quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Crime de Fausto Cardoso


O Crime de Fausto Cardoso (*)
Por Acrísio Torres

Fausto Cardoso era um espírito singular, de extremos. Passava da arrogância desmedida, em provocar lutas, à doçura da clemência, em conceder perdões; do silêncio do gabinete, onde era filósofo, lançava-se ao tumulto da praça pública, onde era revolucionário. Pontificou em vários pontos da ciência. Escreveu obras notáveis. No Cosmos, sonhou com a hegemonia do direito, na Taxeonomia Social, desvendou o âmago da história, em Lei e Arbítrio, pregou a ditadura no próprio seio do congresso nacional. No jornalismo, sua pena foi o estilete dos tiranos. Tomou de “assalto” todas as tribunas, a acadêmica, a judiciária, a dos comícios, a parlamentar, nas quais empolgava, concentrava as atenções, as aclamações, os aplausos. Era o tribuno invejado, invejável.

Foi assim Fausto Cardoso. Filósofo, historiador, jornalista, tribuno, poeta, revolucionário. Raro na sua originalidade. Tocado pelo gênio, tal era o vigor e arrojo de seus vôos, só impedidos mesmo por uma bala de carabina. Esse herói carlyliano, nascido em Divina Pastora, em 1864, estava destinado a sucumbir numa tragédia política que sensibilizou o estado, a nação. Tudo ocorreu em 1906, em 28 de agosto, devido a um conflito de mentalidades políticas.Culminava um grave conflito ideológico, na época. Fausto Cardoso, de um lado, encarnava o pensamento liberal, o espírito revolucionário, e, Olímpio Campos, de outro, o ideal conservador, contra-revolucionário, interessado na ordem estabelecida.

Fausto Cardoso, deputado federal, chefia a revolta progressista, com o apoio da força policial. Guilherme Campos, presidente do estado, irmão de Olímpio Campos, é deposto. Não lhe restava senão pedir a intervenção federal, assegurada no artigo seis da constituição de 1891, a primeira republicana. Rodrigues Alves, presidente da república, autorizado pelo congresso nacional, ordenou ao general Firmino Lopes Rego, comandante do primeiro distrito militar, repor no poder o governo legal. Era 28 de agosto de 1906. Gumercindo Bessa, dos amigos que em vão tentaram demover Fausto Cardoso de reação, foi o último a deixar o palácio do governo. Chorava. Eram lágrimas prenunciadoras da tragédia.

Firmino Lopes, baldadas as tentativas de dissuadir Fausto, ordenou fosse evacuado o palácio do governo. Era soldado, cumpria ordens. Os soldados penetraram o palácio, no momento em que Fausto, sem medo, sem receio, como se sentisse que ia (ou devia?) morrer, gritou da escada: - “Atirem, bandidos!”. Um tiro foi disparado. Era o fim de Fausto. Melpômene triunfava sobre Calíope. Assim morreu Fausto Cardoso. Na verdade, uma morte trágica, ocorrida num lance de aventura, nunca antes ocorrido em Sergipe, que, certamente, nunca mais se repetirá, muito raro mesmo na história política da nação brasileira. Pesado luto caiu sobre Sergipe. Em todo o país, a imprensa lamentou o trágico sucesso. No Rio, A Tribuna dizia que Fausto “foi um organismo permanentemente em ebulição, uma alma de fogo, e o fogo que lavrava nela acabou por devorá-la”.

No império, na república, não há registro de caso de tamanha gravidade. Por isso, não deixa de ser estranho que, na comunicação ao congresso nacional, de que havia sido reposto o presidente de Sergipe, Rodrigues Alves não haja feito a menor referência à morte de Fausto. Dizia apenas “o que de mais ocorreu consta dos documentos anexos”.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 13/14.

- Sobre a referência final, do presidente da república, Rodrigues Alves, o autor recomenda a leitura de “Fausto Cardoso e a Revolução de 1906”, de José Calasans.

Foto e texto reproduzidos do blog: clovisbarbosa.blogspot.com.br

De Clóvis Barbosa.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de dezembro de 2012.

Quem foi Professora Núbia Marques?

Foto: Marinho Neto.

Quem foi Professora Núbia Marques?

Professora Núbia Nascimento Marques nasceu na cidade de Aracaju em 21.12.1927 e faleceu em 26.08.1999. Cursou o primário no Colégio Menino Jesus, o Ginásio e o Clássico no Colégio Atheneu Sergipense, onde integrou a Arcádia Literária Estudantil. Graduou-se em Serviço Social e era Mestra pela PUC de São Paulo. Ensinou o 1º e o 2º graus, além disso, foi professora da Universidade Federal de Sergipe. Geriu o Departamento de Cultura e Patrimônio Histórico e presidiu a Fundese.

Atuava nos estudos de comunidades, de mulheres trabalhadoras e da igualdade de gênero. Foi exemplo de força através da realização de denúncias e organização de movimentos pela Anistia em Sergipe na época da Ditadura Militar.

Sempre foi independente em suas ações, complementando suas obras com traços modernos e desafiadores. Poeta e romancista, Núbia foi a primeira mulher a fazer parte da Academia Sergipana de Letras. Atualmente permanece entre os grandes destaques da nossa literatura, o que demonstra a atuação da mulher brasileira no campo das letras. Feminista, emprestou toda sua rebeldia as obras, nas quais fica evidente a sua indignação diante das injustiças praticadas na sociedade.

Sempre com um toque de artista, dedicou-se à pintura e ao desenho. Em 1948 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde frequentou a Sociedade Brasileira de Artes Plásticas. Logo após o seu casamento regressou a Sergipe. Foi autora de várias obras, dentre elas: “Dente na Pele”, Berço de Angústias, O Passo de Estefânia, O sonho e a Sina. Para comemorar seus setenta anos de existência e o quadragésimo ano de imersão no universo literário que a transbordava e que a cercava, Núbia lançou em 1997 Caminhos e Atalhos. O livro Do Campo à Metrópole foi lançado postumamente em 1º de setembro com o apoio da empresa G. Barbosa e pela família da autora.

Texto Reproduzido do Blog: abrigonubia.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de dezembro de 2012.

Horácio Hora


Horácio Hora **
Fonte: GOIS, Baltazar. Biographia de Horacio Hora (1901)

Thiago Fragata*

Nos idos de 1959, ao conceber o projeto expográfico do Museu Histórico de Sergipe, Jenner Augusto idealizou sala dedicada a obra de Horácio Hora. Com o apoio do irmão, Junot Silveira, e do próprio Governador, Luis Garcia, assim fez.[1]Em abril de 2007 a instituição cerrou as portas para uma restauração e desde sua reabertura em novembro do ano passado que o público ansiava pela reativação da Sala Horácio Hora, visto que a instituição detém maior acervo do artista romântico.

Nascido na cidade de Laranjeiras, no dia 17 de setembro de 1853, filho de Maria Augusta Hora e Antônio Esteves de Souza, cedo Horacio Hora revelou inclinação para o desenho e artes plásticas. Fez os primeiros estudos na terra natal. Seu talento sensibilizou a Assembléia Legislativa da então Província de Sergipe que concedeu subvenção para estudar e aperfeiçoar seu trabalho na Escola de Belas Artes de Paris, França. Falecido no dia 28 de fevereiro de 1890, em Paris foi enterrado, longe dos familiares, da sua pátria. Na imprensa baiana, a notícia foi publicada somente em 1 de abril.[2]

O principal estudo biográfico sobre o artista foi publicado por Baltazar Góis, onze anos depois de sua morte. Na “Biographia de Horácio Hora: pintor sergipano”, de 1901, o autor discorre sobre a vida e a obra do artista, com adendos de João Ribeiro, Gumercindo Bessa e Manuel dos Passos.[3] Recentemente, chegou ao nosso conhecimento um artigo de Manuel Curvelo de Mendonça (1870-1914) não-citado na referida biografia. Independente de qualquer justificativa evocada para o esquecimento de Góis, reproduzimos o achado a fim de endossar futuras pesquisas:

“Não posso resistir ao impulso de trazer para aqui, posto que confusamente, as impressões amargas que me tocam o espírito, ao ter a notícia da morte de Horácio Hora, o saudoso artista sergipano.

Não sei mesmo o que contribui mais para avivar este desejo: se a simpatia que desde criança tenho pelo ilustre pintor, ou se a consternação que nos deixa sempre no espírito o desaparecimento de uma dessas raras personalidades, que vivendo obscuramente, entregue ao serviço de uma causa, de uma ciência, ou de uma arte, deixam, morrendo, um vazio tanto maior, quanto mais difícil é de ser preenchido, o que não acontece, ao menos entre nós, com esses grandes da política, aos quais aliás rendem-se, em momentos idênticos, suntuosas homenagens.

É provável que essas duas circunstâncias hajam pesado do mesmo modo neste meu empreendimento, nelas, pois, encontra ele sua explicação e justificativa.

De todas as manifestações intelectuais de um povo qualquer, a arte é, fora de toda dúvida, uma das que mais próprias são para significar o grau de adiantamento em que ele permanece. Dar à matéria a forma de suas idéias e de suas crenças, traduzir do modo que lhes é permitido, o estado do seu espírito, tal é, conforme o que me parece de mais verossímil, uma das primeiras preocupações das sociedades, ao se constituírem.

Afora o pendor natural pelo belo, tanto mais palpável quanto mais civilizado é o povo onde ele se faz sentir, tal é a causa imediata do apreço em que são tidas as artes nas grandes nações e do acoroçoamento que lhes deve um governo bem intencionado. Entre nós, todavia, a política nos tem assoberbado. Eis porque “a nossa instrução artística”, na frase caustica de José Veríssimo, o novel, mas já tão autorizado crítico paraense, “envolve-se ainda nas sombras do mito”.

Ma não é isto o que me importa neste momento. Penso firmemente que Horácio Hora merece um completo estudo crítico, que nos venha revelar todas as variações e irradiações de que era capaz e seu belo talento artístico. Não serei eu quem leve, quem pretenda levar avante semelhante cometimento, para um tal estudo a falta dos documentos indispensáveis seria um enorme obstáculo, se maior e em primeira linha uma outra não viesse se antolhar – a minha incompetência.

O Brasil, ou pelo menos, Sergipe precisa saber quem foi seu filho que a morte acaba de surpreender em Paris, quero dizer, no único lugar onde ele pode dos recursos de sua arte, honradamente viver. Nesse estudo deve ser salientado o “nacionalismo” de seus quadros e... não hesito em dizer, de todos os seus quadros, visto como penso que esse notável caráter há transparecido em seus trabalhos, com a dupla vantagem de torná-lo um artista verdadeiramente brasileiro, digno de nós, e de conservá-lo em sua originalidade, isto é, deixando entrever neles um “quê” indefinível, que é o reflexo do supremo encontro de nossa natureza inesgotável, que não se afastou do artista em sua peregrinação pelo velho mundo e que tão claramente se manifestou nos últimos momentos de sua vida, nestas palavras de amor: “longe da pátria”.

Seja permitido aqui fazer uma pequena digressão. Com ternas reminiscências da infância, ainda tenho bem vivas na memória as impressões de uma tarde em que estive com o ilustre pintor em Laranjeiras, nas encostas de um dos morros dessa cidade, quando ele se entregava aos seus trabalhos de arte.

Eu passava pela estrada que vai ter a Igreja do Bomfim, sita no cume do outeiro do mesmo nome, quando avistei-o embebido no seu mister. Semelhante descoberta era de natureza a atrair-me a curiosidade, tão acesa quanto era natural na idade em que eu estava. Lá chegando, só por instinto, reprimir a ansiedade de fazer-lhe mil perguntas, no que fui sempre muito pródigo a ponto de tão poucas vezes tornar-me imprudente.

Naquele instante, porém, fui de uma extraordinária paciência, que não passou despercebida ao nosso artista. Num intervalo em que parecia descansar como quem termina a elaboração de uma estrofe, virou-se para mim, que sentado numa anfractuosidade da encosta, entretinha-me quedo na contemplação do que não compreendia, e perguntou-me o que achava no que via, isto é, nos traços que esboçavam a tela.

