Publicado originalmente no blog Adiberto de Souza/Infonet -
11/12/2009.
Tributo aos Deuses Lares
(Coroa de Sonetos)
Wagner da Silva Ribeiro tem sido, nos últimos anos, o mais
aplicado intelectual sergipano, como autor de uma poesia densa, bem elaborada,
poematizando as matrizes gregas, que são, para a história humana, um repertório
de símbolos, a desafiar o tempo e as conquistas da civilização. Funcionário
público e professor, desde os tempos de estudante que Wagner da Silva Ribeiro
aventurou-se no verso, com epigramas que atraíam a atenção dos colegas, nos
corredores da Faculdade de Direito de Sergipe. Filho de um poeta – José da
Silva Ribeiro Filho, sobrinho de um dos maiores intelectuais de Sergipe do
século XX – José Calasans, não surpreende a paixão pelas letras, seja criando,
seja divulgando vates que a história cultural termina por deixá-los esquecidos.
Desde Cantares do Mar Egeu até Cantar do Minotauro, livros
que atraíram os olhares mais acreditados da crítica local e nacional, Wagner da
Silva Ribeiro vem demonstrando o domínio da linguagem poética, valendo-se de um
rico vocabulário que eleva a qualidade da língua portuguesa. Em certa medida,
Wagner da Silva Ribeiro tem parentesco literário com Santo Souza, o bruxo
órfico, que vive encastelado na sua sala de livros da rua Rio Grande do Sul, no
bairro Siqueira Campos, como a desafiar os transeuntes com seu falar macio,
repleto de armadilhas. Aquele homem de peito nu, trata da condição humana em
seus poemas e freqüenta o panteão dos gregos, nas confabulações eternas. Wagner
da Silva Ribeiro, com Jackson da Silva Lima, tem difundido o pensamento
estético sergipano, tendo Santo Souza como estrela de enorme grandeza, em torno
da qual todos podem ser salpicados pela luminosidade antiga.
Os livros de Wagner da Silva Ribeiro têm forte mensagem
crítica, embrumada nos versos e estrofes aparentemente lineares. Erra quem lê
os seus poemas com os olhos na memória dos temas versejados. Há muito mais em
cada palavra, cada verso, cada estrofe, cada poema, que exige uma exegese do
universo mítico, aproximando-o da história, onde deixa de ser de deuses e
potestades, lugares e animais fabulosos, para atender ao homem no seu caminho
de vida, vagueante num mundo que não tem explicação em si mesmo. A mitologia
grega tem estreita relação com a tecnologia da atualidade, que gera comandos,
intimiza o uso, mas não resguarda o saber emblemático das descobertas e
avanços. Como tem, também, interface político, no embate dos fatos contrapostos
as narrativas maravilhosas. Wagner da Silva Ribeiro aprofunda sua visão de
intelectual e consegue revelar conhecimentos encobertos pela pátina do tempo.
Tributo aos Deus Lares, uma Coroa de Sonetos, na definição
que o poeta e crítico Geir Campos definiu, dizendo que se trata de uma
“composição poética em que o Soneto funciona como Estrofe, aparecendo em número
de quinze, dos quais o último é formado pelos quatorze versos finais dos
anteriores e estes começam, cada qual, pelo último verso do anterior.” Os
poetas populares, das cantorias de viola do Nordeste, menestréis antigos,
também se valem da deixa, tomando por empréstimo para suas estrofes o último
verso do cantador/contendor. O domínio da arte e da técnica eleva ainda mais a
qualidade dos livros de Wagner da Silva Ribeiro.
Para Chompré, no seu clássico Dicionário Abreviado da Fábula
para inteligência dos poetas, dos painéis e das estátuas, cujos argumentos são
tirados da História Ppoética, traduzido do francês, em Portugal na Régia
Oficina Tipográfica, em 1785, Lares, também chamados de Penates, são deuses
domésticos. Eram pequenas estátuas, veneradas nas casas. Eram acompanhados de
um cachorro, igualmente venerado, sob o nome de Lares familiaris. Havia,
também, deuses públicos, que vigiavam os caminhos e as encruzilhadas e em cada
cidade havia um deus, chamado Urbani. A celebridade de Enéas teria
justificativa por ter salvo os deuses familiares de Tróia. Fustel de Coulanges,
no seu também clássico A Cidade Antiga, estudos sobre o culto, o direito e as
instituições de Grécia e de Roma (1864) trata dos deuses domésticos, dos Deuses
Lares, na tradição dos cultos antigos, atribuindo ao fio condutor da história
os mais esclarecedores conhecimentos.
Wagner da Silva Ribeiro toma por empréstimo essa tradição
doméstica, íntima, que deusifica a família, para renovar o conhecimento sobre
tais divindades, louvando-os pelo seu papel e serviço. É uma forma de recontar
a história, envolvida na beleza de versos de sonetos, onde rima e métrica são
meras citações, incidentais, na liberdade de escrever com todas as formas da
poesia. É também uma evocação contextual, que serve para revisitar os antigos
modos de organização social, que interessa hoje (re)conhecer.
Tributo aos Deuses Lares (Aracaju: edição do autor/SERCORE,
2009) de Wagner da Silva Ribeiro é um troféu à inteligência, à cultura, ao
fazer intelectual mais refinado e consciente de sua importância.
Texto e imagem reproduzidos do site:
infonet.com.br/blogs/adibertodesouza
Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de 2 de janeiro de 2017.
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