Infância, Aracaju, 1917.
Formatura, 1937.
Com Lúcia Margarida, josé e Maria Madalena, 1952.
Professor, 1950.
Créditos - Pierre Verger.
"Eu gosto muito de pesquisar, mas gosto, sobretudo,
de criar condições para que outros pesquisem". (José
Calasans).
José Calasans Brandão da Silva nasceu na Cidade de Aracaju,
Sergipe, em 14 de julho de 1915. Era uma quarta-feira. Naquele dia as primeiras
páginas dos jornais homenageavam a Tomada da Bastilha, incluída durante o Governo
Provisório no nosso calendário de feriados nacionais, e traziam as últimas
notícias da guerra na Europa.
José Calasans viveu "um tempo de muita história".
Desde cedo se interessou pelos acontecimentos políticos da época - como o
Levante do Forte de Copacabana, em 1922, e as revoltas do 28º Batalhão de
Caçadores em Aracaju nos anos de 1924 e 1926 - mas quem lhe sedimentou o gosto
pelos estudos históricos foi Clodomir Silva, seu professor de português no
Atheneu Sergipense e importante pesquisador do folclore e da história de
Sergipe. Esta convivência com o mestre também despertou no jovem estudante o
interesse pela oralidade que mais tarde lhe colocaria entre os pioneiros na
historiografia brasileira.
Em 1933, com o desejo de ser professor de História, Calasans
deixou a terra natal e foi estudar na Faculdade Livre de Direito da Bahia. Na
época, era um dos líderes da Juventude Integralista e lutou pela criação de um
núcleo de Cultura Espiritualista, projeto que provocou conflitos na Faculdade.
Pouco tempo depois, conforme declarou em depoimento, abandonaria as ideias
propagadas por Plínio Salgado.
Concluído o curso de Direito, em 1937, José Calasans voltou
para Aracaju e dedicou-se ao magistério e estudos históricos, desenvolvendo
pesquisas sobre os motivos que levaram à mudança da capital sergipana, antes
estabelecida em São Cristovão. Na ocasião, compilou versos populares sobre o
tema para fazer um cancioneiro político-popular. Do seu interesse pela poética
das ruas, surgiriam os primeiros estudos sobre os aspectos folclores da cachaça
que levariam à publicação do livro "Cachaça Moça Branca". Ainda em
Sergipe, trabalhou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional/IPHAN, então dirigido por Rodrigo de Mello Franco, e iniciou o levantamento
dos monumentos históricos sergipanos que, mais tarde, seriam tombados pela
instituição.
Poucos anos depois, Calasans voltou para Salvador, onde
retomou o magistério e dirigiu o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial/SENAC. Na época, também desenvolveu pesquisas sobre a Revolução de
30, mantendo vasta correspondência com revoltosos, e prestou concurso de Livre
Docência na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia,
apresentando a tese "O Ciclo Folclórico do Bom Jesus Conselheiro, Contribuição
ao Estudo da Campanha de Canudos".
Com esse trabalho, José Calasans iniciou a sua dedicação ao
tema que abraçaria por toda a vida. Ainda jovem, tinha sido estimulado pelas
pesquisas de oralidade quando frequentou vários locais de Aracaju em busca de
versos populares sobre o folclore sergipano. Nas suas andanças, ouvira
quadrinhas sobre o coronel Moreira César e a Guerra de Canudos. Alguns anos
depois, em 1947, se impressionou com o episódio ao ler na revista "O
Cruzeiro" uma reportagem rememorando o cinquentenário do conflito e apresentando
depoimentos de sobreviventes colhidos na Canudos reconstruída sobre os
escombros da cidadela conselheirista1. Depois dessa leitura, decidiu conhecer o
cenário da guerra com o objetivo de colher informações para a tese que
apresentaria à Faculdade de Filosofia em 1950.
Com o "Ciclo Folclórico do Bom Jesus Conselheiro",
José Calasans trouxe para os meios acadêmicos a voz dos vencidos. À ela dedicou
inúmeros estudos e pesquisas, libertando-a, como ele próprio anotou, "da
gaiola de ouro de Os sertões", numa referência ao livro de Euclydes da
Cunha que, durante muito tempo, centralizou os estudos sobre Antônio
Conselheiro e a Guerra de Canudos.
O Professor José Calasans Brandão da Silva faleceu na Cidade
do Salvador no dia 28 de maio de 2001. Era casado com Lúcia Margarida Maciel da
Silva e tiveram dois filhos: José, falecido precocemente, e Maria Madalena. O
seu acervo, fruto das suas investigações sobre o tema, está disponível para
pesquisas no Núcleo Sertão do Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal
da Bahia, criado em 1983, depois de generosa doação do Mestre.
1 A reportagem , escrita por Odorico Tavares e fotografada
por Pierre Verger, foi publicada na edição de 19 de julho de
1947.
Texto e imagens reproduzidos do site:
josecalasans.com/biografia.
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 23 de março de 2016.
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