segunda-feira, 20 de março de 2017

José Reginaldo dos Santos, entrevista Ilma Fontes






Publicado no blog do Escritor Reginaldo, em 04/12/2014.

Ilma Fontes - A Promoção dos Artistas Sergipanos é sua Bandeira de luta como Ativista Cultural.
Por José Reginaldo dos Santos.

Meu primeiro contato com Ilma Fontes foi em 1991, em um grupo de estudo para o vestibular da UFS, quando estudávamos "Os Corumbas" de Amando Fontes, do qual meu amigo Efraim além de ler o livro conhecia bem a biografia, e aí citou Ilma Fontes. Meu segundo contato aconteceu quando meu mestre e amigo, Professor José Carlos de Souza, na época diretor da Escola de 1º Grau Olavo Bilac, me deu de presente um livro do poeta Mário Jorge no qual me apaixonei pelas suas poesias e ao aprofundar a pesquisa da biografia dele tomei conhecimento de que, ele, era amigo de Ilma Fontes. No ano seguinte fundei o Grêmio Mário Jorge na Escola de 1º e 2º Grau Governador Augusto Franco. Somente no dia 19 de agosto de 2014 tive o prazer de conhecê-la, apresentada pelo meu amigo Cristiano Conselheiro, no momento em que Ilma Fontes preparava o Espaço Cultural da Assembleia para o evento da referida data. Em uma curta conversa solicitei a inclusão do lançamento do meu livro "Mulheres Maravilhosas" na pauta do mês seguinte e logo em seguida tivemos confirmada a inclusão do lançamento para o dia 23 de setembro de 2014. Diante da sua receptividade e apoio cultural aumentou minha admiração pela pessoa que ela é, pois diante de outras respostas negativas de apoio, Ilma Fontes acolheu o meu trabalho sem criar nenhuma barreira.

Imediatamente assumi um compromisso comigo mesmo de incluí-la no meu livro e fazer uma homenagem à mulher maravilhosa que conheci.

No dia 22 de novembro de 2014, às 16:00 horas, conforme o combinado chegamos à casa de Ilma Fontes para a entrevista e fomos recebidos por ela, e Indra, uma cadela labrador, - entre nós: eu, Cristiano e Andréia, fui privilegiado, pois foi de mim que Indra gostou mais, tipo amor à primeira vista, ela me acompanhou por todos os lugares que andei dentro da casa, e então escoltados nos dirigimos ao quintal da residência, situada em plena Avenida Ivo do Prado, no centro da cidade de Aracaju. Estar em uma casa que nos passa a impressão de casa de interior, cheia de plantas combinadas com um pequeno ateliê de artes, que me fez lembrar a infância na casa da minha avó materna, em Siriri, exceto pelos belíssimos quadros de artistas da terra e outros espalhados por toda a casa. Acomodamos-nos para a entrevista acompanhados de Indra, que deitou perto de nós e ficou em silêncio, acompanhando os diálogos.

Antes de iniciar a entrevista alguns pensamentos rodeavam meu cérebro, um deles foi "Meu Deus, isso é um sonho, essa mulher não existe, como pode alguém com tanta experiência, com um extenso curriculum e imensa popularidade ser tão simples, ao contrário de alguns gestores de entidades ligadas ao mundo das artes que parecem ter um rei na barriga; ela me faz sentir mais humano, mais feliz como artista, desfez da minha mente todo desprezo que já recebi procurando apoio para meu trabalho, ao mesmo tempo em que cria dentro de mim uma responsabilidade muito grande em realizar esta entrevista com alguém tão especial e da mesma forma quero passar essa humanidade aos leitores.”