- “Não sei como dessas linhas possa sair a cópia fiel desse belo quadro que ali vemos, mas gosto de ver como se faz aquelas bonitas pinturas que tem no seu gabinete”, disse-lhe eu com a intimidade e afoiteza das crianças. Não tenho fiel recordação do mais, porém sei que fiquei muito satisfeito com a palestra e votando-lhe já uma embrionária admiração, porque via nele um homem diferente dos outros, visto fazer coisas que os outros não faziam. Hoje, traduzindo esse “ser diferente dos outros” por – gênio – folgo ao considerar que naquele tempo eu já o tinha como tal.

Peza-me bastante estar na impossibilidade de acrescentar aqui uma resenha mais ou menos perfeita de seus trabalhos. Alguma coisa que sobre mérito afirmei, quer me parecer seja de fácil verificação. O “nacionalismo” tem no quadro “Pery e Cecy” atualmente na Bahia, a mais eloqüente confirmação do que eu disse a esse respeito. Creio que a representação da deliciosa passagem do Paquequer em nada desmerece da bela criação de José de Alencar.

Pela natureza dessas linhas, cujo alvo não ultrapassa o mero desejo de associar minhas mágoas as de meus conterrâneos pelo triste fim de nosso ilustre irmão, por sua natureza, digo eu, tendo-se ela em vista, se me desculpará que eu só tenha tido para ele elogios. Defeitos, se os tem, e censuras, se as merece, só a crítica compete apontá-lo e fazê-las, mas... com sobriedade e cordura para não afugentar os poucos talentos que em tal arte ousam se desenvolver entre nós, a ponto de se tornarem “avis rara”.

Uma homenagem ao honrado artista sergipano, cujo laureado pincel a morte acaba de paralisar tão atrozmente, - eis o destino destas despretensiosas palavras. E... Como precedi-as de um belo pensamento de Bernardin de Saint Pierre [um túmulo é um monumento colocado no limite de dois mundos], fecho-as com uma não menos expressiva sentença de Álvares de Azevedo, um dos maiores escritores brasileiros antigos e modernos: “é ainda uma aurora sem dia que perdeu-se numa tempestade de inverno”.[4]

Eis o artigo redigido por Manuel Curvelo de Mendonça, em Recife, em abril de 1890, e publicado em Sergipe, em junho daquele ano. Sincero e emocionado com a morte do artista a quem admirava. Para não esquecer Horácio Hora, ainda que a vida tenha sido breve, sua arte, aliás, o artista vive em suas obras. Convido o leitor, apreciá-las. O Museu Histórico de Sergipe funciona de terça a domingo, das 10 às 16 horas.

* Thiago Fragata é historiador e poeta, especialista em História Cultural (UFS), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) e diretor do Museu Histórico de Sergipe (MHS). E-mail: thiagofragata@gmail.com Artigo publicado no Jornal da Cidade. Aracaju, ano XXXIX, n. 22/6/2010, p. B6

NOTAS DE PESQUISA
[1] FRAGATA, Thiago. Cinqüentenário do Museu Histórico de Sergipe: Jenner Augusto (III).Jornal da Cidade. Aracaju, ano XXXIX, n. 11322, 14/04/2010, p. B-6.
[2] GOIS, Baltazar. Biographia de Horacio Hora: um pintor sergipano. Aracaju: Impr. Estado de Sergipe, 1901.
[3]NUNES, Verônica; CARVALHO, Ana Conceição Sobral. Horácio Hora. Aracaju: Governo do Estado de Sergipe, 1982, p. 25.
[4] MENDONÇA, Manuel Curvelo de. Horácio Hora. O Republicano. Aracaju, ano II, n. 151, 1/6/1890, p. 3.

**Foto e texto reproduzidos do blog museuhsergipe.blogspot

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de outubro de 2012.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Antônio do Amaral Cavalcante.

Foto: reproduzida do Facebook/Araripe Coutinho.

Do Blog da Folha da Praia, em 22/06/2004.

Perfil - Antônio do Amaral Cavalcante.
Por Andreza Azevedo.

Uma folha de papel pautado. Um misto de literatura e reproduções de notícias de jornais do "Sul" do Brasil... Foi com esse material que, Antônio do Amaral Cavalcante, nascido em Simão Dias (SE) em 11 de julho de 1946, foi capaz de levar a informação às pessoas mais "letradas" de Itaporanga D'Ajuda, onde ele residia na década de 50.
O diferencial é que isso era feito com apenas um jornal totalmente manuscrito, levado de casa em casa: as pessoas liam o jornal e o devolviam com uma gorjeta para que outras pessoas lessem. Amaral diz que todo esse interesse pela informação nasceu através da convivência com sua tia Maria dos Anjos, que era professora, escritora e alquimista. Além disso, ainda garoto, ele tinha uma "biblioteca" em casa que o estimulava à leitura.

Pode-se dizer que Amaral teve uma infância e adolescência privilegiadas. Esse hábito de leitura resultou no exercício de atividades político-estudantis nas décadas de 60 e 70, na fundação de um grupo de leitura em Simão Dias, onde concluiu o antigo Ginásio e no início de atividades teatrais.

Mas foi com a vinda para Aracaju que o jovem Amaral fortaleceu suas atividades culturais. Depois de ter convivido com poetas como Santos Souza, José Augusto Garcez e José Sampaio, ele pôde escrever seus poemas e aperfeiçoá-los, com a influência de professores como Glorita Portugal, sua mestra no Colégio Atheneu Sergipense, onde fez o antigo curso Secundário.

Foi assim que, mesmo trabalhando como vendedor ambulante ou balconista de movelaria, e estudando à noite, Amaral conseguiu ingressar na Academia dos Jovens Escritores, dirigida pela escritora Carmelita Fontes, e, finalmente, fazer parte das atividades jornalísticas do Sergipe Jornal, de propriedade de Oviêdo Teixeira. Depois, junto a Luiz Eduardo Costa, Hugo Costa e outros, ajudou a implantar o Diário de Aracaju, um jornal ligado ao grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand.

