Véio: Arte popular do sertão de Sergipe para o mundo.
Por: Verlane Estácio e Raquel Almeida
Um museu a céu aberto no meio do sertão chama atenção de
quem passa pela BR 206, na altura do KM 08, na estrada que liga os municípios
de Feira Nova e Nossa Senhora da Glória. Trata-se do Sítio Soarte, de
propriedade e criação do Cícero Alves dos Santos (Véio), artesão sergipano que
utiliza madeira para representar seu olhar inusitado sobre as histórias de vida
do homem sertanejo. Recentemente, as esculturas de Véio foram retratadas no
livro ‘Teimosias da Imaginação’, obra que reúne parte da produção de artistas
considerados os dez melhores da arte popular brasileira. O sucesso foi tamanho
que Véio foi o escolhido, entre os brasileiros, para participar da exposição e
lançamento da versão francesa do livro, na Galeria Cartier, em Paris.
Natural de Nossa Senhora de Glória, Véio ganhou este apelido
ainda criança por gostar de escutar a conversa dos mais velhos. Foi nesta época
que artista começou a refletir sua admiração pela cultura popular em cera de
abelha, mas logo depois descobriu os troncos de madeira para produzir suas
esculturas. O Soarte, Museu do Sertão, criado ao lado de sua residência, recria
a vida na região e traz para os visitantes a Casa de Farinha, Casa de
Profissões, Igreja e o Sítio Caduco.
Quem passa pelo local se depara com um cenário curioso,
formado por esculturas em madeira bruta que representam manifestações
socioculturais criadas no que o próprio artista costuma chamar de ‘Universo
Simbólico de Véio’. As esculturas do artista, que estão entre as menores do
mundo, são feitas a olho nu, utilizando canivetes e até palitos de fósforo. “A
maioria das pessoas que passam por aqui ficam curiosas, não sabem ao certo o
que estão vendo. Aqueles de origem mais simples pensam que é macumba ou coisa
de gente que não tem o que fazer. Outros param, observam, tiram foto e até
levam sem pedir”, conta aos risos.
No seu acervo, o visitante pode encontrar peças grandes,
médias, pequenas e minúsculas. São noivas, grávidas, seres imaginários, chapéus
de couro, utensílios domésticos, maquinas rústicas, roupas e acessórios que
fazem parte da vida do sertanejo. Autodidata, Véio conta que trabalhada na base
da inspiração dada por Deus. “Quando a inspiração chega, posso criar qualquer
coisa que esteja na mente do povo, desde a Marquês de Sapucaí às lendas e
realidades do homem sertanejo. Vou em busca do material e deixo a imaginação
tomar conta, pois temos muita riqueza a nível de história e cultura”, comenta.
Em suas obras, o artesão tenta fazer uma espécie de alusão
ao ciclo da vida. “Digo que as peças novas trazem o valor da juventude e as
velhas, já frágeis, que vão se destruindo pela ação da natureza, trazem a parte
final da vida”, explica Véio.
Publicações
Além de revistas de arte, a trajetória de Véio já foi
retratada em cinco documentários. São eles: ‘Véio- Tradição e
Comtemporaneidade’, ‘Nação Lascada de Véio’, ‘A Glória do Sertão’, ‘Véio - O
filme’, ‘O Universo Simbólico de Véio’ e Cavalhada de Poço Redondo’.
Suas peças estão espalhadas em vários lugares do mundo e do
Brasil. Em Sergipe, as peças podem ser encontradas no seu próprio sítio,
Memorial de Sergipe e Museu da Gente Sergipana. Fora do estado, é possível
encontrá-las no Museu do Folclore (RJ), Galeria Estação (SP), Museu do Homem
(PE), Galeria Pé-de-boi (RJ), Garandagem (AL), entre outros.
Teimosias da Imaginação
A exposição realizada pela Fundação Cartier em Paris marcou
o lançamento do livro ‘Teimosias da Imaginação’ na versão francesa. O projeto
apresentado no Brasil em três linguagens – documentário, exposição e livro-
reúne coleções particulares de dez artistas brasileiros. Germana Monte-Mór
ficou responsável pela curadoria do livro e Rodrigo Naves pela
curadoria-adjunta e prefácio. Já os textos e entrevistas dos artistas foram
editados pela historiadora Maria Lucia Montes.
O convite para ir à Paris veio a partir do lançamento do
livro em São Paulo, na Galeria da Estação Pinheiros. Véio, que se destacou por
sua desenvoltura, foi então o único brasileiro convidado para falar de arte e
de suas obras em uma mesa redonda de debates na Fundação Cartier. Com a
simplicidade de um autêntico nordestino, o artista conta que estranhou um pouco
a forma como a arte era debatida naquele local.
“Eram só 10 pessoas me perguntando à respeito das minhas
peças, costumes e das pessoas que aqui viviam. Enquanto isso, todos que estavam
no auditório ficavam quietos, foi daí que pedi que as perguntas fossem abertas
para a plateia também.
Fonte: Infonet - 19/6/2012.
Artigo e foto reproduzidos do site consultnews.com.br
Foto: Portal Infonet.
Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 23 de Agosto de 2012.
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