- José Reginaldo dos Santos: Como foi a sua infância e adolescência como filha de costureira e funcionário público?
- Ilma Fontes: Eu estudei toda minha vida em escola pública, porque minha mãe, costureira, e o meu pai, funcionário público, eu tinha uma vida sem maiores necessidades, mas uma vida simples. Meus irmãos estudaram em escolas particulares, mas eu queria estudar em escola pública. Fiz o primário no Colégio Tobias Barreto e o ginásio e científico no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, o que me enche de orgulho - e enchia de orgulho todos aqueles que conseguiam passar no exame de admissão ao ginásio, que era um verdadeiro vestibular, na época em que o Atheneu era uma excelência em educação, não tinha pedido de prefeito, de político, que fizesse filho passar e os professores eram excelentes. Tive excelentes mestres como Maria Augusta Lobão; Franklin, professor de inglês, muito louco, que morava na Barra dos Coqueiros, mas, que me deu uma base boa; Maria da Glória, professora de geografia e Ofenísia Freire, professora de português. Aquela época era o inverso do que é hoje: bom era o colégio público, o particular era o chamado "papai pagou, passou". Por causa do sucateamento da educação as coisas inverteram.
Fiz Medicina na Universidade Federal de Sergipe, tenho duas especialidades: Psiquiatra e Medina Legal - e aí você vai me perguntar por que isso acontece. A gente foi incentivada à leitura muito cedo, nós temos uma família de intelectuais, aos 14 anos meu pai me deu para ler "O Papa Negro", um livro que excomunga. Aos 16 anos eu li Freud, Nietzsche, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, os filósofos alemães e franceses, me identifiquei muito com Nietzsche, com Freud. Por conta da leitura de Freud, eu me engracei pela psicanálise. Mas para fazer psicanálise, tinha que fazer medicina.
Na infância você define mais ou menos o que você quer ser - as pessoas me perguntavam, "o que é que você quer ser quando crescer?", eu dizia: marinheiro, pois morando perto da Marinha e eu gostava do figurino, que são vários, branco, azul e branco, eu achava linda aquela movimentação da Marinha, então queria ser marinheiro, mas não podia, porque naquela época só podia homem. Depois de marinheiro eu queria ser bombeiro, eu não queria ser médica, essa história de brincar de médico quando era criança, não fazia o meu gosto, eu queria brincar com bicicleta, jogar bola, trocar porrada. Eu tenho dois irmãos e minha irmã é mais velha do que eu 6 anos, minha maior proximidade era com Carlos, meu irmão que é 4 anos mais velho do que eu, era com quem eu disputava e levei muita porrada, então aprendi a dar porrada também. Por conta disso eu já ganhei muitos preconceitos, muito antes de definições sexuais.
Entrei na Medicina pela porta da Psiquiatria: tive que fazer medicina para fazer psicanálise e contei com a sorte de ter bons mestres, como o Dr. Garcia Moreno, que também foi diretor da Faculdade, e foi meu professor em duas matérias: Psicologia Médica e Medicina Legal. Um dia eu estava lá olhado minhas notas quando ele chegou para mim e disse: "O que você vai fazer?" Eu respondi: Vou fazer psiquiatria. Então eu olhei pra ele e perguntei: Por quê? Ele respondeu: Porque eu quero convidar você para fazer o concurso para monitor de medicina legal, porque até hoje eu trabalhei sem um auxiliar e gostaria que você fizesse o concurso para monitor porque vai ter uma vaga para auxiliar de professor e você então poderia entrar nessa vaga e depois, quem sabe, me substituir na minha aposentadoria. Eu achei aquilo demais, foi um elogio enorme, bateu na minha alma, ele viu em mim uma coisa que eu não tinha visto, pelas provas, pelos papos que tivemos, eu sempre gostei de bater papo com gente mais velha do que eu. Fui lá na casa dele, e ele me mostrou a biblioteca e me emprestou alguns livros... nós conversamos muito, ele achava que eu era uma pessoa interessante do ponto de vista de ter uma aparência libertária e ao mesmo tempo ser uma pessoa séria, com uma cultura grande para minha idade, e disso surgiu uma amizade muito bacana e ele me fez esse convite, sinceramente irrecusável, eu não poderia fugir e aceitei de pronto. Eu queria fazer a especialidade de Psiquiatria, não em Aracaju, aqui as pessoas se formam e já se definem isso e aquilo. Mal acabou de se formar no curso básico de medicina e se diz: "Sou gastroenterologista, sou otorrinolaringologista", eu queria uma formação mais completa, queria fazer mestrado, então fui para o Rio de Janeiro (para fazer psicanálise) e aí o Dr. Garcia Moreno fez uma carta de apresentação para o Instituto Médico Legal da Guanabara me apresentando para um estágio lá e isso aconteceu. Depois voltei para Aracaju, para a festa de formatura - porque Medicina e assim, no 6º ano, o último período você faz a opção dentro da sua especialidade, dentro do que você quer seguir, e eu tenho duas especialidades: psiquiatria e medicina legal.
Mas foi dureza, duro pra chuchu. Eu dormia noite sim, noite não, porque filha de costureira com funcionário público na cidade do Rio de Janeiro, cara do jeito que é, eu tive que arrumar um jeito de trabalhar e eu dava plantão numa clínica na Tijuca - morava em Laranjeiras e ia para o Instituto Médico Legal às 9 horas da manhã e saía às 5 horas da tarde, e aí corria para a Tijuca para entrar às 7 horas no plantão, saía no outro dia 7 horas, muitas vezes sem tempo de passar em casa para trocar de roupa, tomava banho na clínica, mas a roupa era a mesma. Foi dureza, mas eu sou uma guerreira, nunca tive mordomia, tudo meu sempre foi muito batalhado. Bom! Cheguei em Aracaju e me diplomei, participei da formatura.
Fiz o concurso para professor auxiliar na cadeira de medicina legal, enfim, mas eu sofro de rejeição desde a barriga da minha mãe e capto rejeição no ar, e eu fiz o concurso, passei em primeiro lugar, março foi chegando e eu não era chamada pra dar aula, aí eu disse ‘o que é que é isso?’, fui lá na UFS, falei com a velha secretária Gilca e perguntei: O que é que tá acontecendo, estou com meu plano de aula pronto, quando é que as aulas vão começar? Ela respondeu: "As aulas já vão começar e é outro professor", como assim, outro professor?! A pessoa que estava classificada em segundo lugar, já estava contratada pela universidade. Bom, eu fiz política estudantil. Tive desempenho na política estudantil desde o secundarismo, desde a greve que tomou o Atheneu dez dias. E agora o meu opositor, o cara que tirou o classificado em 2º lugar assumiu o cargo, mudou-se do estado de onde ele veio, porque ele dedurou o grupo inteiro que fazia militância política. Dentro do contexto da ditadura ele era a pessoa certa e não eu. Bom! Mas eu disse: Comigo não é assim, eu não sou de desistir fácil, então fui ao reitor que se chamava Luiz Bispo saber o que era que estava acontecendo, levei o Diário Oficial com a minha aprovação, com as minhas notas superiores, eu não tive média dez porque acharam que eu tinha errado uma palavra no espanhol, por conta disso me tiraram três décimos e eu fiquei com 9,7 por causa de uma palavra que estava certa, mas mesmo assim eu tive a maior nota. Então municiada do diário oficial fui ao reitor perguntar como é que isso podia acontecer, uma pessoa presta um concurso, tem a aprovação em primeiro lugar e sem nenhuma elegância por parte da universidade, eu não ser contratada e ser postergada em favor de um segundo lugar. Então, ele me disse de claro e bom som, que o fato de eu obter o primeiro lugar nas provas, não me qualificava para o cargo de ensino na universidade porque eu pecava no item fundamental que era idoneidade moral. - Como assim, é idoneidade moral? Ele respondeu: A sua casa é frequentada por comunistas e coisa e tal. Aí eu disse: Essa é a sua última palavra? Ele respondeu: Sim! Não há o que fazer; aí eu disse: Vamos ver. Eu jogo xadrez e pensei, ele é o bispo preto, eu vou no bispo branco, fui em dom Luciano Cabral que era um bispo de peso. Cheguei lá, ele conhecia minha família porque minha tia Julinda arrumava o altar de Nossa Senhora, ele conhecia minha família toda. Nós tivemos alguns arranhões políticos por conta da instalação da universidade; mas nessa hora vamos apagar as diferenças e vamos conversar, eu disse pra ele: Eu tenho 25 anos de idade, acabo de me formar, acabo de ser aprovada em primeiro lugar no concurso, está aqui o diário oficial e eu tenho dois caminhos: Um, assumir meu cargo, minha carreira de médica e como professora lecionar, e abrir meu consultório, ou pegar um fuzil, ir para o MR8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro) e assaltar banco e sequestrar embaixador, eu tenho meus companheiros no Araguaia. Dom Luciano disse: "Não! Que nada! Vamos resolver essa pendência" Naquele mesmo momento, às 10h30, pegamos um táxi e fomos lá no quartel falar com o general do Exército, um homem finíssimo, culto, maravilhoso, a ideia que a gente tem de truculência dos militares é errada, nos recebeu muito bem, expus minha problemática e ele disse: Olha, você foi presa alguma vez? Eu disse: Não, já fui chamada uma vez para depor. Ele respondeu: "Tudo de Sergipe, seja questão política e estudantil, tem a central em Recife, estou indo a Recife pessoalmente, vou me empenhar em seu caso e vamos ver o que pesa lá contra a senhora." Ele foi e rapidamente ele me deu notícia de que não tinha nada contra mim, então a UFS teve que me contratar e tive que dizer a Luiz Bispo: "Está vendo que não é a última palavra." Voltando para minha estratégia do jogo de xadrez, fui para a torre e na torre me dei bem.
Fui contratada para lecionar a disciplina de medicina legal, que estava atrasada, em função do Dr. Garcia Moreno ter passado por alguns problemas. Então eu disse para ele: "Por que a gente não faz isso no verão?” Eu fui a primeira professora da UFS, de medicina, que deu curso de verão, pois então juntei os alunos de Medicina, Direito e Odontologia, as pessoas juravam que não ia dar certo e deu supercerto, deu tanto certo que pessoas que não eram daquela disciplina ou ainda iam estudar a matéria ou já tinham passado por ela, gostavam das minhas e vinham assistir as aulas, porque eu vim com uma boa bagagem, uma bagagem diária de IML do Rio de Janeiro, abrindo 35 cadáveres no mínimo por dia. Ensinei dois anos, pois meu contrato era de dois anos, mas não gostei e eu que briguei para entrar, não briguei para sair, acabou o contrato não quis mais renovar. Ora, eu não sou burra, sou jovem, posso muito bem fazer o que eu quiser e não quero isso para minha vida, e foi assim que eu deixei de ser professora na UFS.
A família Fontes: Como a própria Ilma Fontes define “Os Fontes são poetas, suicidas e alcoólatras, em geral é uma combinação que a gente não pode fugir muito ao DNA, então veja Hermes Fontes no dia 25 de dezembro de 1930, deu um tiro no peito, se matou.”

- José Reginaldo dos Santos: Qual o grau de parentesco seu em relação a Hermes Fontes?
- Ilma Fontes: Parente duas vezes, tanto pelo lado do pai como pelo lado da mãe, ele vem ser meu primo de 2º grau tanto do lado de pai como do lado de mãe. Nós temos muito orgulho do Hermes, o Hermes se destacou (Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes, conhecido como Hermes Fontes, nasceu em Boquim, Sergipe, em 28 de agosto de 1888, e morreu no Rio de Janeiro, em 25 de dezembro de 1930. Filho de Francisco Martins Fontes e Maria de Araújo Fontes, foi compositor e poeta e jornalista. Formou-se bacharel em Direito, em 1911). Tem o Amando Fontes (o autor da obra "Os Corumbas", Amando Fontes, nasceu na cidade de Santos, São Paulo, em 15 de maio de 1899. Ainda bebê ficou órfão de pai, o que proporcionou o retorno da sua família à cidade de Aracaju/SE, de onde era originária. Foi jornalista, advogado, deputado estadual e romancista, escreveu apenas duas obras. "Os Corumbas", lançado em 1933 e o livro "Rua Siriri"). Eu amo muito e quero antes de morrer fazer um filme chamado "Os Corumbas”, escrito por ele, que inaugurou o romance industrial no Brasil, é um livro que recomendo a todos, um livro muito lindo e que dá um filme fantástico. Amando Fontes se matou cedo, foi para SP, se meteu com o movimento sindicalista anarquista, então se matou. Meu avô deu tiro na cabeça. A gente que é Fontes convive com a ideia do suicídio com uma naturalidade muito grande, isso é uma opção, é uma questão de honra. Os Fontes não se matam por dívida nem financeira nem moral, se matam por questões existenciais, morais, por dificuldades pessoais, é uma coisa muito louca. Então, eu durmo com meu 38 do lado, esperando a minha hora. José Maria Martins Fontes (foi médico, poeta e destacado humanista, brasileiro, nascido na cidade paulista de Santos, em 23 de junho de 1884. Morreu em Santos, em 25 de junho de 1937, e está sepultado no Cemitério de Paquetá, naquela cidade.) Pai de Clarêncio Fontes, jornalista no movimento modernista, advogado e poeta, Lourival Fontes (Riachão do Dantas, 20 de julho de 1899 - 6 de março de 1967 foi um jornalista e político brasileiro, melhor conhecido por ter sido o ministro de propaganda do presidente Getúlio Vargas, entre 1934 e 1942). E parentas enfermeiras que serviram na 1ª guerra mundial.