"Há alguma coisa na cultura sergipana que nos dá uma autopequenez. Nós nos imaginamos pequenos diante da cultura dos outros. Mas certamente somos capazes de desenvolver a nossa riqueza cultural e aperfeiçoar e recuperar a nossa identidade"

Movido pelo desejo de produzir mais, Amaral criou e manteve por muito tempo a coluna de variedades "Pique Geral", no Jornal da Cidade e na Gazeta de Sergipe. Isso o tornou conhecido entre os leitores dos jornais sergipanos, que apreciavam sua linguagem e forma de trabalhar inovadoras.

Amaral convivia com personalidades como Ilma Fontes, Mário Jorge, Lu Spinelli, João de Barros, entre outras. Essa convivência foi determinante para o movimento contracultural em Sergipe, e possibilitou uma interação com a produção alternativa do país e de centros internacionais de contestação cultural. O objetivo era revolucionar o comportamento da sociedade.

Para isso, o nascimento da "Turma do Parque", célula que fundamentou a transformação de costumes em Aracaju, gerou o primeiro jornal alternativo da cidade, o "Margilino", mimeografado e distribuído a preços simbólicos.

Além disso, Amaral participou de produções musicais em festivais estudantis que puderam revelar compositores como Paulo Lobo, Irmão, Alcides Melo e Tom Robson. O Cinema também não foi esquecido. Amaral integrou o Clube de Cinema de Sergipe e dirigiu o primeiro curta-metragem policial em super-8 em Sergipe: "O Rapto". Ainda participou da produção de um curta intitulado "Arcano", dirigido por Ilma Fontes e exibido nacionalmente.

Outro sucesso foi "O Sargento Getúlio", um longa-metragem baseado em um romance de João Ubaldo Ribeiro, que foi todo gravado em Sergipe, com a participação de Lima Duarte e atores sergipanos. O resultado disso foi a conquista de quatro prêmios no festival de cinema de Gramado.

Depois de exercer diversos cargos públicos na área cultural em Sergipe, procurando fortalecer a nossa identidade cultural, Amaral, atualmente, é editor do jornal Folha da Praia e procura sempre estar atento aos acontecimentos e desenvolvimento culturais do nosso Estado. "É preciso ter brilho, beleza e uma força própria para interagir com outras culturas em pé de igualdade, e não ser simplesmente estuprado por elas".

Texto reproduzido de postagem feita por Nestor, no Blog da Folha da Praia, (22/06/2004).

Foto de Amaral: reproduzida do Facebook/Araripe Coutinho.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 29 de outubro de 2013.

Do chapéu de Panamá



Do chapéu de Panamá

Por Luiz Eduardo Oliva
Advogado e professor de Direito da Universidade Tiradentes

Dizer que a vida é ingrata é cair no lugar comum de quem choraminga. Mas a vida insiste nos lugares comuns e o que se destaca é o que chama atenção. Cresci ouvindo um lugar comum que dizia que "quem sabe, sabe, quem não sabe bate palmas". Não há melhor definição para todas as platéias da vida. O verdadeiro artista faz do aplauso o seu maior cachê, mas o aplauso não enche barriga e a vida cruel leva o vil metal a tomar o lugar privilegiado do aplauso. Há artistas e artistas, é outro lugar comum. Mas, o verdadeiro artista não se deixa levar pela tirania do vil metal e, se este não chega, ele não desiste, não se deixa levar pelo infortúnio.

O verdadeiro artista não insiste, ele é permanente em sua arte. Cria, leva-a, aonde quer que ele vá, em que situação esteja. A arte no artista não imita a vida. Ela é a própria vida. E o artista fingidor, como no poema de Pessoa, finge tão completamente. O poema é a própria resolução da vida do artista, porque, se tão completamente se chega a fingir que é dor a dor que deveras sente, o artista alegra quem em sua volta não percebe a dor do artista. São os que não sabem e, por isso, batem palmas. E isso alegra o artista, mesmo na sua dor. Bálsamo da vida que castiga.

De Ismar Barreto, poder-se-ia dizer: um artista. Melhor, no entanto, é dizer: o artista! Explosão de talento, criação permanente. Fingia que fazia música brega pra driblar as agruras da vida. Mas, sendo santo de casa, não fez milagres. E o vil metal chegou para outros tantos, a maioria brega de verdade, que não fingia, brega sendo. Ismar compôs a vida para disfarçar a própria vida. E, da viola, fez sua missão. Trouxe o humor como marca, o humor poesia. Mas soube ser melódico no chorinho, no samba canção, no xote, xaxado, baião e mais o que precisasse ser.

Os que batiam palmas sabiam que não sabiam o que Ismar sabia. Mas tinham o privilégio de pelo menos isso saber. O mais é ignorância. Os que nunca o escutaram, não o fizeram por lhes faltar a sorte de ouvir o artista. E os que o ouvindo, não souberam escutá-lo, ficaram na pequenez de não saberem ao menos "bater palmas". Jeito matreiro, nunca enjeitava a viola. Tanto fazia o palco como a mesa do bar. Cantava o que compunha ou compunha na mesma hora o que cantava. Para alguns, isso se chama improviso, para Ismar isso se chamava explosão de criação, inspiração permanente. Entremeava a música com uma conversa, com uma tirada, com um chiste. E passava, naturalmente, a ser o centro da roda. Todos virávamos satélites. Ismar, na roda, na mesa de bar, era o astro. Quisera que os palcos da vida fossem sempre como mesa de bar. Certamente, compreenderíamos que o lugar de Ismar é na galeria dos grandes artistas. Que o é, mas, infelizmente, para o grande público, não chegou a ser. Triste da pátria que precisa de heróis, dizia Brecht em Galileu Galilei. Triste da terra que despreza seus próprios talentos.

