Luiz
Antonio Barreto (1944 -2012).
Se não bastar tudo o que já se
disse sobre Luiz Antonio Barreto, para que se imortalize sua invejável teimosia
intelectual na defesa da cultura sergipana e na persistência da sergipanidade,
diga-se a favor dele que era um companheiro de fidelidade inconteste, um
parceiro de profícuos bate-papos em roda de amigos, um sujeito perspicaz e bem
humorado, elegantemente mordaz e carinhoso com todos nós, os distinguidos com a
deferência de acolitá-lo na vida social.
Sim. Era natural nele estabelecer
um Cenáculo em torno de si e das suas idéias, onde os circunstantes comungassem
o pão da sua inteligência privilegiada. Nos últimos tempos fui um pretenso
discípulo seu, com tal dedicação que, certamente, já estava perto de me
inscrever entre os seus privilegiados amigos do coração. Agora eu já o sou,
alçado pela dimensão de vazio que sua ausência causa ao meu dia a dia.
Na minha juventude tive sérios
embates com Luiz, tomado pela santa arrogância juvenil que me inspirava à
rebeldia. Afinal, ele sempre foi um medalhão. Mas Luiz sempre me foi caro,
desde os anos 1970, quando incitava a cidade à resistência cidadã com as armas
da literatura “de protesto”, editando a revolucionária revista “Perspectiva“,
produzida a partir de uma célula anárquica sediada na Galeria “Álvaro Santos”,
onde a geração de resistentes que o ouvia se homiziava.
Era-me imperioso conhecê-lo
melhor. Deu-se, então, que na minha primeira viagem ao Rio de Janeiro, Luiz me
deu pousada em seu apartamento na Av. Nossa Senhora de Copacabana - a bacanagem
da época - onde ele vivia um dos seus muitos amores com uma dama seqüestrada da
vida provincial de Aracaju para os seus braços, convenientemente exilados na
capital cultural do país.
É esse Luiz Antonio, amante de
grandes mulheres, cabra descolado e afoito à sofreguidão da vida plena que eu
quero acrescentar ao que se conta dele.
No cafezinho do Shopping, onde
ultimamente comandava uma mesa avantajada de admiradores, Luiz exercia a
plenitude do seu gênio contando piadas, resvalando o olho de macho satisfeito
com a mulher que, em casa, amava muito, com a espiadela incontrolável aos rabos
de saia que passavam. Gostava de pulha, um costume lagartense que o conservou
menino e, embora nunca verbalizasse por elegância e respeito, conservou-se
refratário às conquistas afetivas da modernidade, embora minha presença entre
os seus negasse qualquer intransigência.
Luiz Antonio Barreto é uma ponte
sólida entre a intelectualidade empedernida das academias e o batente fogoso da
vida de artista, um elo, (creio que insubstituível) entre a realidade cultural
sergipana e os alfarrábios da história, um homem que perseguiu a boniteza da
vida, com nobreza e elegância e se findou respeitado pelo que acertou na vida.
Luiz, guarde-me uma cadeira no
cafezinho do céu.
Amaral Cavalcante
Postagem original na página do Facebook em 21 de Maio de 2012.