- José Reginaldo dos Santos: Atualmente alguns psiquiatras afirmam que os transtornos mentais na sua imensa maioria não são consequências de traumas de infância. O que a senhora pensa disso?
- Ilma Fontes: Essa área de psiquiatria, psicologia, ainda tem muito que aprender, porque não existe um ser humano igual ao outro. Quando se rotula uma pessoa de esquizofrênico, ou de maníaco depressivo, por quadros que essas pessoas formam, quadros que podem ser reversíveis ou não, pensando assim a psiquiatria está sendo muito mal conduzida, tanto assim que eu saí dela. É outra coisa que eu também batalhei tanto, meu Deus, pra conseguir o brevê, mas não quero mais voar nesses ares. Acho que está muito mal entendida, muito mal encaminhada e o futuro vai provar isso, então essa questão que transtornos de infância que geram problemas para o adulto, claro que isso sempre existiu, o velho Freud grafou isso, mas ainda se tem muito a estudar a mente humana, o ambiente onde o ser vive, que acho que é muito mais transformador. Eu, por exemplo, fui uma pessoa muito revoltada, tive problemas de família na infância e tive problemas gravíssimos com meu pai, porque meu pai de ultra direita e eu de ultra esquerda e tivemos problemas enormes. Mas na maturidade tive a chance de conversar com ele, conversamos olho no olho, de pessoa pra pessoa sem superioridade de pai e filho sem degraus, tivemos oportunidade de nos perdoarmos e tenho certeza que hoje sou uma pessoa melhor por conta desse perdão. Eu perdoei a ele e ele me perdoou, a solução está no diálogo.

- José Reginaldo dos Santos: Em um texto publicado em 1966, confissão de uma estreante, a senhora diz que o amor ao teatro é uma tarefa árdua, difícil. Existe boa vontade e persistência, como é fazer teatro e cinema em Sergipe?
- Ilma Fontes: Não existe! Acabou! Olha, o teatro daquela época era uma coisa. Hoje é outra história, não se pode fazer nem um paralelo no que o teatro é hoje, mas tanto lá como cá o problema do teatro em Sergipe é o mesmo do cinema, é o público, porque há uma rejeição com o que é produzido na nossa terra, há uma descaracterização, uma falta de respeito ao ator, ao diretor, ao autor; enfim, vem o Piaba da Bahia falar besteira e lota o teatro, mas se você montar Max Dez não vai ninguém Vou te dá um exemplo vivo meu, na época que eu escrevi esse texto eu estava fazendo uma peça de Jean Coutour baseado na vida de Edith Piaf e que na maior seriedade eu mergulhei naquele texto chamado "O Belo Diferente" um monólogo difícil, encenar durava de 45 a 50 minutos, um ator sozinho no palco contracenava com o Belo Diferente, mas ele não abria a boca. A gente dar o convite, falar em comprar, nem se fala, você implora para ir e tudo mais e ainda ficam falando besteira, ali estava começando e isso já me incomodou muito. Por último eu fiz um texto de Jean Genet, chamado "As Criadas" com três atores fantásticos, por coincidências os três já morreram talvez pelo desgosto de fazer teatro em Sergipe, fiz com todo o rigor de uma despedida fiz as criadas com apoio da Aliança Francesa de Jean Pierri Palmieri , que assistiu os ensaios e entendeu a seriedade do projeto e deu todas as condições e também com o apoio da PETROBRAS que também subsidiou parte de figurino, cenário. Nós levamos aquela montagem com todo rigor e podia ser exibido em qualquer palco, conseguimos pauta no Teatro Atheneu por dois dias, no primeiro dia deu 11 pessoas na plateia e no 2º dia deu 7. Eu disse “aqui eu me despeço, não faço mais teatro em Sergipe e saí.” Não adianta fazer tanto esforço, o povo não quer isso, o povo de Sergipe gosta de ator da Globo, então eu disse ‘vou fazer um filme com ator da globo’ e fiz "Minha Vida em Suas Mãos" com direção de Maria Zilda e 18 atores da globo, mas, é de Ilma Fontes.

- José Reginaldo dos Santos: No filme "Minha Vida Em Suas Mãos" no qual foi roteirista, fala basicamente sobre as "doenças urbanas", a concepção deste filme a transforma em uma militante social?
- Ilma Fontes: Militante social eu sempre fui, na medida que minha mãe permitiu eu ter uma personalidade sem os atrasos das províncias, porque minha mãe, filha de portuguesa com holandês, então eu tive uma formação europeia, mas o núcleo central do argumento do Filme “Minha Vida em Suas Mãos”, me foi passado através de uma consulta a uma paciente que me autorizou a fazer o roteiro com história dela, logicamente com nome e locais modificados, mas é uma história real. Ela é psicóloga e ainda atua no Rio de Janeiro, “aquele ideia dela de esperar a amiga descer do prédio, cedo encontra o cara que vem, leva ela pro apartamento e fica com ela durante basicamente uma semana; que ela fica com um revólver na cabeça, com o cara se drogando dentro do apartamento e nesses casos geralmente termina em morte e ela conseguir reverter o caso para que o cara acreditasse que ela se apaixonou por ele e ainda voltasse com flores. Aí ele é preso.” Esse é um fato real, eu achei interessante e desenvolvi a retórica na cidade do Rio de Janeiro, que eu amo, em uma época que o Rio de Janeiro estava muito lindo, muito fotogênico, início dos anos 70. Fiz as locações especiais, os pontos característicos e aproveitei fatos da época, fatos de jornal, e agreguei aquele núcleo no filme, então ele é um filme de pouca ficção.
Mas eu fui traída pela minha parceira de roteiro porque o final do filme não é aquele besteirol que Maria Zilda como produtora se alvorou o direito de mudar muitas coisas, no momento em que o cinema brasileiro em geral está saindo da pornochanchada, saindo do sexismo barato, o meu filme que tinha alto conteúdo social foi descontextualizado por Maria Zilda Bethlem e Yoya Wursch. Esvaziaram o conteúdo social do filme e sexualizaram, eu não tive acesso porque como eu vim para Aracaju, eles modificaram, eu assinei uma procuração pra Yoya Wursch, pra ela lidar com a burocracia e ela e Maria Zilda mudaram tanto o roteiro, que quando eu vi o filme, tomei um susto, "esse não é o meu filme", também não briguei por ele, não lutei por ele, por conta dessa besteira sexualizar. Que falta de conhecimento da história, do momento, que burrice, porque teria sido um grande filme se fosse seguido à risca o roteiro.

- José Reginaldo dos Santos: A senhora morou no Rio de Janeiro, onde a arte, a cultura e o cinema têm mais apoio do que em Sergipe. Então viver em Sergipe é apenas uma questão de patriotismo?
- Ilma Fontes: Sim e não, porque eu nunca imaginei que voltava para Aracaju, tenho meus amigos no Rio de Janeiro, tinha minha casa que era muito querida. Eu não gosto de apartamento, consegui uma casa ótima, tinha o meu ambiente intelectual, social e cinematográfico, mas teve a questão do meu pai, apesar da gente ter brigado muito na juventude e talvez por isso o meu pai passou a sofrer do coração. Eu vim aqui passar umas férias, senti como filha e como médica que podia ajudar muito a dar uma sobrevida maior para ele, a experiência foi muito boa e depois eu fui fazendo o caminho de volta.
Uma vez tive uma conversa com Gilberto Gil no Rio de Janeiro que reverberou anos na minha cabeça e ele me perguntou: "Por que você saiu de Sergipe?" Eu respondi: "Por que tu saiu da Bahia?" e ele disse: "Eu tenho minha casa lá e minha sede e na Bahia". Respondi: "Eu também tenho minha sede em Aracaju. Mas porque tu me faz essa pergunta?" "Porque Sergipe tem pouca pessoas, vocês não pode sair de Sergipe, não é a toa que uma pessoa nasce em um lugar, vocês são importante, como os anjos guardião daquela cidade na interação dos artistas e até para evolução daquelas pessoas". Na época que Gil falou isso pra mim foi uma época que ele estava em crise, foi a época que ele escreveu aquela música "Se eu quiser falar com Deus, eu tenho que ficar só". E aquela conversa reverberou na minha cabeça, também é o seguinte, a gente às vezes faz bobagem. Eu me casei muito e eu tive um casamento muito bom no Rio de Janeiro, era meu oitavo casamento, estava muito bom, estava ótimo, mas eu tenho um bicho corredor dentro de mim, uma coisa inquieta que, quando as coisas estão muito boas, tenho que estragar pra ir pra outra, e aí eu me apaixonei por outra pessoa. "Tudo era uma brincadeira, a velha música e foi crescendo, crescendo e de repente", pronto, aí já dei um jampe na vida e fui primeiro no Ceará visitar uns amigos. Lá tem um grande poeta chamado Paulo Veras que morreu quando completou 30 anos e assim eu pude ver Paulo Veras pela última vez e nunca mais voltei lá no Ceará; fui em Fortaleza, dei uma caminhada pelo Brasil, pelo Norte, Nordeste, fui até Porto Velho antes de sair do Rio de Janeiro para me certificar se era isso mesmo que eu queria e naquele momento. A coisa era Aracaju, tem detalhes que numa entrevista assim não dar para se revelar, porque eu sou multifacetada e você deve ter outras facetas.

- José Reginaldo dos Santos: Eu, particularmente, tenho um apreço muito grande por Mário Jorge, é para mim o maior poeta sergipano; quero que a senhora fale da sua amizade com ele?
- Ilma Fontes: Nós somos quase da mesma idade, ele é de 1946 e eu de 1947, ele é de 23 de novembro e eu de 10 de abril. Conheci Mário Jorge, ele tinha 5 anos de idade, numa disputa de velocípede, ele é a coisa mais linda do mundo. Desde então me apaixonei para sempre, depois eu soube que Mário Jorge tinha uma grande afinidade com Osman Fontes e a mãe dele, a irmã de dona Ivone, a tia de Mário Jorge era casada com Osman Fontes, morávamos todos pertinhos, ali na praça Tobias Barreto e Mário Jorge tinha mais mais afinidade a Osman Fontes que ele chamava mais de paizinho do que o próprio pai que era truculento, não entendia Mário Jorge. Então eu achava que Mário Jorge era meu primo por conta de Osman Fontes e a gente se tratava por primos e essa história de se tratar por primos, morar perto, gosta de ler, fazer política estudantil juntos, no tempo do Atheneu, fomos contemporâneos do Atheneu e depois eu fui pra Medicina e ele foi pra Direito. Mas a gente sempre fazendo política juntos. Mário Jorge descobriu minha sexualidade, coisa de primo, tínhamos afeto um para o outro e como nós éramos libertários, nós não tínhamos a caretice do ciúme, ele tinha as namoradas dele, inclusive ele namorou com duas primas minhas, de famílias diferentes, do lado do pai, outra do lado da mãe. A gente não tinha posse, nem ciúmes, todo mundo podia fazer o que quisesse. Mas nas madrugadas, a gente sempre estava juntos.

- José Reginaldo dos Santos: A dinamização do Espaço Cultural da ALESE tem uma importância social e cultural muito grande, pois revela novos artistas e divulga os trabalhos de artistas já consagrados. Qual a importância desse espaço para você e nos conte alguma curiosidade que já aconteceu durante os eventos.
- Ilma Fontes: O espaço cultural da Assembleia é mais um criado numa esteira de espaço que a AMART, que era uma ONG criada por Dinho Duarte e por mim, e Dinho foi um grande parceiro na criação desses novos espaços tipo Cantinho da Arte da Unimed, Cantinho Cultural dos Correios, a gente entende que o artista plástico, ele tem custos com tela, tinta, pincel. Ele prepara uma exposição, consegue uma pauta, digamos na Álvaro Santos, faz a exposição, vende um ou dois quadros, volta para casa com aquele monte de quadro, aí bota atrás do guarda-roupa, em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, já para não ver mesmo e ter impulso para criar novos quadros, porque você vai produzindo, se você não deságua, você se intoxica. Este raciocínio é válido para as outras instâncias de artes, escultura, poesia, fotografia, música. Era necessário fazer um circuito de exposições, e criamos espaços no estado de forma que, depois que passar pelo circuito, se não conseguir vender pelo menos 50% da produção, mas ele teve divulgação, aumentou o seu currículo, seu book. Para o artista pleitear exposições fora ele vai precisar de currículo, o espaço da ALESE é mais criação minha do que da AMART, porque eu imaginei regras e módulos em 5 expressões de arte, que tivesse um convite de qualidade, pois isso é muito importante para o book do artista, também a legitimidade que se dar para o artista. A ALESE na verdade é um referencial de topo, no espaço cultural da ALESE, Dinho entrou apenas como fotógrafo do projeto. O projeto é meu. Dinho tem à frente outros projetos encabeçados por ele, a ALESE foi eu que encabecei, então pensei em fazer a biografia desses artistas. A minha pretensão era escrever 500 biografias, são 5 artistas por mês, 10 exposições por ano, então eu consegui escrever as 500 biografias, um dia eu vou publicar essas biografias. Depois eu transformei o Projeto que, de início, se chamava a Excelência das Artes em Sergipe, em espaço cultural da ALESE, em exposições temáticas de forma que o convite tem as cinco expressões de artes para baratear custos. O presidente que encampou a ideia nos deu todas as condições para execução do projeto, mas os subsequentes, alguns não entenderam a grandiosidade do projeto ou pelo projeto ou por mim, assim o projeto começou a sofrer um mesquinhamente, para não interromper o projeto, fui minimizando e se adequando à mesquinharia, que mesmo assim, continua sendo de grande importância pro movimento cultural de Sergipe.

- José Reginaldo dos Santos: Estou iniciando no mundo das artes literárias, quais são suas dicas para os novos artistas literários?
- Ilma Fontes: Se você gosta de Mário Jorge, não acredite em nada que lhe digam desse, pesquise na fonte, na raiz, leia Mário Jorge, é importantíssimo ler Mário Jorge. Eu digo para essa juventude, você não ler os clássicos, para mim os clássicos é Mário Jorge. Nós estamos em uma geração que não tem o hábito da leitura, perdeu o hábito da leitura, escreva primeiro para você gostar, se não gostar não publique, escreva para você pensado no futuro, se projete para o futuro, pois é lá onde vai estar o seu leitor.

- José Reginaldo dos Santos: Nos fale dos seus sonhos
- Ilma Fontes: Meu sonho de cinema, por exemplo, é tornar “Os Corumbas” um filme e “A Fúria da Raça" também, que é um roteiro que escrevi para os 400 anos de Sergipe, que passaram praticamente em branco, com alguns grupos folclóricos dançando na rua; 400 anos é uma coisa muito séria, eu fiz uma pesquisa séria, um roteiro sério, mas até hoje não consegui realizar este sonho, ficam alguns sonhos inacabados; agora eu tenho um sonho que é transformar a minha casa na casa da moca, para depois da minha morte continue acontecendo aquilo que sempre foi a minha casa, onde quer que eu morasse no RJ, Fortaleza, SP, BA, eu sempre hospedei artistas, eu quero que minha casa sirva de albergue, para um cordelista, alguém que vai lançar seu livro e vem do Interior, ou que vem de outra cidade e não tem grana para se hospedar em hotel. Deve permanecer com meus objetos de artes, tudo no mesmo lugar, deve ter alguém tomando conta da casa, fazendo pagamento de IPTU, etc. Sempre hospedando artista em trânsito, artistas provavelmente não famosos, fazer o que eu sempre fiz na minha vida, de fazer o gatinho pro artista subir

- José Reginaldo dos Santos: Nos deixe uma mensagem para os sergipanos.
- Ilma Fontes: Nós temos uma terra linda e rica, nós somos ricos de tudo, a terra é boa, os filhos da terra têm boa índole, os artistas da terra são muitos originais, mas precisamos de um público, um público que tenha mais amor a terra. Precisamos que os sergipanos deem mais valor aos sergipanos, que aprendam a ver o talento que é nascido aqui, que não tenham olhos só para os talentos que nasçam lá fora, pois aqui tem gente que nasce e morre e não aparece, porque o público não permite.