Fez do chapéu Panamá a sua marca. Desde Santos Dumont, o chapéu Panamá foi um símbolo para os brasileiros. Símbolo da engenhosidade inventiva do homem que ensinou a humanidade a voar. Símbolo do bom malandro, de uma época em que a malandragem estava no morro e na música, nunca nos corredores palacianos, que, infelizmente, ao alcançarem a malandragem, por não saber do seu significado, desvirtuou o seu próprio sentido, uma malandragem nociva, sem brasilidade nem romantismo.

O "Panamá" de Ismar, não. Foi o chapéu símbolo do homem criador, do artista decente, um chapéu que teve lugar na cabeça voadora de Santos Dumont, na cabeleira genial de Tom Jobim ou na mente criativa de Ismar Barreto. Em Ismar, seu chapéu e sua viola eram o símbolo do homem guerreiro, que nunca esmorecia, nem quando o câncer o alcançou. Se a vida lhe fora um permanente desafio, que seria um desafio a mais? Então, tratou de confortar os companheiros mais próximos dizendo que logo se restabeleceria, que outras batalhas viriam pela frente, portanto, só lhe restava compor e cantar, ou talvez, em sua solidão pensasse: cantar era preciso, viver não é preciso!

Seus últimos momentos, pelo relato dos amigos mais próximos, foram como uma tocata em fuga, em andamento rápido e quase imutável. Um prelúdio em cravo temperado. A última brisa da madrugada do dia 02 de junho, vinda do rio Sergipe soprou mais fria. Talvez encontrou, num canto qualquer, um violão e um chapéu Panamá. Certamente, deparou-se com a tristeza e deu-lhe bom dia! como na música de Adoniran Barbosa. Os símbolos de Ismar se faziam silentes. Faltava-lhes a alma que os fazia valer, para a alegria de nós todos, que hoje viramos uma platéia órfã. Ainda assim, a brisa parecia solfejar uma canção que dizia "... e quando o dia raiar e ver a vida nascer, te amo Aracaju, resolvi te viver...". Eram os últimos suspiros de Ismar Barreto!

Texto reproduzido do Blog da Folha da Praia, (30/10/2006).

Fotos reproduzidas do Portal Infonet.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 29 de outubro de 2013.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Seixas Dória, Um Homem Raro


Infonet - Blogs - Marcos Cardoso - 06/02/2012.

Seixas Dória, um homem raro.
Por Marcos Cardoso.

O ex-governador Seixas Dória foi quase uma unanimidade. Falecido na última terça-feira, dia 31 de janeiro, aos 94 anos (nasceu a 23 de fevereiro de 1917), as vozes que se ouvem sobre ele reverberam mais do que a benevolência cristã dedicada muito comumente aos que partem deste mundo dos vivos. Há uma deferência generalizada ao homem e cidadão íntegro; ao político que somava suas justas ambições ao destemor heroico que desabrochava de dentro daquele propriaense pequeno para realizá-las; ao governante que saiu (sob a ameaça das baionetas) do Palácio Olímpio Campos da forma como entrou, sem angariar nenhuma vantagem financeira que não aquelas evidentemente dispensadas aos que galgam tão elevado cargo. Uma homenagem uníssona certamente devotada a essas qualidades cada vez mais raras na vida pública.

Seixas Dória foi um homem raro.

Para homenageá-lo, reproduz-se hoje a coluna publicada no dia 21 de agosto de 2005, escrita após uma grata entrevista concedida por telefone, quando memoriou para este colunista parte de um episódio duro na sua vida, o degredo no arquipélago de Fernando de Noronha, na companhia do lendário amigo Miguel Arraes. A propósito, o título “Um herói sergipano” acabou nomeando um excelente documentário sobre a vida do ex-governador de autoria da jornalista Rísia Rodrigues.

Um herói sergipano

A homenageada coluna política “Painel” da Folha de S.Paulo cometeu uma “barrigada” jornalística e uma ofensa histórica aos sergipanos na última terça-feira, quando noticiou que, após a morte de Miguel Arraes, o prefeito de São Paulo, José Serra, teria passado a ser o único sobrevivente entre os oradores do histórico comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964. Um e-mail foi enviado ao “jornal a serviço do Brasil”, esclarecendo que o ex-governador João de Seixas Dória está aí vivíssimo, do alto do seu pouco mais de metro e meio de altura e 88 anos e meio de memória, a lembrar que foi um dos principais oradores daquela noite de sexta-feira, dia que definiu a queda de João Goulart e que desencadeou o golpe militar. Mas eles não se deram ao trabalho de publicar nem um “erramos”. Autocentrado, o paulista vive às voltas com os mistérios do próprio umbigo.

José Serra estava lá, tinha 21 anos, era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e foi o segundo orador da noite. Discurso frio, de principiante. Além, de Jango, os oradores mais aguardados da noite pela multidão de 200 mil pessoas que se espremia na Praça da República, centro carioca, eram mesmo o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e o governador de Sergipe, Seixas Dória. Este colunista abre um parêntese para fazer uma inconfidência. Em conversa com o ex-governador sergipano, ele transmitiu uma opinião e pediu que não fosse publicada, era informação em off: “Eu acho que fui o mais aplaudido”. Quem há de duvidar? O talento de Seixas Dória para discursar e inflamar multidões era reconhecido.

RETÓRICA INCANDESCENTE — Ibarê Dantas (História de Sergipe República: 1889-2000) recorda que, quando Seixas Dória discursava, não perdia oportunidade de exercitar sua retórica, que se apresentava “mais incandescente” nos discursos proferidos fora do Estado. “Seu pronunciamento de maior repercussão foi no famoso comício de 13 de março, no Rio de Janeiro, quando anunciou bombasticamente que, ao retornar a Sergipe, iria fazer a reforma agrária”, conta o historiador. O comício resultou na cassação dos mandatos dele e de Miguel Arraes. Os ex-governadores que defendiam as Reformas de Base foram obrigados a conviver por longos quatro meses no degredo em Fernando de Noronha.
Arraes foi preso já no dia 1º e enviado imediatamente ao arquipélago. Seixas, na madrugada do dia 2 de abril, sendo encaminhado primeiro ao 29º Batalhão de Caçadores, em Salvador, onde passou sete dias. Da prisão na capital baiana, enviou carta ao presidente empossado, Humberto de Alencar Castello Branco, desafiando-o a apontar o crime pelo qual estava pagando. Não obteve resposta, claro. Ali mesmo, o Exército lhe ofereceu a possibilidade de retornar ao governo de Sergipe, desde que assinasse um manifesto de apoio ao novo regime, como fizeram alguns governadores para se garantirem nos cargos. Seixas negou-se a assinar: como olharia para a mulher, os filhos e os amigos depois? Foi embarcado também para Fernando de Noronha.

