Publicado originalmente no Facebook/Lúcio Prado Dias.
Ano passado terminou um ciclo, o do Studium Danças, agora, o
que fica?
Tributo a Lu Spinelli.
Por Lúcio Prado Dias.
Escrevi o texto ano passado, quando a coreógrafa e dançarina
Lu Spineli anunciou o fim do Studium Danças. Agora, um ano depois, estupefato,
recebo a notícia de sua morte. O que me pareceu sensato naquele momento,
refletir sobre a noticia inesperada me impulsiona a republicá-lo, sob o impacto
da comoção da perda.
Sergipe, pelas suas artes, deve muito a Lu Spinelli, pelo
pioneirismo e pela coragem de enfrentar, na década de 70, uma sociedade
extremamente preconceituosa. Naquela época, Aracaju era uma província
desprovida de cultura e arte, poucas pessoas, na vanguarda dos acontecimentos,
ousavam inovar, quebrar tabus. Ela não só inovou como revolucionou o ensino da
dança em nossa cidade, enfrentando toda sorte de dificuldades, sem perder a
disposição, a coragem, a garra e a determinação, para fazer o que sempre
acreditou: uma dança contemporânea sintonizada com as grandes companhias de
dança do país.
Tempos difíceis, matrículas escassas, a sociedade não via
com bons olhos colocar suas jovens filhas na Academia de Lu! Moramos vizinhos
por muito tempo na Rua da Frente ( Ivo do Prado ) e convivemos momentos
marcantes da sua escola e de sua vida pessoal. As inconstâncias de João Marcos,
seu esposo, porque não dizer do casal, a participação nos festivais de Dança
Contemporânea e no inesquecível Festival de Arte de São Cristóvão, em várias
edições.
E esse meu interesse não era por acaso, afinal as moças mais
bonitas e charmosas da cidade eram suas alunas, uma delas, Cristina, viria mais
tarde a ser minha esposa. E a saga continuou com Marcela, minha filha, que
desde pequenina, com 5 anos, já era sua aluna e ainda hoje, passados tantos
anos, continua fazendo parte do seu staff.
Lembro-me de um episódio, eu estudante de Medicina,
auxiliando a Academia nos cuidados de saúde da turma que se apresentaria numa
das edições do FASC e o principal bailarino, Edmilson Barreto, tivera uma
entorse de tornozelo na véspera da apresentação. Valendo-me dos conhecimentos,
não hesitei em lhe aplicar uma infiltração medicamentosa na região afetada,
comum a época, o que lhe deu condições de dançar naquele momento.
Sim, Lu Spinelli se foi, mas todos nós continuaremos sendo
os seus alunos. Com ela aprendemos lições de coragem, fibra e tenacidade.
Recordo muito bem da sua luta para termos um teatro de verdade, com estrutura
adequada para a dança. O único da cidade, o Atheneu, passou anos pra ser
reformado e não havia mais espaços adequados para apresentação dos festivais.
Foi uma luta intensa, árdua, demorada, agravada pela insensibilidade dos
governantes. Palcos, cenários e sons tiveram de ser improvisados, mas Lu, em
momento algum claudicou. Ao contrário! No Conselho Estadual de Cultura, era voz
firme, às vezes contundente, na defesa da arte da dança. Seu jeito afirmativo
de ser, muitas vezes não era bem compreendido e por outras, fortemente
contestado. Assim era Lu!
Ano passado terminou um ciclo, o do Studium Danças, hoje ela
se vai mas seu brilho permanecerá sempre muito forte entre nós.
Lu Spinelli será sempre uma vencedora! Descanse em paz!
Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de novembro de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário