reações e logo os temas se tornam polêmicos, chamando ao centro da luta os
intelectuais católicos, liderados por José Soriano de Souza.
Em Escada, Tobias Barreto parecia alicerçado para elaborar a
sua participação intelectual. Criou, redigiu e editou vários pequenos jornais –
O Desabuso, O Escadense, Contra a Hipocrisia, Um Sinal dos Tempos, o primeiro
deles – com os quais fustigava a classe dominante. Dentre suas publicações
estão o jornal Deutscher Kaempfer, todo escrito em língua alemã, e a revista
Estudos Alemães, editada em português, mas com temática germânica.
Ainda em Escada, Tobias Barreto é eleito deputado
provincial, pelo Partido Liberal, tendo uma atuação brilhante, como atestam os
seus discursos sobre a educação da mulher. Também em Escada ele preparou e
publicou livros importantes, como Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica
(1875), as duas monografias em alemão (1876 e 1878), Um Discurso em Mangas de
Camisa (1879), Algumas Idéias sobre o Chamado Fundamento do Direito de Punir
(1881). E foi, ainda em Escada, que ele teve a casa cercada, o que gerou sua
volta ao Recife.
No Recife, desde o Concurso para a Faculdade de Direito, que
Tobias Barreto coroa a sua atuação intelectual e consagra a sua biografia. Seus
últimos sete anos de vida são gloriosos, ainda que seus desafetos, porque mais
que críticos, lancem as mais infames provocações, ele colhe no estrangeiro os
louvores mais sinceros de figuras referenciais da cultura. Com sua morte,
cercado da família, dos amigos e dos admiradores, o Recife perde parte do seu
encanto, Pernambuco herda o exemplo do seu engajamento nas mais santas causas,
o Brasil lamenta e chora e Sergipe, seu pequeno berço, guarda o tesouro
inesgotável de sua inteligência, da qual, ainda hoje, somos beneficiários.
O dia 7 de junho deveria ser, de toda justiça, consagrado à
cultura, como o Dia da Inteligência Sergipana, na lição exemplar de Tobias
Barreto de Menezes.
Texto e imagem reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 24 de fevereiro de 2015.
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