Publicado pelo Blog "Cajueiros e Papagaios".
De Grace Melo, em 21 de Junho de 2010
Para Paulo, um Réquiem e uma Ode à alegria.
Vivemos, e, se não bastasse o tempo que vai marcando a
contagem regressiva até o dia do encontro inevitável com aquela inexorável e
ceifadeira senhora, morremos também, quando pessoas a quem amamos se vão indo,
e, certamente, levam pedaços do que somos, parcela daquilo que o ser humano não
consegue construir sozinho, porque é o resultado dos sentimentos
compartilhados: alegria, tristeza, esperança, coragem, decepção, solidariedade.
Esses fiapos da existência, que a amizade, a convivência, ajudam a juntar.
Assim, o ser humano não é o eu isolado, sozinho, mas,
certamente, o resultado somado daqueles fiapos recolhidos. Há pessoas que
passam pela vida tendo a extraordinária capacidade de distribuir esses pedaços,
que se vão juntar a outras pessoas. Por isso, quando partem, se tornam mais
pranteadas, tornam a sua ausência mais sentida.
Paulo Barbosa de Araújo foi uma dessas pessoas, e os pedaços
de coragem, de esperança, de dignidade, de solidariedade, que ele deixou em
cada amigo, ainda mais forte na sua mulher Osa, nos seus filhos Paulo Mário e
George, tornam a sua passagem pela vida, a faina incansável de um semeador.
Houve um golpe em Botswana, no Malavi, na Croácia, na
Bósnia?
Paulo ficava a preocupar-se. Estariam respeitando os direito
humanos? Seriam repressores os novos donos do poder?
A distância dos fatos não lhe diminuía a preocupação, aquele
sentimento solidário de um humanista que se comovia e se indignava com a
injustiça e a dor, onde elas estivessem. As suas fronteiras eram globalizantes
para o humanismo e também, rigorosamente restritas, no seu nacionalismo de
brasileiro, que sonhou, desde a década cinquenta, um país construído com a
dignade da soberania e solidariedade indispensável da justiça social. Sofreu
por isso, continuava sofrendo agora, diante do festim de crápulas em que se vai
transformando a vida pública brasileira.
Um dos pedaços que Paulo Barbosa de Araújo deixou engastados
hoje naqueles que o conheceram, foi, sobretudo, a sua crença em um mundo
melhor, por isso, foi solidário, por isso, lutou, como jornalista, como
professor, como economista, como servidor público, como ser humano, que, em
meio a todas as decepções, dificuldades, nunca perdeu a grande alegria de
viver.
Quase no fim, plantava árvores, terminava de escrever um
livro.
Para Paulo, não basta um réquiem, cantemos, também, a Ode a
Alegria, aquele final feérico da Nona de Beethoven que é esperança, força,
jubilo, reafirmação da vida.
Luiz Eduardo Costa - Jornalista
(Publicado no Jornal da Cidade em 16/01/2000 e no livro
Petróleo: Porque Sabotado?)
Texto reproduzido aqui do blog: cajueirosepapagaios.zip.net/
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 8 de junho de 2013.
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