ARRAES PROPÕE UMA FUGA — “Miguel Arraes falava pouco, mas tinha opiniões muito sábias”, diz hoje o ex-governador de Sergipe, acrescentando que guarda as melhores recordações do colega cearense que se tornou líder socialista e governador de Pernambuco por três mandatos (Arraes morreu no dia 13 de agosto de 2005, aos 88 anos). “Foi um homem singular, que gostava de rapadura e que queria que eu também comesse. Mas eu não gosto de rapadura”, afirma Seixas Dória, revelando que, indiretamente, evitou que ambos fossem assassinados.
“Uma vez, Arraes propôs que nós fugíssemos. No nosso quarto, havia um buraco no chão coberto por uma tampa que nós poderíamos retirar e escapar por ali. Eu fiquei receoso e ponderei: ‘Como nós vamos sair da ilha? O continente é distante e acontece que eu não sei nadar!’ Depois, nós íamos dar razão para que nos matassem. Aí eu o convenci do contrário.”

EU, RÉU SEM CRIME — Arraes e Seixas liam muito na prisão, inclusive os jornais Última Hora e Correio da Manhã, que eram contra o regime, mas que chegavam às suas mãos graças à simpatia do coronel que governava o arquipélago. “Era um homem civilizado, que nos tratava com respeito”, acrescenta. Ali, ele começou a escrever os depoimentos que acabaram resultando no livro Eu, réu sem crime, um libelo contra a opressão, publicado graças à interferência do amigo jornalista e conterrâneo Joel Silveira e o apoio do jornal Correio da Manhã. O livro tornou-se best-seller e vendeu mais de 5 mil exemplares na noite de autógrafo, segundo cálculo do autor, lembrando, humildemente, que o número é contestado. Rubem Braga escreveu, surpreendido, que a noite de autógrafos da Livraria Entrelivros, no Edifício Avenida Central, resultou na venda de 2.432 exemplares.

“Espero que os rapazes do DOPS e os do SNI, que certamente estavam por lá, tenham informado corretamente o coronel Borges e o general Golbery: toda essa gente, na maioria humilde, fazia questão de mostrar que estava solidária com o homem que foi arrancado do governo e preso durante meses injustamente. E que a gente do governo sinta que a homenagem não era apenas à pessoa de Seixas Dória: era a todos os que são demitidos, humilhados, presos e torturados. Sinta que o povo brasileiro não aprova esses processos de opressão”, disse o maior dos cronistas, em texto publicado no Jornal do Brasil no dia 29 de dezembro de 1964.

GRITOS DOS TORTURADOS — Seixas Dória lembra que o momento de maior aflição para ele e sua família aconteceu pouco antes de ser libertado. “Um dia, em Fernando de Noronha, eu fui raptado por um grupo radical do Exército e levado de volta à Bahia”, conta, acrescentando que nem ele e nem sua família sabiam onde se encontrava. Havia rumores de que estava desaparecido. “Não fui morto porque se levantou um clamor da imprensa e de alguns políticos cobrando uma explicação para o meu desaparecimento”. Então mandaram o general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar do governo Castello Branco, para mostrar à família e à sociedade que ele estava vivo. “O general me perguntou se eu estava sendo maltratado no 19º BC. Eu respondi que dependia da interpretação que se quisesse dar. Eu comia a mesma comida dos oficiais, portanto, nesse sentido não era maltratado. Mas convivia diariamente com os gritos de dor dos torturados”.

DESCASO HISTÓRICO — No final do mês de março de 2004, quando a Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, promoveu um evento para debater os 40 anos do golpe militar, Seixas Dória e Miguel Arraes participaram como conferencistas. Ali, o ex-governador sergipano definiu o movimento como uma “revolta” e não uma revolução, como denominavam os conspiradores. “Revolta é saque, é sangue, é desordem, é violência, é quartelada. Revolução é quebra de estruturas arcaicas”, comparou. E aproveitou para denunciar o descaso histórico dos governos nacionais com o Nordeste. Descaso que está na divisão inconsciente que há entre o Brasil do sul e o Brasil do norte e que se repete agora, quando o maior jornal do país esquece-se de um herói sergipano, um herói nacional.

No dia do lançamento de Eu, réu sem crime, 22 de dezembro de 1964, Joel Silveira escreveu assim no Correio da Manhã: “João de Seixas Dória, (...) 1,56 de altura, 58 de peso, gestos inquietos, palavra fácil, humilde e teimoso ao mesmo tempo — um ‘carne de pescoço’. (...) Quando Sergipe acerta, é assim. Acertou com Tobias, com Sílvio, com João Ribeiro. No caso de Seixas Dória, estava acertando como governador, que em catorze meses de governo modificou radicalmente a fisionomia oligárquica e semifeudal do Estado; e acertou em cheio com o prisioneiro.”
Quem não acertou foi a Folha de S.Paulo.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/marcoscardoso

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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Maior Clínico Geral de Sergipe


Infonet - Blogs - Lúcio Prado - 29/03/2012.

O Maior Clínico Geral de Sergipe.
Por Lúcio Antônio Prado Dias.

Francisco Fonseca incorporava o conceito da integral humana.

A Academia Sergipana de Medicina tem como um de seus patronos (Cadeira 14) o Dr. Francisco Quintiliano da Fonseca, considerado por muitos como o maior clínico geral que a terra de Tobias já conheceu, no século XX. Ele, melhor do que ninguém, incorporava o conceito da integral humana: um só órgão, que é o corpo, e uma só função, que é vida. Não dividia o corpo em segmentos estanques, formando um arquipélago de órgãos independentes e biologicamente livres, como lamentava Garcia Moreno na crônica Strip-tease médico, contida no livro Doce Província.

