Publicado originalmente no site F5 News, em 14/08/2011.
“Ninguém quer ler nem jornal. Somos semi-alfabetizados”, diz
Araripe.
Poeta quer cadeira na CMA. “O que eu tenho a ver com
Tiririca?
Sou jornalista. Penso”.
Entrevista - Araripe Coutinho
Por: Silvio Oliveira.
F5 News - Araripe Coutinho nunca foi tão exposto como nos
dias atuais. Como o poeta observa essa procura, e qual a causa?
Araripe Coutinho - Acredito que as pessoas querem coisas
novas. Todo mundo fica nu todo dia, nada acontece. O que houve foi que as fotos
de Sagatto eram de uma arte incrível. Atrelado a isso, dentro de uns móveis
centenários divinos. Mais ainda: num museu. As pessoas queriam ver um modelo
sarado, acharam a naja desnuda de Goya, encontraram a gorda de Botero deitada
sobre papoulas amarelas e o viado. O viado entra aí como adereço. As pessoas
ficam de cara quando alguém vai de encontro a tudo isso. E as fotos ganharam o
mundo, a grande mídia, a Veja, a Época, o Bom Dia Brasil, o Jornal Hoje e os
grandes jornais de circulação como a Folha, o Globo, Jornal A Tarde e não foram
notas, foram páginas com chamada de capa. Acho que tudo isso mexeu com o
subconsciente das pessoas. Como pode um assunto tão comum virar manchete da
noite para o dia em todos os veículos e até na americana CNN? Não era o poeta,
Não era a pessoa. Era o símbolo. O depositário em pose de revista, mostrando a
pança. Que lúdico, que bizarro, que ousadia. Era isso. As pessoas começaram a
se desnudar. Começaram a pôr para fora os seus preconceitos, os seus traumas,
suas confissões mais íntimas e misturaram tudo: religião, sexo, arte, público,
privado, santo, profano. Foi um mergulhar fundo no excesso, excesso de nós
mesmos: espelho de nossos próprios medos.
F5News - A publicação das fotos pela imprensa nacional deu
um toque especial à carreira do poeta ou foi pura procura da mídia pelo
sensacionalismo?
A.C. Não. Na semana tinham fatos como a prisão de Pimenta
Neves, a saída de Palocci... e quem ganhou no toptrends por dois dias no Brasil
fui eu. Foi um fenômeno, algo que não se explica. O editor de Veja, Mario
Sabino, escreveu página inteira como a imagem da semana. “Somos muito literais”
– disse ele. Claro que tudo ajudou para a curiosidade pelo menos pelo meu
trabalho de 20 anos de literatura e que ninguém nunca quis saber.
F5 News - Folha de S.Paulo, Veja, Rede Globo foram alguns
dos meios de comunicação através dos quais o poeta concedeu entrevista. O
senhor acredita que as fotos tiradas ganharam grande repercussão por serem
clicadas num prédio histórico (Palácio-museu Olímpio Campos) ou por Araripe não
está nos padrões de belezas imposto pelo mercado do corpo perfeito?
A.C. - As duas coisas. O prédio chamou a atenção. O lugar
nunca escolhido pelas vedetes da Playboy. Mas a gordura localizada (chique ,
não?) foi a que mais deu panos para as mangas. As pessoas enlouqueceram.
Piraram. O poeta está nu. Mostrando aquele saco de banha. Não é possível. Eu
não estou acreditando e caíram matando.
F5 News - Há poucos dias, Araripe Coutinho foi entrevistado
por Jô Soares. Sabe-se que por vezes o apresentador costuma colocar o
entrevistado em enrascadas, com perguntas embaraçosas. Por vezes também tenta
simplificar os acontecimentos e quando o entrevistado não está preparado, a
entrevista termina seguindo o enredo da caricatura. Como foram os momentos no
sofá do Jô?
A.C. - Ele, o Jô, é um lorde. Fiz a linha sério como se
tivesse ido falar de um livro sagrado. Ele tentou, foi ríspido mandando tirar a
foto do telão com a palavra “tire!”, desmaiou na cadeira, disse que poucas
coisas na vida o deixaram sem palavras... mas eu tentei caminhar pelo lado
sério para não servir de chacota. E foi o que ocorreu.
F5 News - Comenta-se que Araripe Cotinho ficou mais famoso
pelas fotos do que pelos livros publicados e vendidos. O comentário enrijece o
semblante do poeta?
A.C. - Acho isso natural. Ninguém lê poesia. Ninguém quer
saber de ler nem jornal no País. Somos semi-alfabetizados e agora com o
computador então. As fotos foram apenas um motivo para dizer: ele também
escreve, e escreve bem. Veja!
F5 News - Com a grande exposição dos últimos dias partidos
políticos sondaram Araripe Coutinho. Há pretensão de disputar algum cargo
político?
A.C. - Quero ser o vereador mais votado de Aracaju. Serei um
excelente parlamentar. Seria a naja desnuda da Câmara. Tenho muito a
contribuir, sim. Consegui, à época, a construção da Biblioteca Municipal do
Augusto Franco com recursos do BNDES, fui 8 anos diretor da Biblioteca
Municipal “Clodomir Silva” e consegui a reforma da casa e um aumento no acervo
da mais de 90%. Quero mudar a cara da cidade.
F5 News - Há alguns dizendo que o poeta poderia ser mais um
daqueles como Tiririca, Romário, Frank Aguiar... que entraram na vida política
por meio da fama e que representam a consciência, ou até mesmo a inconsciência,
eleitoral da grande maioria brasileira. O poeta estaria enquadrado nesse
contexto?
A.C. - Você sabe que não. Você pode ser cego, mas não é
burro. O que eu tenho a ver com Tiririca, Romário, Frank Aguiar? Nada. Escrevo.
Sou jornalista. Penso.
F5 News - Com o advento dos sites de relacionamento e da
tecnologia a poesia continua num lugar de destaque entre as publicações ou
procura se enquadrar as novas mídias?
A.C. - A poesia é para poucos, infelizmente. Ninguém quer
saber. Ninguém. A geração Drummond, Bandeira, Quintana, Cecília passou. Agora
temos Manoel de Barros, um gênio, mas ninguém nunca descobriu o pernambucano
Marcos Acyoli. Dói.
F5 News - No mais, Araripe Coutinho para o futuro?
A.C. - Linda e loira. Sempre.
Texto e foto reproduzidos do site: f5news.com.br
Postagem originária da página do Facebook/Grupo MTéSERGIPE, de 9 de dezembro de 2014.
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