Foto: acervo Rosa Faria/Arquivo: Adaílton Andrade
Imagem reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Adaílton
Andrade.
(Eis um pouco de como era Barrinhos. Isto sem lhes lembrar
do grande pioneiro do Colunismo Social em mídia televisiva, nem do grande
produtor cultural que era).
A Cascatinha
A Cascatinha fora antes uma gruta artificial instalada no
parque Teófilo Dantas, nos fundos da Matriz. Servira de residência a um casal
de pacas com prole próspera e gordos traseiros, que recebia da Prefeitura
honras de celebridades. Contavam até com funcionários oficialmente designados
para, toda tarde, descarregar ali um apetitoso cesto de cascas de melancia e
bananas podres. Fedia a chiqueiro doméstico o pedregulho disforme com três
entradinhas, por onde, vez por outra, apareciam os roedores municipais em busca
de aplausos.
Delícia da meninada!
Mas veio a modernidade, Aracaju preparava-se para o grande
advento do turismo, arquitetos e paisagistas ( geralmente formados na Bahia)
ansiosos por transformar a cidade numa quase cidade grande. Em nome não sei de
que eles tiveram que condenar a gruta das pacas!
E foi então que elas desapareceram num animado churrasco
prestigiado por respeitáveis figuras do terceiro escalão da Prefeitura. No seu
lugar, surgiu o Bar Cascatinha.
O novo proprietário, Seu Joel, um parente de conhecido
vereador noviço nas lides sociais, convencera-se de que somente o colunista
João de Barros com sua vistosa criatividade, poderia trazer para a inauguração
do novo estabelecimento o charme que ele precisava para conquistar frehuezia...
e nos contratou.
Não fez mais do que a obrigação. Tínhamos realizado, semanas
antes, a “Primeira Festa Hippie” na Sorveteria Yara, cujos escândalos e
indignações movimentaram a caretice da cidade por bom tempo. Portanto, a mídia
estaria no papo!
Programamos uma “performance” culminando com a volumosa
atriz Walquíria Sandes chegando por via aérea, pendurada num cabo de aço e
impulsionada por busca-pés e pitus. Por sugestão de Joubert, ela trajaria longa
bata rebordada com o inusitado slogam: “Fogo nela!”, mas a produção chiou, a
Petrobrás jamais emprestaria um guindaste e na mão, meu irmão, com a imensa
Walquíria, não daria mesmo!
No dia da inauguração, com a banda “Os Comanches”
maltratando Raul Seixas, amargamos um espetacular fracasso. Ninguém teve
coragem para adentrar o recinto. Uma quase multidão de curiosos convenientemente
distante do ba-fa-fá, mas querendo ver no que dava aquilo tudo, incentivava aos
gritos “Soltem as pacas! Soltem as pacas! ”. Ao que Barrinhos respondia, com
muita languidez e certa concupiscência:
- "É a mim que eles querem"...
O dono encomendara badejas de canudinhos e pasteis com
recheios diversos, destinados à gulodice dos visitantes, mas qual, tirando uns
quatro esfomeados, a maioria preferiu assistir àquela maluquice, de longe.
Entrar, nem implorando!
A Cascatinha funcionou por alguns anos como extensão dos
cabarés, varando as madrugadas. Era o lugar da última cantada, da sopa de mão
de vaca e do hamburguer final, mas nunca perdeu o fedor fantasmagórico das
pacas torradas que, até hoje, juram os mendigos que dormem por lá, ainda
reivindicam o local.
Amaral Cavalcante – dezembro/2008.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 9 de dezembro de 2013.
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