- José Reginaldo dos Santos: Quero lhe agradecer por esta honra de estar lhe entrevistando, a senhora é para mim a maior militante cultural do estado.
- Ilma Fontes: Eu vou lhe dizer, eu não abro minha casa para entrevista tem muito tempo.

Ilma Mendes Fontes - (10/04/1947) - Aracaju/SE, filha de Aderbal Fontes de Araújo Góis e Jenny Mendes Fontes.

Psiquiatra e Legista, trocou a Medicina por Jornalismo, Cinema e Ativismo Cultural. Publicou os livros: "Melhor de Três - Roteiros para Cinema"/1987 e "A Fúria da Raça" - Roteiro para Seriado de TV (1997). Escreveu, produziu e dirigiu junto com Yoya Wurch os filmes: "Arcanos (O Jogo)" (1980) e "O Beijo" (1980). Produtora, roteirista e diretora do curta "A Taieira" (1986), do seriado de TV "A Última Semana de Lampião" (1986). Dirigiu o Departamento de Produção da TV Educativa de Sergipe (1984/1987), onde fez inúmeros documentários e direção de cinco programas semanais: TeleSaudade, Primeira Chamada, Som-Vídeo, Aperipê Especial e Forró no Asfalto, além de produzir e dirigir todos os vts institucionais da TV Aperipê - Canal 2; Prêmio Anchieta de Teatro - Festival Nacional de São Mateus/ES - "A Fina-Flor", em parceria com Yoya Wurch, com quem roteirizou o filme "Minha Vida em Suas Mãos" - longa-metragem filmado e lançado no Rio/2001, produzido e protagonizado por Maria Zilda Betlhem. Pesquisou e reconstituiu o período histórico de 1575 a 1595, para o roteiro original "A Fúria da Raça", escrito em 1987 e publicado em 1997. Participou da pesquisa para roteiro "Foliar Brasil" de Carolina Paiva/2004, ambientado/filmado na Bahia/Sergipe/Amazonas.

Presidente do Conselho Municipal de Cultura (1995), Presidente da Funcaju (1996), Vice-Presidente do Conselho Municipal de Cultura (1997), Membro do Conselho Estadual de Cultura (2001-2005), Membro do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (2003-2004). Membro do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, do Sindicato dos Artistas e Técnicos RJ. Membro da diretoria da Associação Sergipana de Imprensa - ASI; Fundadora do SATED/SE; Membro do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe (DRT 431/SE),do Sindicato dos Radialistas SE; Membro da Sociedade de Cultura Latina do Brasil; da Internacional Writers Associaton - IWA/EUA; da Poebras Salvador/BA; Membro fundadora da Casa do Poeta de Aracaju (2006). Fundadora da Associação Sergipana de Psiquiatria (1974); Diretora da Clínica Adauto Botelho (1976). Fundadora dos Jornais Folha da Praia (1981), com Amaral Cavalcante; Vídeo Artes News (1987), com Alfredo Mendonça; Pipiri - O Jornal da Cultura/PMA/1986, com Lânia Duarte. Editora da Revista da SCAS, com Amaral Cavalcante (1981); Fundadora/Editora do Jornal O Capital (1991). Prêmio ASI de Direção de Teatro/1995 com a peça "As Criadas", de Jean Genet. Prêmio Arlequim de Mármore/UFS/1995, Direção de "As Criadas"; Sócia fundadora e Vice-Presidente da AMART - Associação Amigos da Arte através da qual editou a Série "Arte e Vida" de artistas plásticos sergipanos e "Zé Peixe - Uma Vida no Mar", além de vários projetos e eventos, com destaque para o Cantinho da Arte Unimed, Cantinho Cultural dos Correios, Espaço Cultural da Assembléia Legislativa/SE, da qual é curadora.

Dirigiu o Complexo Cultural Lourival Baptista - da Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe, onde reativou e coordenou os Prêmios Santo Souza, de Poesia e Núbia Marques, de Contos - 2003-2004. Dirigiu a Galeria Horácio Hora/SEC, 2003/04.

Participação em incontáveis júris de Teatro, Música, Poesia, Literatura, Fotografia, Cinema e Vídeo, destacando: Júri do Concurso de Roteiros do Rio-Cine Festival em 1984 e 85; Júri do Prêmio SESI de Teatro em Brasília/DF, 1995; Júri do Prêmio Multicultural do Jornal Estado de São Paulo 2001 e 2002; Júri do Prêmio Sociedade de Cultura Latina do Brasil, 2005; Fundadora do Prêmio Capital de Resistência ao Ordinário e coordenadora, desde 1997. Textos e poemas publicados em impressos nacionais e internacionais, como "Anto - Revista Literária" editada em Lisboa pelo Gabinete Português de Leitura; New Wave - IWA/Ohio/EUA; II Convívio, do Sul da Itália; La Circulair, da Tunísia; Perigrama, de Atenas/Grécia; The Moon Light of Corea, de Seul; New Poetry of the World, China; Dimensão - Revista Ibero-Americana de Poesia. Participa de diversas antologias nacionais, como "Nova Poesia Brasileira" - org. Olga Savary/RJ/1992; livro "Rimbaud no Brasil" - org. Carlos Lima/RJ/1993; antologia Poesia Sergipana do Século XX - org. Assis Brasil/Imago/RJ/1998; Catálogo da Produção Poética nos Anos 90 - org. Leila Míccolis/RJ/1995; Álbum de Sergipe - org. Benvindo Salles de Campos/1989; Revista da Poebras Salvador/BA, 2002/03/04/05.

Homenagens: Medalha da Ordem do Mérito Serigy - Oficial - PMA/1996; Medalha do Mérito Parlamentar - Assembléia Legislativa de SE/2003; Medalha Sílvio Romero da Academia Sergipana de Letras/2003; Medalha do Mérito Cultural Ignácio Barbosa/PMA/2005. Eleita "Mulher do Século XX" pelo SESC/SE/2001; Comenda da Integração Mercosul/Bento Gonçalves/RS/1995; Prêmio Ativista Cultural da União Brasileira de Escritores/RJ/1997; "The Best of the World - Journal Cultural" O Capital/IWA/EUA/1995. Senadora da Cultura pelo Congresso da Sociedade de Cultura Latina - Seção Brasil/SP, diplomada em 11 de maio de 2004. Servidora municipal lotada na Funcaju. Curadora do Espaço Cultural da Assembléia desde 2003. Ilma Fontes email: ilmafontes@yahoo.com.br

Texto e imagens reproduzidos do blog: escritorreginaldoamorepazcbb.blogspot.com.br

Postagem originária do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 18 de março de 2017.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Alexandre Gomes de Menezes Netto (1926 - 2017)








Publicado originalmente no Facebook/Lucio Prado Dias, em 28 de fevereiro de 2017.

Alexandre Gomes de Menezes Netto - Tributo a um Colega e Amigo.
Por Lúcio Antônio Prado Dias.

Alexandre Gomes de Menezes Neto nasceu em Recife, em 8 de julho de 1926, filho de Alcindor Soares de Menezes, um sertanejo de Petrolândia, comerciário que se casou com uma filha de senhor de engenho já em decadência, por causa do debacle dos engenhos de açúcar bangüê. Sua vida foi de um garoto normal, de classe média, um pouquinho abaixo da média. Com nove anos seu pai faleceu e sua mãe teve que assumir a família com quatro filhos, ele era o segundo.

Mas Dona Alice da Costa Menezes, a mãe dele, deu conta da família, a princípio fazendo o que aprendeu por diletantismo, que era a costura e depois, graças ao parentesco de seu pai com Agamenon Magalhães, que foi interventor em Pernambuco, veio a conseguir modesto emprego numa repartição pública de Recife, no Departamento de Saneamento. Pessoa firme e tenaz, mulher extremamente bem orientada, apesar de nunca ter ido a uma escola, Dona Alice possuía uma relativa cultura e colocou os meninos em bons colégios em Recife.

Alexandre foi estudar então no Colégio Padre Félix, em Recife, cujo proprietário era o padre Félix Barreto, que foi político de prestígio da UDN como deputado influente e chegou inclusive a assumir interinamente o governo de Pernambuco como presidente da Assembleia Legislativa. Nesse colégio, Alexandre fez todos os estudos até o terceiro ano científico. Próximo ao final do curso, com 17 anos, conseguiu um emprego no Departamento de Saneamento de Pernambuco, como Auxiliar de Escrita. Três anos depois, foi nomeado para a Delegacia Fiscal como Exator Federal, cujo salário era razoável e, por isso, fez o curso médico sem deixar o emprego. Na época, a Faculdade de Medicina do Recife era uma instituição particular e o que ele ganhava na trabalho ajudava a pagar a Faculdade.

