Fotos: três gerações de Braganças.
Publicado originalmente no Facebook/Lúcio Prado Dias, em
06/12/2015.
Os Braganças.
Por Lúcio Prado Dias.
Neste sábado aconteceu o 90º aniversário de Bragancinha –
Francisco José Plácido Tavares de Bragança – figura admirável da história
médica de nosso Estado, professor pioneiro da Faculdade de Medicina de Sergipe
e cirurgião de escol que fez escola para alunos e admiradores. Eu me incluo
entre eles.
Nenhuma outra família entronizada em Sergipe tem uma árvore
tão geneticamente ligada à Medicina como a família Bragança. Isso como
resultado do que pude observar em ligeira e despretensiosa consulta, gerada
pela necessidade de obter dados para o nosso Dicionário Biográfico, que foi
lançado em 2010. E o tronco principal dessa árvore está situada em Laranjeiras
que, na segunda metade do século XIX, era a cidade mais próspera do Estado.
A povoação que se tornou Vila em 1832 situava-se
geograficamente próxima da Capital, mas ficava longe pela precariedade dos
meios de transportes, quase que exclusivamente através de barcos. Por outro
lado, estava colocada num patamar de salubridade e comércio acima da antiga e
da nova sede de governo, São Cristóvão e Aracaju.
O primeiro Bragança médico a chegar a Laranjeiras é
Francisco Alberto de Bragança, no final dos anos 30 do Século XIX. Nascido em
1816, em Salvador, filho de Aleixo João de Bragança e Ana Joaquina do
Sacramento, Francisco forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, primaz do
Brasil, em 1836. Curiosamente, ele possuía um irmão chamado Antonio Militão de
Bragança, também médico e formado no mesmo ano, que chega a concorrer a uma
cátedra na Faculdade de Medicina da Bahia, mas que, em função de doença, morre
precocemente em Laranjeiras para onde se desloca em busca de tratamento. Em sua
homenagem, Francisco dá ao seu único filho varão o nome do tio: Antonio Militão
de Bragança.
Mas voltemos aos ancestrais. O ramo brasileiro da família
Bragança começa com a chegada a Recife, em 1811, do comerciante português
Aleixo João de Bragança, oriundo da província ultramarina de Gôa, do Portugal
da Ásia. Sua vinda se dá em função do comércio de açúcar, que passa por grande
prosperidade em Pernambuco. Ele casa-se com uma filha da viscondessa de
Valcáver, Ana Joaquina do Sacramento, de descendência holandesa, dedicando-se à
fabricação e exportação de açúcar. Desse casamento nascem dois filhos:
Francisco Alberto de Bragança e Antônio Militão de Bragança, que se formam
ambos em Medicina em 1836.
Após a formatura, Francisco aporta em Penedo, onde permanece
por dois anos e depois segue para Laranjeiras onde fica por oito anos.
Transfere-se para Estância, mas dois anos depois retorna para Laranjeiras,
dessa vez em definitivo, onde prospera.
Homem culto e versado em humanidades, passa a dar aulas a
uma jovem burguesa, regente de cadeira pública na província e que viria a se
tornar sua esposa, em 1852: Possidônia Maria de Santa Cruz, dando origem assim
ao ramo sergipano dos Braganças. Em janeiro de 1860, o casal recebe a honrosa
visita do Imperador Pedro II, que vai a Laranjeiras para conhecer o Colégio
Nossa Senhora Santana, cujas mestras principais são, além de sua fundadora, as
suas filhas, Maria Vicencia, Mariana Apolinária e Tereza Virgilina.
Francisco Alberto de Bragança, ao lado do também médico José
Cândido de Faria, funda o Hospital de Caridade Nosso Senhor do Bonfim, em 1840,
que é administrado pela irmandade do Senhor Bom Jesus do Bonfim. Infelizmente,
o hospital, por falta de recursos, deixa de funcionar 19 anos depois, em 1859,
um ano antes da visita do Imperador. A grande epidemia de cólera morbus de
1855, que dizima quase metade da população de Laranjeiras, atinge mortalmente o
médico José Candido Faria. Já o Dr. Francisco Alberto de Bragança morre aos 52
anos, em 30 de outubro de 1868.
Antônio Militão de Bragança, nascido em 1860, vive até os 89
anos de idade, falecendo em 1949. Para formar-se pela Faculdade de Medicina da
Bahia, em 15 de dezembro de 1883, defende a tese “Paralisias Consecutivas as
Moléstias Agudas”.
Recém formado, segue para o Rio de Janeiro, onde permanece
por breve espaço de tempo, recebendo ensinamentos no campo da oftalmologia.
Volta para Laranjeiras e monta consultório na rua Direita. No ano seguinte,
transfere-se para Pão de Açúcar onde permanece por sete anos, voltando já
casado para Laranjeiras em 1892, onde exerce suas atividades com grande
competência e dedicação.
Em 1911, violento surto de varíola atinge a cidade e quase a
despovoa, tal o número dos que fogem para Aracaju, a este tempo melhorada em
seus aspectos sanitários e com maiores recursos de atendimento. Dr. Militão de
Bragança escreve e publica relato científico com o título de “A Varíola em Laranjeiras”,
trabalho muito rico em detalhes clínicos, epidemiológicos e profiláticos. Uma
pandemia de gripe espanhola arrasa Laranjeiras em 1918 com centena de mortes,
conforme o registro dos serviços públicos. Militão de Bragança é infatigável
nessa luta. Respeitado pela sua dedicação à Medicina, progride de forma mais
intensa em função de atividades paralelas de senhor de engenho e criador de
gado, tanto em Laranjeiras como nas margens do São Francisco. Progressista e
inovador inclui-se entre os primeiros a importar gado indiano e introduzi-lo
nos rebanhos sergipanos.
Casado com Dona Maria da Silva Tavares, tem dois filhos,
ambos homens. Antonio Tavares de Bragança, farmacêutico-químico e professor e
Francisco Tavares de Bragança, sacerdote. Nessa geração, portanto, não há
médicos entre os Braganças. Mas a lacuna dura pouco, isso porque Antônio
Tavares casa-se com Maria Otávia Plácido Tavares de Bragança e dessa união
nasce em 1925, Francisco José Plácido Tavares de Bragança, o “Sobrinho do
Jesuíta”, carinhosamente chamado de Bragancinha, o “Chico”, nosso querido
professor de Cirurgia, que atualmente reside em Maceió, o nosso aniversariante.
Cirurgião geral com formação em cirurgia do aparelho
digestivo, ele atuou também na área de traumatologia atendendo no
Pronto-Socorro do Hospital de Cirurgia e no INPS. Foi discípulo de Augusto
Leite, Mariano de Andrade e David Rosenberg e, por indicação destes, ingressou
no Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Professor de Introdução à Cirurgia na
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sergipe.
Para não quebrar a tradição, seu filho, Ricardo Viana de
Bragança, escolhe também a Medicina como profissão, especializando-se em
urologia, sendo hoje o Bragança da minha geração. Uma história que não para por
aqui, uma vez que Ricardinho, filho dele, é o mais novo discípulo de
Hipócrates, cursando o quarto ano da Residência Médica em Urologia.
Com uma história que atravessa três séculos, a Saga dos
Braganças é capítulo memorável da nossa história contemporânea e árvore frondosa
e bela da Medicina de Sergipe.
Fontes consultadas:
Camerino Bragança de Azevedo - “Dr. Bragança; Esse varão
laranjeirense”. Rio de Janeiro, Editora Pongetti – 1971.
Antônio Samarone de Santana - “As Febres de Aracaju – dos
miasmas aos micróbios”, Aracaju, 2005
Cônego Philadelfo de Oliveira - “Histórias de Laranjeiras”.
Casa Ávila. 2ª Edição – 1981.
Discurso pronunciado pelo Dr. Francisco Alberto Bragança de
Azevedo ao ensejo da instalação do Ginásio “Possidônia Bragança, na cidade de
Laranjeiras, em 9 de março de 1958.
Alexandre Gomes de Menezes Neto – Trabalho escrito para a
Academia Sergipana de Medicina, em 1999.
Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lúcio Prado Dias.
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 6 de dezembro de 2015.
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