Nascido em Maruim em 26 de fevereiro de 1882, tornou-se médico pela Faculdade Nacional de Medicina, no Rio Janeiro, em 1907, defendendo a tese “Estudo clínico das hemoptises tuberculosas”.

Regressando à terra natal fundou, com os colegas Daniel Campos, Militão de Bragança, Rodrigues Dória e outros, a primeira entidade médico-associativa de Sergipe, a Sociedade de Medicina de Sergipe, em 1910, que teve vida efêmera.
Exerceu a clínica inicialmente em sua cidade natal, depois se transferiu para Aracaju. Possivelmente foi o primeiro médico sergipano a utilizar um aparelho de Rx, em 1922, fundando o Serviço de Radiologia em Aracaju, mantendo-o em seu consultório e realizando também outros exames durante a consulta médica, entre eles o exame de urina. Ou seja, o paciente saia de seu consultório quase sempre com um diagnóstico firmado, bem diferente do que acontece nos dias de hoje, com as super-especialidades e os milhares de exames diagnósticos, que fazem a festa de muitos.

Fora da Medicina, colaborou para o “Correio de Aracaju” e foi deputado estadual (1910-1911). Fez parte da Comissão Organizadora do Primeiro Congresso de Pediatria e Higiene Infantil, ocorrido no Rio de Janeiro entre 4 e 9 de julho de 1932. Faleceu em 12 de abril de 1973, em Aracaju/SE, com 91 anos. Foi sogro do médico Benjamin Carvalho, um dos expoentes também da medicina sergipana no século XX.
Relembrar a figura inolvidável de Francisco Fonseca veio a propósito de recebermos da família, como doação, uma foto do esculápio tirada no dia de sua colação de grau em 1907, dois anos antes da formatura de Dr. Augusto Leite, que se formou em 1909, na mesma faculdade e de quem se tornaria grande amigo. Era a única foto que faltava na galeria dos patronos da Academia Sergipana de Medicina.

Imagem e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/lucioprado

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 23 de outubro de 2013.

A Saga dos Braganças

Francisco Alberto de Bragança - o primeiro.

Antonio Militão de Bragança - o terceiro, o Varão Laranjeirense.

Francisco José Plácido Tavares de Bragança - o quarto.

Infonet - Blogs - Lúcio Prado - 26/09/2008.

A Saga dos Braganças.
Por Lúcio Antônio Prado Dias.

Com uma história que atravessa três séculos, a saga dos Braganças é capítulo memorável da nossa história contemporânea e árvore frondosa e bela na Medicina de Sergipe.

Nenhuma outra família entronizada em Sergipe tem uma árvore tão geneticamente ligada à Medicina como a família Bragança. Isso como resultado do que pude observar em ligeira e despretensiosa consulta, gerada pela necessidade de obter dados para o nosso Dicionário Biográfico, no prelo. E o tronco dessa árvore está situada em Laranjeiras que, na segunda metade do século XIX, era o ponto mais próspero do Estado.

A povoação que se tornou Vila em 1832 situava-se geograficamente próxima da Capital, mas ficava longe pela precariedade dos meios de transportes, quase que exclusivamente através de barcos. Por outro lado, estava colocada num patamar de salubridade e comércio acima da antiga e da nova sede de governo, São Cristóvão e Aracaju.

O primeiro Bragança médico a chegar a Laranjeiras é Francisco Alberto de Bragança, no final da década de 1830. Nascido em 1816 em Salvador, filho de Aleixo João de Bragança e Ana Joaquina do Sacramento, Francisco forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1836. Curiosamente, ele possui um irmão chamado Antonio Militão de Bragança, também médico e formado no mesmo ano, que chega a concorrer a uma cátedra na Faculdade de Medicina da Bahia, mas que, em função de doença, falece precocemente em Laranjeiras para onde se desloca em busca de tratamento. Em sua homenagem, Francisco dá ao seu único filho varão o nome do tio: Antonio Militão de Bragança.

Mas voltemos aos ancestrais. O ramo brasileiro da família Bragança começa com a chegada a Recife, em 1811, do comerciante português Aleixo João de Bragança, oriundo da província ultramarina de Gôa, do Portugal da Ásia. Sua vinda se dá em função do comércio de açúcar, que passa por grande prosperidade em Pernambuco. Ele casa-se com uma filha da viscondessa de Valcáver, Ana Joaquina do Sacramento, de descendência holandesa, dedicando-se à fabricação e exportação de açúcar. Desse casamento nascem dois filhos: Francisco Alberto de Bragança e Antônio Militão de Bragança, que se formam ambos em Medicina em 1936.

Após a formatura, Francisco aporta em Penedo, onde permanece por dois anos e depois segue para Laranjeiras onde fica por oito anos. Transfere-se para Estância, mas dois anos depois retorna para Laranjeiras, dessa vez em definitivo, onde prospera.

Homem culto e versado em humanidades passa a dar aulas a uma jovem burguesa, regente de cadeira pública na província, e que viria a se tornar sua esposa, em 1852: Possidônia Maria de Santa Cruz, dando origem assim ao ramo sergipano dos Braganças. Em janeiro de 1860, o casal recebe a honrosa visita do Imperador Pedro II, que vai a Laranjeiras para conhecer o Colégio Nossa Senhora Santana, cujas mestras principais são, além de sua fundadora, as suas filhas, Maria Vicencia, Mariana Apolinária e Tereza Virgilina.

Francisco Alberto de Bragança, ao lado do também médico José Cândido de Faria, funda o Hospital Senhor do Bonfim em 1840, que é administrado pela irmandade do Senhor Bom Jesus do Bonfim. Infelizmente, o hospital, por falta de recursos, deixa de funcionar 19 anos depois, em 1859, um ano antes da visita do Imperador. A grande epidemia de cólera morbus de 1855, que dizima quase metade da população de Laranjeiras, atinge mortalmente o médico José Candido Faria. Já o Dr. Francisco Alberto de Bragança falece aos 52 anos, em 30 de outubro de 1868.

