A Ponte.
A Casa de Oração.
O Paço.
Infonet > Blog Luíz A. Barreto > 12/03/2009.
A Ponte, a Matriz e o Paço: Aracaju no tempo de Pedro II.
Debaixo dos vivas e das palmas do povo, o Apa ancorou às 17
horas do dia 11, mas o Imperador Pedro II somente deixou o navio às 18:30 horas
Por Luiz Antônio Barreto.
A Ponte.
O Ancoradouro, ou Ponte de Desembarque, especialmente
construída em fins de 1859, recebeu em Aracaju o vapor Apa, da Companhia
Brasileira de Paquetes a Vapor, comandado por Francisco Pereira Pinto, com a
comitiva imperial, em sua visita a Sergipe, de 11 a 21 de janeiro de 1860.
Debaixo dos vivas e das palmas do povo, o Apa ancorou às 17 horas do dia 11,
mas o Imperador Pedro II somente deixou o navio às 18:30 horas, sendo
recepcionado por uma comissão de mulheres, pela Comissão do Recebimento
(Organizadora da visita) e pela Câmara Municipal, recebendo as Chaves da
Cidade, do seu Presidente, atravessando o Arco da praça do Palácio (Fausto
Cardoso), toda ela ornada para as festas, e onde um papagaio, bem treinado,
gritava Vivas ao Imperador. Pedro II andou, ouvindo os gritos de boas-vindas,
um trecho da rua do Barão de Maroim (João Pessoa), atravessando o Arco feito
por Horácio Urpia, Vice-Consul de Portugal em Sergipe, e foi assistir, na Casa
de Oração São Salvador (Igreja do Salvador), ao Te Deum, após o qual saiu pela
rua do Salvador (Laranjeiras), tomando a rua da Aurora (Rio Branco) até a
praça, alojando-se no Palácio Provisório, transformado em Paço Imperial
(Delegacia Fiscal), onde deu beija-mão aos sergipanos.
A Ponte do Desembarque transformou-se, no tempo, em Ponte do
Imperador, passou a ser o maior dos ícones da cidade e capital de Sergipe.
Ainda que sua denominação suscite discussão, se ancoradouro ou atracadouro, ou
ponte, não resta dúvida quanto ao símbolo que passou a ser, depois da visita
imperial. É que antes de ser construída, as pessoas que chegavam a Aracaju
desciam dos navios para pequenos barcos e destes chegavam em terra firme nas
costas dos estivadores, naquela época escravos, em sua maioria. Não ficava bem
que o Imperador Pedro II, sua mulher Tereza Cristina Maria de Bourbon e todos
os ilustres integrantes da comitiva imperial tivessem que descer, um por um,
nas costas dos trabalhadores do cais. Durante décadas, a Ponte do Imperador
serviu mesmo de atracadouro, utilizando-se das laterais para receber os barcos
de pequeno e de médio porte, que entravam no estuário do rio Sergipe. Ainda
hoje, vez por outra, um vaso de guerra da Marinha brasileira ancora na velha
Ponte do Imperador.
Com a resistência de um jovem, contava 34 anos quando esteve
em Aracaju, o Imperador Pedro II desceu fogoso do vapor e entrou na praça, misturando-se
com o povo para cumprir uma programação que, durante dez dias, mostrou a
Província – Aracaju, São Cristóvão, Laranjeiras, Maroim, Estância, o canal do
Pomonga, o engenho Escurial – complementando a visão que ele teve de outros
pontos de Sergipe, principalmente Vila Nova (Neópolis) e Propriá, quando
navegou pelo rio São Francisco, para visitar, em outubro de 1859, a Cachoeira
de Paulo Afonso. Seu programa diário de visita em Aracaju significou uma
vistoria das obras que estavam em curso na cidade, desde a mudança da capital,
em 17 de março de 1855. Um relato completo da visita foi feito por Luiz Álvares
dos Santos, médico, professor e jornalista baiano, atendendo ao Presidente da
Província Manoel da Cunha Galvão, e publicado na Bahia, pela Tipografia do
Diário, em 1860.
A Casa de Oração.
A Casa de Oração São Salvador, mandada construir pelo
Presidente Inácio Barbosa e concluída pelo Presidente Salvador Correia de Sá e
Benevides, que lhe deu o nome, serviu de Matriz por alguns anos, e por isto o Te
Deum para Pedro II foi lá. No púlpito estava o padre José Gonçalves Barroso, o
afamado Vigário Barroso, considerado grande orador sacro, nascido em
Laranjeiras, mas com larga atuação em São Cristóvão, onde também foi professor
e diretor do Liceu Sergipense, fundou a Biblioteca Pública, e foi deputado
provincial, manifestando-se, contrário a mudança da capital. O Vigário Barroso
fez a exegese do Salmo 137, versículos 13 e 17, para um pequeno mas atento
grupo. Entre os assistentes, por fazer parte da comitiva imperial, estava o
Capelão Antonio José de Melo, nascido em Sergipe, ordenado na Bahia, Cônego da
Catedral do Rio de Janeiro,Vigário Geral, Capelão das duas viagens de Pedro II.
A Casa de Oração, que com a construção da Igreja Matriz (Catedral) passou a ser
uma capela, ou uma pequena igreja, também é ícone de Aracaju, tendo já
completado 150 anos de construída.
A comitiva imperial foi hospedada no Palácio Provisório,
mandado construir também no tempo de Inácio Barbosa, na praça do Palácio,
esquina com a rua da Aurora. O prédio passou por uma adaptação, com acréscimos,
e uma decoração especial para aqueles dez dias de delírio da nascente sociedade
aracajuana. Pinturas, quadros, móveis, objetos de decoração, quase todos
fornecidos pelo comerciante argelino José Narboni, fizeram do improvisado Paço
Imperial um símbolo de luxo, digno da nobreza brasileira e naqueles dias um
centro de manifestações festivas.
O Paço.
Foi lá, no mesmo dia 11 de janeiro de 1860, que Pedro II
enfrentou a fila do beija mão, hábito que ainda perdura no Brasil, e em
Sergipe. Era comum, no dia 31 de dezembro, que formassem filas no andar
superior do Palácio Olímpio Campos, para os cumprimentos ao Governador. O velho
beija mão do Imperador sobreviveu em Aracaju. O prédio continuou servindo, por
algum tempo, de Palácio da Província, mas foi substituído pelo novo Palácio,
que na primeira década do século XX recebeu o nome do sacerdote e político
Olímpio Campos, morto na chamada Revolta de Fausto Cardoso. O prédio que mais
tarde foi ocupado pela Delegacia Fiscal é, igualmente, outro ícone da cidade,
mantendo suas formas e guardando esse capítulo especial da história de Sergipe,
que foi a festiva visita imperial.
Texto e imagens reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, em 4 de junho de 2016.
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