Formou-se em 1952 e um ano depois foi trabalhar na cidade de Princesa Isabel, na Paraíba, logo dirigindo o Posto de Puericultura Dom Hernandes. Fez curso de especialização em tracoma pelo Ministério da Saúde, uma doença prevalente à época. Terminado o curso foi nomeado para dirigir um posto de tracoma em Bananeiras, também na Paraíba. Durante sua permanência nessa cidade, dirigiu a maternidade local.

Em 29 de dezembro de 1954 casou-se com Dona Maria Leônia de Menezes e três dias depois do casamento, arrumou as malas e foi para Recife onde fez nova especialização na doença. Permaneceu em Bananeiras até 1957 transferindo-se para Belo Horizonte onde permaneceu por seis meses, realizando cursos no instituto Nacional de Endemias Rurais, depois Instituto René Rachout. Com a formação adquirida, poderia escolher um estado do Nordeste para trabalhar. Optou vir para Sergipe para cumprir uma “missão.”

O recenseamento geral da República de 1950 apontava Sergipe como o estado brasileiro que tinha o maior índice de cegueira e a cidade de Frei Paulo com o maior número de cegos. Recebeu ele a missão, através do DNERU (Departamento Nacional de Endemias Rurais) de descobrir as causas da cegueira que alguns atribuíam ao tracoma. Comandava o órgão em Sergipe o Dr. Pedro Rubens da Costa Barros. Estávamos em 1958 e depois de muito trabalho, visitando as escolas de todos os municípios sergipanos, Alexandre verificou que os casos de cegueira não eram decorrentes do tracoma e sim provocados por uma conjuntivite gonocócica neonatorum.

Para fazer a pesquisa concentrou o trabalho nas escolas, visitando todas elas, públicas e privadas, de todos os municípios do estado. Descobriu muitos casos de tracoma também, identificando a sua origem e operando todos os casos de sequelas que encontrava. Na época chegou a receber a crítica de oftalmologistas de Aracaju, que contestavam os números da doença, alegando que não viam esses casos chegando a seus consultórios. Nem poderia, porque o tracoma atingia mesmo era a classe mais pobre, que nunca chegaria aos seus consultórios. Quem quebrou a desconfiança foi o Dr. Lauro Porto, que o convidou para operar um caso no Hospital de Cirurgia e daí veio o reconhecimento do problema. Com a influência de Lauro, ele ganhou um aliado de peso.

Mas o reconhecimento de fato ao trabalho de pesquisa sobre o tracoma veio depois, quando o Dr. João Batista de Lima, que dirigia o posto de saúde do SESP, na capital, levou o colega aos irmãos Luiz e Antônio Garcia, que queriam ter mais conhecimento sobre o tracoma entre nós e que informações ele teria para mostrar. A enquete epidemiológica que ele fizera anos atrás foi então passada para eles e por iniciativa de Dr. Nestor Piva, publicada com destaque na Revista do Centro de Estudos do Hospital de Cirurgia, com o título “O tracoma em Sergipe”.

Em 1960, Alexandre fez também um trabalho portentoso sobre as condições gerais de saneamento em Aracaju, um levantamento sobre toda a condição sanitária de Aracaju e de suas residências, verificando água, luz e esgoto. Esse trabalho chegou às mãos do vereador Dr. Costa Pinto que fez uma ampla divulgação na Câmara de Vereadores. Devido à grande repercussão, o governador Luiz Garcia ordenou à DESO fazer as ligações de água de forma gratuita e passou a financiar também a luz elétrica. Essa ação trouxe uma grande melhoria para cidade. Com isso, o nome de Alexandre passou a ser comentado e enaltecido. Em 1963, o governador Seixas Dória o convida para o cargo de Diretor Geral de Saúde Pública, com status de secretário e com a missão de fazer o anteprojeto de criação da secretaria, que só viria a ser implementada, no entanto, no governo seguinte, o de Celso Carvalho. Na deposição de Seixas, em 1964, pelo golpe militar, Alexandre não era mais o “Secretário”, já havia pedido exoneração, desencantado com a burocracia e as dificuldades para atuar.

Com o advento da Faculdade de Medicina, os médicos Antônio Garcia e Fernando Sampaio visitaram o DNERU para convidar o Dr. Pedro Rubens para ser o primeiro professor do curso de parasitologia, após a recusa de Dr. Armando Domingues, que morava em Salvador onde possuía um laboratório de análises clínicas, de regressar para Aracaju. Pedro Rubens também não aceitou o convite mas indicou o nome de Alexandre Menezes que, por sua vez, vaticinou: “Eu vou, mas levo os colegas Cleovansóstenes Aguiar e José Nóbrega Dias comigo, para dividir a responsabilidade, cada um ficando com uma área”.

Garcia e Sampaio aceitaram a proposta dele e o curso de parasitologia foi ministrado em 1963, no terceiro ano de fundação da faculdade. No ano seguinte, passou a fazer parte do segundo ano do curso médico. Sem receber salários por mais de um ano, lembro-me da conversa que tive com Dr. Alexandre, tempos atrás. Dizia-me ele: “ a gente assinava os recibos dos três primeiros meses do ano e mandava para o ministério, que só liberava o pagamento no final do ano. Mas aí chegava Antonio Garcia e Fernando Sampaio e diziam: aqueles recibos, que você assinou, o dinheiro chegou, mas abra mão, a faculdade tá precisando tanto, muitos alunos estão inadimplentes e é tão pouquinho, deixa pra lá. O que a gente podia fazer?”

A minha convivência fraterna com o Dr. Alexandre começou de fato em 1994, com a fundação da Academia Sergipana de Medicina. Ele foi o meu professor na Faculdade de Medicina, é fato, mas não desenvolvemos nenhum tipo de relacionamento. Participando do grupo inicial comandado por Gileno Lima, que preparou o anteprojeto de criação da Academia, Alexandre foi uma dos seus maiores sustentáculos morais e éticos.

Membro fundador da Cadeira 02, que tem como patrono o Dr. Antônio Militão de Bragança, produziu uma alentada biografia de seu patrono e foi o nosso maior “legalista”, evocando o cumprimento rigoroso do estatuto e do regimento do sodalício, sempre presente em todas as reuniões, ordinárias, extraordinárias e solenes, enquanto a sua saúde permitiu. Mesmo sem comparecer às sessões dos últimos anos, Dr. Alexandre mostrava-se atento e vigilante, ligando-me por diversas vezes para dar opiniões e me aconselhar sobre os caminhos a ser seguidos, como um farol a iluminar a nossa trajetória. Ficamos amigos e confidentes, em mútua admiração.

A morte desse grande vate, ocorrida nesta terça-feira, 28 de fevereiro de 2017, vai encerrando aos poucos um ciclo de ouro da nossa Medicina, onde restam poucos pra contar as histórias que ele sabia, que não eram poucas. Uma perda irreparável para a nossa Academia e para a Saúde Pública de nosso Estado. Sua vida e a sua obra serão eternas e o seu legado permanecerá sempre vivo na minha memória, por seus feitos, suas histórias e “causos”, sua irreverência e fina ironia mas, principalmente, pela sinceridade e lealdade, a meu ver, as marcas maiores de sua personalidade.

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.


Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de 01 de março de 2017.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Morre Pedro Evangelista de Castro, 94 anos

Foto reproduzida do Facebook/Alexandra Brito.

Faleceu em Aracaju, no dia 30 de janeiro de 2017, o Sr. Pedro Evangelista de Castro, 94 anos.

Pedro Evangelista foi fundador da empresa Escritorial e da Câmara de Dirigentes Lojistas de Aracaju (CDL), órgão que presidiu entre os anos de 1963 e 1964, e membro da diretoria da Fecomércio por vários anos.

Pedro era um homem com visão empreendedora, dedicou-se ativamente às causas do comércio, e entidades de classe com respeito, atenção, coragem e detinha o respeito da classe empresarial sergipana, com sua atuação focada no desenvolvimento do setor produtivo em Sergipe. Sua morte é lamentada e seu exemplo, inspiração para todos os empresários de nosso estado.

