20 de Julho! João Sapateiro completaria 95 anos.
Por Neu Fontes.
Retiramos parte de um texto do Luiz Antonio Barreto sobre
João Sapateiro:
João Silva Franco trabalhou duro para sobreviver. Negro,
quase dois metros de altura, teve a vida marcada pelo sobrenome postiço.
Profissionalizou-se como sapateiro, remendando o couro,
trocando o salto, pondo meia sola nos sapatos da população, independentemente
do poder aquisitivo de cada pessoa. Quem podia, é claro, comprava sapato novo,
em Aracaju, ou em outra qualquer cidade do País. Mas, quem tinha dinheiro
curto, e queria fazer bonito na festa de São Benedito, que é colada na festa de
Santos Reis, encerrando o ciclo natalino, entregava seu sapato velho a João
Sapateiro, estabelecido nas cercanias do Mercado Municipal. Discreto, mas de
boa conversa, o sapateiro exibia na sua oficina de trabalho, folhas de papel
pautado, repletas de palavras escritas em letras de forma, fixadas nas paredes
e nos poucos móveis do seu canto laboral. Eram trovas, pequenos e longos
poemas, que surpreendiam a freguesia. João Silva Franco passou a ser conhecido
como João Sapateiro, e reconhecido como o sapateiro poeta.
O pequeno espaço de trabalho de João sapateiro foi, em
Laranjeiras, um ponto de encontro, um daqueles lugares que reúne as pessoas
para uma conversa animada. Farmácia e barbearia, no interior, terminam sendo
locais atrativos, onde são formados grupos para as conversas, passando em
revista os assuntos dominantes da cidade. Em Laranjeiras o Cartório de Antonio
Gomes, a alfaitaria de Graquinho, e a oficina de João Silva Franco, ao lado da
farmácia de Antonio Rollemberg, se constituíram em locais especiais, que assitiram
a decadência econômica e cultural da cidade, sentindo o êxodo dos mais novos,
que saíam para estudar, e o desaparecimento dos mais velhos, arrancados da
vida. Quando morreu Bilina, Laranjeiras chorou e o toque do Patrão da Taeira
silenciou, até que Maria de Lourdes, também já morta, foi buscar o ritmo, as
cores e a coreografia para continuar cantando: “Meu São Benedito, eu não quero
mais c’roa, quero uma toalha, enfeitada em Lisboa.” Quando morreu Alexandre, os
fiéis do culto negro tomaram nos braços o seu caixão e desfilaram pelas ruas
laranjeirenses, elevando e baixando a urna funerária, num gesto simbólico da
religiosidade dos afrodescendentes.
Foto e texto reproduzidos do Facebook/Neu Fontes.
..........................................................
“QUEM NÃO TRABALHA NÃO COME
É CONVERSA MUITO FALHA,
PORQUE SÓ VEMOS COM FOME
O POVO QUE MAIS TRABALHA.”
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de junho de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário