Infonet > Blogs Lúcio Prado > 21/10/2015.
Um contador de histórias.
Por Lúcio Antônio Prado Dias.
A Sobrames relembra a obra de um grande contista sergipano.
A Sobrames Sergipe vai relembrar a vida e a obra de um dos
maiores escritores sergipanos, o alienista Renato Mazze Lucas, na programação
de novembro do seu Café com Letras, que acontece dia 5, a partir das 18 horas,
na Sociedade Médica. O autor de "Anum Branco e outros contos",
falecido em 13 de dezembro de 1985, aos 66 anos, era descendente duplamente de
italianos. Seu avô paterno, Caetano Lucas Leão, veio da Itália diretamente para
morar em Mangue Seco, no extremo do litoral norte da Bahia, à época um local
distante e deserto, mas de beleza natural invulgar.Já sua avó materna, também
imigrante italiana, instalou-se nas redondezas, no povoado Terra Caída, no
outro lado do rio, nas terras sergipanas. Os filhos dos imigrantes, Raimundo
Lucas, por um lado, e Petrina Mazze, por outro, trouxeram ao mundo o menino
Renato, em abril de 1919, na cidade de Pojuca, na Bahia. Cresceu pois o garoto
num ambiente praiano, o que explica uma parte de sua temática e a psicologia
dos seus personagens, na maioria gente simples e rústica, como os pescadores,
por exemplo.
A necessidade, o empenho e a força de vontade fizeram-no um
médico. O prazer na natureza e o amor à aventura, um pescador. Pescador de
peixes e de almas, após especializar-se em psiquiatria. Mas sobretudo, além
disso, destacou-se nele o contista. Na Faculdade de Medicina do Terreiro de
Jesus, primaz do Brasil, ainda como estudante, conviveu com lideranças como
Jorge Amado e Carlos Garcia, que lutavam contra o nazi-fascismo que avançava em
quase toda a Europa. Sensível às injustiças sociais, filiou-se ao Partido
Comunista de Luiz Carlos Prestes e Astrojildo Pereira. Em 1943, graduou-se
médico e veio exercer a medicina em nosso estado, atendendo convite de Armando
Domingues, inicialmente em Japaratuba e Aquidabã e depois em Itabaiana, onde
permaneceu residindo por dez anos. A partir de 1955 transferiu-se para Aracaju,
atendendo convite do pediatra Dr. Machado, enveredando pelo campo da
psiquiatria, e aperfeiçoando-se, anos depois, no Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro.
Seu livro de estréia foi "Anum Branco e outros
contos", publicado em 1961 pela Editorial Vitória, do Rio de Janeiro, uma
coletânea de 22 contos escritos na década de 50, com prefácio de Astrojildo
Pereira, um dos fundadores do PCB e primorosas ilustrações do artista plástico
sergipano Leonardo Alencar, lembrando, sobremodo, as publicações de Jorge
Amado, tão bem enriquecidas com a arte de Carybé. Um primor!
O conto que dá título ao livro foi escrito em 1956 e conta
as aventuras e desventuras de Marinho, mais conhecido como Anum Branco, 37
anos, "marinheiro dos bons, que cheirava a fumo de corda, a maresia e a
cachaça, magro como um caçote, tinha o espírito de uma criança," na
narrativa de Mazze Lucas, seu companheiro de pescarias no barco
"Pyroscapho". Destemido, corajoso, forte, é comovente o seu esforço,
não obstante os riscos, para salvar do afogamento o passageiro que transportava
na baleeira "Wanda", de sete metros, que fazia a cabotagem entre São
Cristóvão e Aracaju. O conto Anum Branco denota a principal característica de
Renato Mazze Lucas, a de exaltar sempre as qualidades positivas de seus
personagens, o espírito forte que distingue o homem brasileiro, em texto
assinado por L.F.(possivelmente um militante do Partidão que não podia se
identificar), na apresentação do livro.
Em 1967, é lançado o seu segundo livro, Anum Preto, com 21
contos, pela Editora Leitura, do Rio de Janeiro, também pertencente ao PC,
porém dessa veja não teve a mesma receptividade de Anum Branco. A crítica lança
dúvidas sobre a qualidade da obra e sua identidade literária. No entanto, não
falta quem o eleve, como Alberto Carvalho: "(Mazze Lucas)é um contador de
histórias antes mesmo de ser um contista; é o narrador linear, o homem dos
casos, da história com princípio, meio e fim".
Passados 30 anos de sua morte, os contos de Renato Mazze
Lucas permenecem vivos, na memória de escritores e leitores sergipanos, que se
reunirão dia 5 de novembro, para reverenciá-lo.
Texto reproduzido do site: infonet.com.br/lucioprado
Foto reproduzida Facebook/Lúcio Prado Dias.
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 28 de outubro de 2015.
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