“Sergipe perde um dos grandes homens do comércio local. O nome de Pedro Evangelista marcado pelo sucesso, atenção e dedicação pelo fortalecimento do comércio sergipano. Perdemos um exemplo de dignidade e honradez, com seu passamento para o oriente eterno. Minha solidariedade à família, amigos e colaboradores da Escritorial, uma das empresas mais respeitadas do mercado sergipano” (Laércio Oliveira).

Fonte: fecomercio-se.com.br

Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de  3 de fevereiro de 2017.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Falece o professor Leão Magno Brasil

Foto postada por MTéSERGIPE. Reproduzida do:
Facebook/Ubiratan Mendes>‎Ex-Colegas do Atheneu Sergipense.

Publicado originalmente no site do Portal ISergipe, em 21/01/2017.

Faleceu nesta sexta-feira o professor Leão Magno Brasil

Morreu na noite desta sexta-feira (20), o professor Leão Magno Brasil. Seu corpo está sendo velado na Osaf, na rua Itaporanga em Aracaju e o sepultamento será no período da tarde no cemitério Santa Izabel.

Trajetória - Leão Magno foi professor do Colégio Atheneu Sergipense e deixou marcas pela maneira como tratava os alunos, que ainda hoje o elogiam pela maneira simples, porém firme com que tratava as pessoas.

Nas redes sociais, ex-alunos de Leão Magno, fazem referência a seu nome, lembrando com saudades e lamentando o seu falecimento. Uma das ex-alunas de Leão, foi a jornalista Aldaci de Souza que também externou seu sentimento. "Estudei no Colégio Atheneu Sergipense no período que Leão foi diretor. Lá pelos idos de 1982. Era considerado um diretor linha dura na aplicação da disciplina. Mas também sabia brincar e todos os alunos o respeitavam. Compartilhava os problemas com a família, sempre orientando. Enfim, um grande educador. Perda lamentável", disse a jornalista Aldaci de Souza.

O diretor de comunicação da Alese, jornalista Marcos Aurélio, que também foi aluno de Leão Magno, lamentou a sua morte. No grupo de WhatsApp Café com Política, Marcos disse que "informação sobre a morte do professor Leão Magno Brasil. Linha dura, mas com respeito e cuidado dos seus alunos. E todos nós o respeitávamos".

Texto reproduzido do site: isergipe.com

Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de 21 de janeiro de 2017.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A morte de um grande vate


Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 03/01/2017.

A morte de um grande vate.
Sergipe perde Wagner da Silva Ribeiro.

Por Lúcio A Prado Dias.

Sergipe perde um de seus mais ilustres intelectuais, de rara inteligência.

Morreu nesta segunda-feira, no segundo dia de 2017, Wagner da Silva Ribeiro, aos 72 anos.

Nascido em Ilhéus em 18 de março de 1944, transferiu-se ainda criança, aos três anos de idade para Aracaju. Fez de nossa cidade o seu lar, onde constituiu família. Casou-se com Ivana Almeida e teve dois filhos: Wagner (Waguinho) e Fernando (Fernandinho).

Wagner Ribeiro descende de pródiga intelectualidade. Seu avô, José da Silva Ribeiro criou, em 1919, em Aracaju, com outras personalidades culturais da época, uma instituição recreativa denominada "Hora Literária", que foi transformada depois numa sociedade literária de caráter acadêmico "autônomo”, por decisão de uma assembleia geral em 1927. A partir de 1929, a Hora Literária converteu-se na Academia Sergipana de Letras.

As primeiras reuniões da entidade aconteciam numa casa na rua de Japaratuba (atual Calçadão da João Pessoa), sob a presidência do General José Calazans, passando mais tarde a serem realizadas na residência do Coronel José da Silva Ribeiro, no alto do Santo Antônio, razão pela qual alguns autores a denominam de Hora Literária do Santo Antônio.

Wagner da Silva Ribeiro é sobrinho do grande historiador sergipano José Calazans e irmão, entre outros, do médico e escritor Marcelo Ribeiro, também membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Sergipana de Medicina, escritor vasto, de contos, crônicas e poesias.

Minha convivência com ele foi traçada pelos laços de família que nos unia. Sua esposa, Ivana, é irmã de Ângela ( minha cunhada e viúva do mano Marcos Prado). Os dois, Marcos e Wagner, eram mais do que concunhados, eram irmãos na amizade e respeito. Na doença de Marcos, que trouxe seu desenlace em 2013, Wagner foi grande companheiro e confidente, amigo de todas as horas. Uma solidariedade exemplar!

Professor aposentado do Departamento de Direito da UFS, membro da Academia Sergipana de Letras, onde ocupava a Cadeira 11, que tem como Patrono Francisco Antônio de Carvalho Lima Júnior, sucedeu o pai José da Silva Ribeiro Filho na Cadeira. Era ainda Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Publicou diversos livros de poesia: Adversus, Cantares do Mar Egeu, A angústia de Zeus, Memorial do Aedo, Cantar de Ariadne, Cantar do Minotauro, Tributo aos Deuses Lares e Coroa de Sonetos, e teve várias dessas obras premiadas por instituições locais, nacionais e internacionais, entre elas a União Brasileira de Escritores, o governo francês ( Palmes Académiques), o Consulado Geral da Grécia ( Diploma do Mérito Cultural, conferido pela República Helênica).

Wagner Ribeiro fará muita falta na poesia sergipana e definitivamente se juntará aos grandes poetas, como Santo Souza e outros, no panteão dos gregos, em confabulações eternas.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/lucioapradodias

Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de 5 de janeiro de 2017.

Wagner Ribeiro morre aos 73 anos de idade

Foto: Instituto Marcelo Deda.


Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 02/01/2017.

Wagner Ribeiro morre aos 73 anos de idade.
O membro da Academia Sergipana de Letras estava hospitalizado.

Por Moema Lopes.

Faleceu aos 73 anos de idade Wagner Ribeiro, jurista, poeta e membro da Academia Sergipana de Letras. Ele estava hospitalizado e a notícia da sua morte chegou à Academia na manhã desta segunda-feira, 02, através de familiares.

O velório será na Capela C, do cemitério Colina da Saudade, hoje a partir das 15 horas. E o enterro será amanhã às 10 horas na Colina da Saudade.

Há informações de que Wagner Ribeiro sofria de um câncer, passou um tempo em São Paulo, fazendo tratamento e quando retornou foi internado no Hospital São Lucas, em Aracaju, onde permanecia hospitalizado.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/noticias/cultura

Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de  2 de janeiro de 2017.

Cantar de Adriadne, de Wagner da Silva Ribeiro

Teseu abandona Ariadne na ilha de Nexos
Tela de James Herbert Draper.

Publicado originalmente pelo blog Academia Literária de Vida,
em 16 de dezembro de 2012.

Cantar de Adriadne, de Wagner da Silva Ribeiro
Por Maria Lígia M. Pina.

Cantar de Ariadne é o atual lançamento poético de Wagner da Silva Ribeiro. Como outros livros da sua autoria é inspirado na Mitologia Grega. Trata da Lenda do Minotauro de Creta que exigia da submetida Grécia o imposto anual de 14 jovens (sete moças e sete rapazes) para serem devorados pelo monstro. Numa dessas levas foi o jovem Teseu, que já era conhecido e louvado por seus feitos heróicos. Teseu, louro e belo, encantou a filha de Minos, rei de Creta. Apaixonada, Ariadne ofereceu a Teseu o meio de penetrar no Labirinto e matar o Minotauro: um novelo de linha para guiá-lo na ida e na volta e uma lâmpada para clarear o tortuoso caminho. Livre, liberto o povo ateniense, Teseu abandona Ariadne na ilha de Nexos. O beneficiado repudia a benemérita e mais, levando consigo Fedra, irmã de Ariadne. Sozinha na ilha, a jovem princesa cretense entra em desespero, lembrando as falsas juras de amor do seu amado. Chora, soluça até lágrimas não mais ter. e promete nunca mais amar. Mas... de repente se espanta ao se ver pensando em encontrar outro amor, alguém que realmente a ame.

