Publicado originalmente no blog Jornal de Sergipe, em
agosto/2013.
Edição especial: Lu Spinelli a pioneira da dança
contemporânea em SE.
Por Rodrigo Alves.
Em meio ao mercado de trabalho, imperam as profissões mais
convencionais, porém, o que seria da história de um povo sem os operários da
arte? É na classe empregatícia de coreógrafa que Lu Spinelli se enquadra.
Baiana radicada em Aracaju, tornou-se pioneira na introdução da dança moderna e
contemporânea em Sergipe há 43 anos, e ainda permanece na ativa com a escola
Studium Danças e a realização de festivais anuais.
Regina Lúcia Matos Spinelli começou aos quatro anos no
teatro infantil em Salvador, cidade onde nasceu, interpretando a personagem
Emília, da obra do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, pela qual
recebeu um prêmio da própria filha do autor. Mas logo percebeu que as artes
cênicas não lhe completavam. Ao seis anos, começou a fazer escola de dança na
Universidade Federal da Bahia, na época dirigida pelo primeiro reitor negro,
Edgar Santos,que trouxe alemães para montar uma escola livre de dança, teatro e
belas artes, em extensão à comunidade. Nesta fase, Lucia obteve um rico
aprendizado com grandes nomes da dança, como Claus Viana, Rolf Gelewski, Lia
Robato, Dulce Aquino, entre outros.
Inquieta, Spinelli passava férias fazendo cursos de verão
referentes à sua área, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Anos mais tarde,
estudou expressionismo alemão em Essen, na Alemanha. A modalidade dança
contemporânea foi a que mais lhe chamou a atenção, e a bailarina passou a
estudar o tema profundamente em São Paulo com Renée Gumiel, uma francesa
considerada a precursora da dança moderna no Brasil.
Através do primo Júlio Vilan, a bailarina teve a
oportunidade de conhecer renomados coreógrafos como JC Violla e Ivaldo
Bertazzo. Passoua trabalhar no Ballet Stagium, na capital paulista, sendo
empresária para a região Nordeste durante 20 anos. Como Aracaju ainda não tinha
uma escola com foco nestas modalidades da dança, Lucia resolveu montar o
Studium Danças e trouxe muitos amigos de lugares por onde passou para ajudar a
compor o projeto.
“Surgiu em 1971, cumpriu seu papel como escola, formando
pessoal e colocando no mercado mesmo que restrito. Intercambiou ações
culturais, cursos, espetáculos com outros estados e países, esteve presente em
todos os eventos de relevância no país. Fundou um grupo amador que depois
oficializou-se para profissional o qual representou Sergipe a convite de vários
eventos, também faz excursões por algumas capitais. Estamos atuando há 43 anos
mostrando o trabalho de diversos profissionais que lá trabalham. Além de
realizar espetáculos anuais dirigidos ao publico infantil, juvenil e adulto,
que aconteceram de forma ininterrupta durante todos estes anos. Fomentamos a
arte da dança em nosso estado, com melhoria de qualidade de trabalho a cada ano
conseguindo conquistar um lugar de destaque e seriedade não só em Sergipe, mas
no Brasil, com a tranquilidade de um dever cumprido”, afirmou Lu Spinelli sobre
o Studium Danças.
Quando perguntada sobre as dificuldades da profissão, a
bailarina relata que adificuldade maior é o mercado restrito. Conta ainda que,
em relação às companhias e grupos profissionais, as chances são muito poucas e
a remuneração é muito pequena para as necessidades de alimentação, saúde, pagamento
de coreógrafos e ensaiadores. Exceto nas grandes capitais onde há maiores
oportunidades.
A profissionalização em meio à dança.
Sobre seu trabalho de formação de novos bailarinos, a
coreógrafa faz críticas ao espaço para o gênero artístico em Sergipe. “Não
coloco bailarino pronto no mercado, porque aqui não tem produto pronto. Aqui
tem talentos trabalhados a serem muito mais trabalhados. Porque Sergipe não tem
mercado profissional. Pessoas extremamente talentosas ficam na base do amadorismo”.
Já sobre os alunos, Lu reflete sobre a conduta. “Quem não faz quatro, cinco
horas de aula por dia, não pode dizer que é bailarino profissional”. Vários
alunos já saíram do Studium para outras instituições brasileiras, como a
conceituada Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, no Rio de Janeiro.
Atualmente a professora cultiva uma paixão, a dança afro.
Apesar de ser brasileira, o interesse começou nos Estados Unidos. “O afro
brasileiro é muito bonito, mas ele fica restrito a dança de orixás, basicamente
ao folclore. Já o afro americano mistura blues, soul, clássico moderno, que é
uma coisa muito qualificada, estudo muito sobre este universo”, explica Lu
Spinelli. Ela participa também dos principais eventos de dança do país, como
convidada, onde ministra aulas como analista e curadora. Outro recente destaque
do seu curriculum é a escrita de críticas sobre eventos e grupos de dança
Brasil a fora. Para os próximos projetos, a função de analista é a mais
requisitada, já há convites fechados para 2014.
Ao fundar sua escola e lutar para abrir o mercado no estado,
apesar da bagagem de conhecimentos práticos e teóricos, é visível a defasagem
da valorização do profissional de dança. As dificuldades só refletem os
problemas que Sergipe tem que enfrentar, para oferecer um campo mais sólido
para o operariado desta e de outras artes que enfrentam problemas da mesma
linhagem. Enquanto isso não acontece, vale seguir exemplos de perseverança como
o de Lu Spinelli.
Texto e imagens reproduzidos do blog: jornaldesergipe.blogspot.com.br
Postagem originária do Facebook;GrupoMTéSERGIPE, 12 de novembro de 2015.
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