Sobre a velhice, num momento depressivo:
RECORDAÇÃO DE 2013:
Quem fala?
Num dia o telefone toca entre a sesta e o resto da tarde.
Entre as frutas do lanche e o comprimido das seis, naquele
seu momento feliz pelas coisas que você conseguiu fazer numa produtiva manhã de
segunda-feira. Trabalhou... trabalhou, fez por onde levar adiante uma vida
produtiva, deu bom dia aos transeuntes, sorriu para a cidade, cometeu algumas
asneiras permitidas a quem erra por estar vivo, mas, no fundo, você saiu-se bem
naquela segunda feira.
Quem será ao telefone?
É uma voz amiga anunciando que alguém que você ama foi-se da
vida para nunca mais.
Então, o chinelo pesa arrastando-se atônito pelas trilhas da
casa, os degraus se agigantam, o quintal perde a graça, sua casa já não lhe
reconhece. A morte do amigo lhe apequena que você era maior com ele ao seu
lado.
Falta-lhe direção ao passo.
É melhor voltar a dormir.
Mas esconder-se sob os lençóis não basta que a velhice lhe
alcança a cobrar dividendos. e uma dor que nem chega a doer se aloja em suas
entranhas como uma cicatriz que se desenha de repente.
Sua próxima manhã será mais pobre e menos produtiva, seu bom
dia catarrento haverá de denunciar a podridão que se escondida em seu velho
corpo. Bate o cansaço de continuar andando por ai como uma parábola, o resto do
que foi a sua vida entre os seus.
E a tristeza finalmente lhe alcança, inexorável, anunciando
o fim dos seus dias.
Quem fala?
- É a velhice chegando.
Amaral Cavalcante 30/09/2013.
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 1 de outubro de 2015.
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