Jaime da Line
Aquele rapaz baforando num cachimbo o perfume aristocrático
de um Half and Half no Bar do Vaqueiro, na Atalaia, década de setenta, era todo
elegância e distinção. A fumaça achocolatada impunha-se ao cheiro dos
escabeches, às caçarolas de siri mole, ao desodorante vencido dos garçons, e,
sobretudo, aos detestáveis Avon da família ao lado.
Puf, puf... que odor classudo o carioca Jaime Costa nos
trouxe, em sua primeira noite sergipana!
Fui eu quem o viu e, condoído da sua solidão inaugural,
chamei-o para a nossa mesa.
Estávamos com o maestro Sérgio Boto comendo um aristocrático
Parmegiane: eu, o imensurável Clinio Carvalho Guimarães com sua natural
simpatia, o doce Tabaréu dedilhando nuvens e mais Rezende, dono da segunda voz.
Tratava-se do “Quarteto Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, finesse da MPB
local, prestigiadíssimo nas tertúlias litero musicais de então.
Jaime não se fez de rogado e atacou de Vinicius num terno
vozeirão de seresta chic e, como se não bastasse, emendou com “Casa no Campo”
de Sá e Guarabira, revelando-nos, então, sua bem nascida identidade e correto
CPF musical. O cabra era dos nossos e isto bastou para que se chegasse.
Ele foi cuidar da vida com altiva responsabilidade, muito
trabalho e ativa inteligência, dedicando-se á implantação da modernidade na área
da publicidade, onde chegou a comandar uma das principais agências, a Line, com
invejável portfólio de prêmios e importantes clientes. Casou-se com Mamália -
uma bela mulher com aquele porte heráldico de condessa - sem nunca deixar de
dedilhar o seu boêmio violão e de nos deleitar com o seu abençoado vozeirão.
Jaime da Line foi ficando por aqui, para a glória da nossa
boemia saudável e a alegria dos que tinham bom gosto musical, colocando-se na
história dessa Aracaju como um querido das gentes e cantando, como ninguém, as
mais belas canções do nosso tempo.
Jaime sempre bebeu bem, mas só bebia em boas companhias.
Sobre ele contam-se histórias fantásticas, umas reais, outras inventadas, e
todas elas nascidas do prazer que as suas peripécias etílicas nos causava. Aqui
ele moveu a roda da fortuna para cima e para baixo, mas nunca deixou de ser o
tocador de “Casa no Campo”, seu primeiro apelido, concedido por nós naquela sua
primeira noite sergipana, no saudoso Vaqueiro.
Dia desses eu me encontrei com ele. Ambos desesperadamente
sóbrios e ele sem o seu precioso violão.
Mas eita, querido Jaime, que abraço bom!
Amaral Cavalcante – maio/2008.
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 7 de abril de 2015.
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