Wagner empresta a sua verve a Ariadne, que exclama:

Cego amor, que tão cedo me atingiste,
ó foi tão curto o tempo de prazer,
não deixes que se estenda o do tormento.
Reacende a chama dos meus olhos e
faz que, olvidando o que colheu primícias,
possa eu viver um novo e longo enleio.
E recobrando a lucidez, exclama:
Mas que súplica é essa, eu ensandeço?
Inda o peito a sangrar e cortinado
o olhar por este pranto tão profuso
que também me reprova a ingenuidade:
inda quando esta dor não merecida
maldiz Teseu e o ódio que secreta
clama aos céus que o fulmine a qualquer preço,
– se nunca mais puder tê-lo ao meu lado.

De repente, ouve música:

Uma longínqua música me chega
Entrecortada pela voz do vento.
Não me parece um canto dissoluto
que já retorne ao seio do silêncio.
Vem num crescendo; ou a minha alma ferida,
desesperada busca um lenitivo.
– Quem sabe, essa longínqua música, – quem sabe,
um adejo divino sobre as mágoas?
– Ao coração falou-me antes que o ouvido a percebesse.

E ela compreende: não foi o acaso que a levou àquela ilha. E ouvia mênades, flauta, tamborim. Diante daquela música, sobe ao monte e de repente, todo o seu pesar, toda a sua dor desaparece, vendo Dionísio dançar para ela. Sem que ordem fosse dada e sem concerto
fez-se silêncio, e um círculo formou-se
em torno de mim e ao deus, que, sem palavras
tanto me disse com o belo sorriso
e um olhar todo de ternura feito.

Estava superada a dor de Ariadne. Todo aquele desfecho havia sido programado no Olimpo... Só um amor cura a dor de outro amor.

E Teseu? Voltou para Atenas tão feliz que esqueceu de trocar as velas fúnebres do navio pelas brancas. E Egeu, avistando as velas negras, supondo que o filho tivesse morrido, atirou-se ao mar que recebeu o seu nome. Sentiu Teseu na carne o seu momento de dor. Mas Cronos se encarrega de fazer passar todo o mal e todo o bem. No fim, toda amargura é saneada. Todo pranto é enxugado.

Encantou-me o Cantar de Ariadne, mais que Os Cantares do Mar Egeu. Talvez porque a dor da princesa de Creta é mais próxima de nós. É dor humana. Dor que nos curva sob o peso de uma grande perda que não necessariamente a do amor entre homem e mulher. Pode ser a perda da mãe, do pai, do filho ou de um bem qualquer. Dor que para ser superada há de encontrar um outro objetivo: veja a mãe do cantor Cazuza. Superou o sofrimento dedicando-se a melhorar a vida de outros portadores do HIV. Luciano Barreto, realizando o ideal do filho morto. E tantos outros... ou extravasando a dor até a última gota, lançando-a no papel, em prosa ou em verso. E como Ariadne, de repente a dor desaparece... some...

Wagner expôs em versos tão belos, translúcidos e musicais, a dor de Ariadne que eu senti o coração apertado. Parabéns, Wagner, por mais um precioso livro, trazendo de volta para nós o encanto da Mitologia Grega, da qual também sou fiel admiradora e cantora.

Texto e imagem reproduzidos do blog: academialiterariadevida.blogspot.com.br

Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de 2 de janeiro de 2017.

Um encontro com a poesia de Wagner Ribeiro


Publicado originalmente no blog Spleen e Charutos, em 17/05/2011.

Um encontro com a poesia de Wagner Ribeiro
Rian Santos [ riansantos@jornaldodiase.com.br ].

Hoje eu finalmente conheço o poeta Wagner Ribeiro. Convidado para a Roda de Leitura promovida pelo Comitê Sergipano do Proler, o autor não é apenas um dos nomes mais festejados da literatura realizada em Sergipe. Além disso, entre tantas menções distintas, Wagner Ribeiro é uma das maiores lacunas observadas em minha estante – um amontoado desorganizado de ignorâncias, brochuras e pocket books de lombadas e páginas violentadas pela curiosidade das traças.

Dono de uma obra expressiva, com seis livros publicados (Coroas de Sonetos, Cantar do Minotauro, Cantar de Ariadne, A vida cheia de véu, Memorial do aedo, A angústia de Zeus), não é de hoje que o poeta denuncia os buracos nos calçados de minha formação. Desde a época da Universidade, quando algum amigo abria um de seus volumes e me vinha com aquela poesia extemporânea, tão distante das mesinhas de plástico em que nossas cervejas e a conversa se equilibravam, entre acidentes e soluços, Wagner Ribeiro me adverte. Apesar de minha petulância adolescente – Kerouac e Ginsberg numa camiseta desbotada –, literatura é coisa de gente grande.

Há um bom par de anos, o historiador e jornalista Luiz Antonio Barreto se debruçou sobre “O memorial do aedo” e extraiu sua essência em artigo publicado no Portal Infonet, logo após o lançamento do livro. “Wagner Ribeiro tem o controle do fazer literário, conhece e domina as técnicas, sabe manejar os elementos da composição artística, adornando de toda a beleza as suas reflexões. Os textos anteriores – Cantares do Mar Egeu, A Angústia de Zeus – apontaram os caminhos preferenciais do trabalho do autor, universalizando os seus interesses poéticos”.

Proler – O Proler (Programa Nacional de Incentivo à Leitura), vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, órgão do Ministério da Cultura foi criado em 13 de maio de 1992, através do Decreto Presidencial nº 519, para promover ações de incentivo à leitura, através de Comitês espalhados pelos estados brasileiros.

Em Sergipe, o programa atua através do Comitê Sergipano do Proler, mediante convênio firmado entre a Fundação Biblioteca Nacional e a Secretaria de Estado da Cultura.

O Comitê Sergipano, instituído em 1997, tem o objetivo de promover ações estratégicas de articulação e valorização de práticas leitoras, entendendo ser o caminho para se formar cidadãos crítico e atuante no meio onde vivem. A promoção da leitura tem efeito multiplicador, o que faz novos parceiros se integrar ao Programa.

Text e imagem reproduzidos do blog: spleencharutos.wordpress.com

Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE. de 2 de janeiro de 2017.

Homenagem a Wagner da Silva Ribeiro


"Ninguém pode ser mais realista do que o rei".

"Sempre que pronuncio esta frase simples e que simboliza o conceito de óbvia verdade, lembro de quando a escutei pela primeira vez, ainda um jovem advogado. O professor Wagner Ribeiro, mestre de todos que frequentavam a Justiça do Trabalho, mostrava que peticionar exigia qualidade técnica e apurada ética, pois o dito nos autos vincula quem o diz e próprio dizer".

"Hoje o mestre trocou de sala de aula e não posso esquecer da sua simples lição. Afinal, não posso ser mais realista do que o rei que o convocou para uma nova missão. Agora ele é o imortal que sempre sempre reverenciado por seu infinito saber e inigualável ética. O nosso eterno mestre". (Cezar Britto).

Texto reproduzido do Facebook/Cesar Britto.

Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de 2 de Janeiro de 2017.

Homenagem ao Jurista e poeta Wagner Ribeiro


Homenagem ao Jurista e poeta Wagner Ribeiro.

(...) Seu primeiro poema foi escrito com apenas seis anos. “Era coisa de menino, não vou recitar não, mas até que, para minha idade, ele era muito bom”, diverte-se. O poeta afirma que a poesia desde cedo “entrava por seus ouvidos”, já que seu pai era poeta e co-fundador da Hora Literária, berço da Academia Sergipana de Letras, e sempre o levava às reuniões na residência do literato Garcia Rosa, onde ocorriam discussões sobre literatura e poesia.

Sorrindo, Wagner conta a primeira censura recebida: “eu gostava de fazer poemas satíricos na década de 60, elas envolviam políticos e fatos do dia a dia, mas meu pai pedia para que eu não os publicasse para não criar atrito com ninguém. Mesmo assim, reuni algumas prosas e versos deste tipo em um livro não publicado, chamado Desocupem a Moita”, conta.

Em Cantares do Mar Egeu e Angústia de Zeus, livros de Wagner Ribeiro premiados, nota-se facilmente a sensibilidade do poeta que afirma ter sido influenciado pelo tio, folclorista e historiador José Calazans e por José Bonifácio Fontes Neto, que o apresentou ao mundo Jurídico. As duas obras foram bem aceitas pelo público, sendo que Angústia de Zeus recebeu o título Hors Concours da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e fazem parte de uma trilogia que se completa com o livro Memorial do Aedo...

Fonte: IMD Instituto Marcelo Déda.

Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de 2 de janeiro de 2017.