Murillo Melins.
Foto: Tíffany Tavares.
Publicado originalmente no site do CAU/SE*, em 17/03/2016.
Aniversário de Aracaju – 161 anos: uma prosa sobre a capital
sergipana.
Por Tíffany Tavares.
“Com as mãos no bolso eu o aguardo ansiosa. Os passos
vagarosos, entretanto firmes ornamentam a entrada do Museu da Gente Sergipana.
Em minha direção, ele caminha com sorriso nos olhos e orgulhoso de seus 88 anos
de pura lucidez. Cumprimenta-me com sua mão direita, para e diz: – É você é?,
Indaga ao perceber que sou a mulher que sempre o cumprimenta nas festas da
cidade, das antigas gerações (Risos). Do meu nome complicado, não sabia, e não
me relacionou à mesma mulher do telefone, que agendou uma breve prosa curiosa
sobre uma de nossas paixões: Aracaju”.
A capital sergipana Aracaju, completa nesta quinta-feira, 17
de março, seus 161 anos. A sua história está fortemente relacionada à da cidade
de São Cristóvão, pois era esta a antiga capital da Capitania de Sergipe, atual
estado de Sergipe. Foi a partir da decisão de mudança da cidade que abrigaria a
capital provincial que Aracaju pode existir e cresceu.
Fundada em 1855, foi a primeira capital planejada de um
estado brasileiro; seu formato remete a um tabuleiro de xadrez. Todas as ruas
foram projetadas geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, para
desembocarem no rio Sergipe. Até então, as cidades existentes antes do século
XVII adaptavam-se às respectivas condições topográficas naturais, estabelecendo
uma irregularidade no panorama urbano. O engenheiro Pirro contrapôs essa
irregularidade e Aracaju foi, no Brasil, um dos primeiros exemplos de tal
tendência geométrica.
E como presente aos aracajuanos, a assessoria de imprensa do
Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe (CAU/SE) teve uma breve conversa
com o pesquisador, escritor e memorialista Murillo Melins.
Mas quem é ele?
Murilo Mellins nasceu em Neópolis antiga Vila Nova em 22 de
outubro de 1928, filho do saudoso Mario Mellins que dentre outras coisas foi
intendente de Neópolis (antiga Vila Nova) uma pessoa simples, de um grande
conhecimento dos fatos que marcaram a historia da capital. Alguns chamam de
memorialista, outros de pesquisador, outros de guardião da historia de Sergipe,
sempre puxando das lembranças a memória política e cultura da nossa gente.
Trabalhou na Prefeitura Municipal de Aracaju, em algumas
funções dos Correios, e atualmente com sua vida pacata de aposentado, vai
escrevendo, contando e cantando a história sergipana nos seus livros de
memória.
Com romantismo descreve com maestria, Aracaju das décadas de
40 e 50. O amigo e historiador Luis Antônio Barreto, quando em vida, dizia,
“Mellins tem com Aracaju uma intimidade cumpliciada, como poucos, e ambos, o
escritor e a cidade, guardam de cada um muitos segredos”.
O memorialista nos recebeu com simplicidade e fidalguia no
Café da Gente, no Museu da Gente Sergipana, na tarde do dia 15 de março. Em uma
prosa informal, viajamos por uma nostálgica Aracaju, que só ele rememora com riqueza
de detalhes.
“Eu sou das margens do São Francisco, vivi em Neópolis até
os seis anos de idade. Da minha casa via o rio caudaloso, majestoso, despoluído
e quando fui morar em Boquim eu olhava na janela e via a movimentação das
máquinas, os ferroviários com as lanternas iluminando as ruas, os desvios.
Nessa noite não dormi, empolgado com aquela dinâmica, pensando no Rio São
Francisco, nos trens de ferro. Tudo aquilo era novo e me apaixonei”, relembrou
Melins.
Ele afirma que ao chegar a Aracaju, já tinha essa memória de
Neópolis e Boquim, para sua surpresa foi recebido pelas belezas do Rio Sergipe,
pelos os trens de ferro e os bondinhos. “Aracaju era cidade calma, provinciana
de 60 mil habitantes, ordeira, não havia violência, o único barulho que ouvíamos
era o das águas do mar ou do rio”, descreve.
De acordo com o memorialista Murillo Melins, Aracaju teve
sua origem no Bairro Industrial. “Como era uma colônia de pescadores, não há
sentido afirmar que a capital nasceu na Colina do Santo Antônio, e sim na beira
do mar”, resume.
“Aracaju cresceu muito até os anos 50 a 60 era uma cidade de
70 mil habitantes e hoje tem mais de 600 mil. Era visível o quadrado de Pirro,
limitando-se na Avenida Coelho e Campos ao norte, a região do Clube do
Cotinguiba ao sul, a rua da frente ao leste e a Rua Estância, no Oeste”, conta.
As retretas, as feirinhas de natal com quermesse, o São João
com as fogueiras nas ruas, o estalar dos fogos…são lembranças que acompanham o
historiador até os dias de hoje. “Depois fui crescendo e passei a frequentar a
biblioteca pública, a ler muito, ir aos bares da época, comecei a conviver com
filósofos, com poetas, personalidades e artistas. Todos nos conhecíamos, as
famílias conheciam umas as outras. Aracaju é minha paixão”, declara.
Murillo Melins confessa que começou a escrever sobre
Aracaju, porque segundo ele, a memória da capital estava acabando, apenas Mário
Cabral fazia isso em 1940 e de lá pra cá, ninguém escreveu especificamente
sobre nossa capital. “Percebi que a nossa história estava sendo esquecida. Daí
pensei: Não vou deixá-la morrer”, finaliza.
Livros de Murillo Melins
Em 2007, lançou seu primeiro livro ‘Aracaju romântica que vi
e vivi’, hoje na sua 4ª edição. O livro é um precioso e apaixonado relato
repleto de histórias sobre figuras populares, festas, ‘causos’ políticos e a
evolução da capital sergipana nas décadas de 40 e 50.
Em dezembro de 2015, Melins lançou o seu novo livro de
memórias “Aracaju Pitoresco e Lendário”. Uma compilação de crônicas que ele
publicou nos jornais ao longo dos anos. Contém histórias que ocorreram no
início do século XX, como a chegada da energia elétrica, do bonde e do
calçamento da cidade, mas também relata a polêmica da transferência da capital
de São Cristóvão para Aracaju, fato ocorrido em 1855.
*CAUSE - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Sergipe.
Texto e imagem reproduzidos do site: cause.org.br
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 23 de março de 2016.
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