Antônio Militão de Bragança, nascido em 31 de julho de 1860, vive até os 89 anos de
idade, falecendo no dia 27 de março de 1949. Forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 15 de dezembro de 1883, defendendo a tese “Paralisias Consecutivas as Moléstias Agudas”. Recém formado, segue para o Rio de Janeiro, onde permanece por breve espaço de tempo, recebendo ensinamentos no campo da oftalmologia. Volta para Laranjeiras e monta consultório na rua Direita. No ano seguinte, transfere-se para Pão de Açúcar onde permanece por 7 anos, voltando já casado para Laranjeiras em 1892, onde exerce suas atividades com grande competência e dedicação. Em 1898 exerce as funções de Delegado de Higiene em Laranjeiras, único cargo público que exerce em toda a sua existência.

Em 1911 violento surto de varíola atinge a cidade e quase a despovoa, tal o número dos que fogem para Aracaju, a este tempo melhorada em seus aspectos sanitários e com maiores recursos de atendimento. Dr. Militão de Bragança escreve e publica relato científico com o título de “A Varíola em Laranjeiras”, trabalho muito rico em detalhes clínicos, epidemiológicos e profiláticos. Uma pandemia de gripe espanhola arrasa Laranjeiras em 1918 com centena de mortes conforme o registro dos serviços públicos. Militão de Bragança é infatigável nessa luta.

Respeitado pela sua dedicação à Medicina, progride de forma mais intensa em função de atividades paralelas de senhor de engenho e criador de gado, tanto em Laranjeiras como nas margens do São Francisco. Progressista e inovador, inclui-se entre os primeiros a importar gado indiano e introduzi-lo nos rebanhos sergipanos.
Casado com Dona Maria da Silva Tavares, tem dois filhos, ambos homens. Antonio Tavares de Bragança, farmacêutico-químico e professor, e Francisco Tavares de Bragança, sacerdote. Nessa geração, portanto, não há médicos entre os Braganças.

Mas a lacuna dura pouco, isso porque Antonio Tavares casa-se com Maria Otávia Plácido Tavares de Bragança e dessa união nasce em 1925, Francisco José Plácido Tavares de Bragança, o “Sobrinho do Jesuíta”, carinhosamente chamado de Bragancinha, o “Chico”, nosso querido professor de Cirurgia, que atualmente reside em Maceió. Para não quebrar a tradição, seu filho, Ricardo Viana de Bragança, escolhe também a Medicina como profissão, especializando-se em urologia, sendo hoje o Bragança da minha geração. Uma história que não pára por aqui, uma vez que Ricardinho, filho de Ricardo Bragança, no próximo ano receberá o seu diploma de médico.

Com uma história que atravessa três séculos, a Saga dos Braganças é capítulo memorável da nossa história contemporânea e árvore frondosa e bela na Medicina de Sergipe.

Fontes consultadas:

Camerino Bragança de Azevedo - “Dr. Bragança; Esse varão laranjeirense”. Rio de Janeiro, Editora Pongetti – 1971.

Antônio Samarone de Santana - “As Febres de Aracaju – dos miasmas aos micróbios”, Aracaju, 2005

Cônego Philadelfo de Oliveira - “Histórias de Laranjeiras”. Casa Ávila. 2ª Edição – 1981.

Discurso pronunciado pelo Dr. Francisco Alberto Bragança de Azevedo ao ensejo da instalação do Ginásio “Possidônia Bragança, na cidade de Laranjeiras, em 9 de março de 1958.

Alexandre Gomes de Menezes Neto – Trabalho escrito para a Academia Sergipana de Medicina, em 1999.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/lucioprado

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 23 de outubro de 2013.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Serenata na Rua, em Propriá




Pense numa "gilletada". 
Por João Bolinha.

Aprendi essa expressão em minhas andanças pelo agreste de Pernambuco, em Águas Belas, e, no sertão de Sergipe, em Porto da Folha, durante a década de 80, quando nelas trabalhei e morei.

Ela tem uma semelhança como uma “pontada no coração”, que é quando revemos ou revivemos os bons momentos passados que ficaram marcados em nossas vidas.

A “gilletada” na verdade, é aquela sensação que sentimos imaginando uma lâmina cortando as nossas costas, o “arrepio” vem das solas dos pés até a cabeça.

Pois bem, foi exatamente isso que senti inúmeras vezes ontem, lá em Propriá (SE), participando do evento “Serenatas nas Ruas”, com uma infinidade de amigos (as), criado pelo Prof. Ludwig, e, que foi coroado de êxito.

Começamos com execuções de músicas instrumentais, no Mirante da Orla, pertinho do antigo Mangaba, com os geniais Maestro Medeiros (Clarinete), Reginaldo Marinho (Acordeom e Voz), o Nelsão (Violão e Voz), e, que também participei em algumas com o Cajon.

Daí seguimos, em cortejo, pela Rua da Frente, passando pela Rua da Poeira, indo pela Praça Luiz Gonzaga, subindo a Rua da Palma, e, aí, o povo entendeu o recado, e correram para as portas e varandas, aplaudindo calorosamente, nas paradas estratégicas para execuções de algumas músicas. Todas, somente com Nelsão no violão e voz, Reginaldo no Acordeom e o Maestro Medeiros no Clarinete, sem utilização de nenhum recurso eletrônico.

Chegando à Praça do Pirulito, paramos na porta do Hotel Imperial, e foi feita uma homenagem a D. Enedina, senhora queridíssima da sociedade, que apesar de bem idosa, se emocionou bastante e emocionou a todos. O César Cabral e o Vicente me chamaram e falaram a ela, conhece?, ele é o filho do Dr.Themístocles, irmão de Lalai e Arlete, ela respondeu na lata, é o Bolinha dos Átomos. Pense num arrepio.

Passamos pelos fundos da Catedral, vimos a antiga casa do Seu Eulógio, onde assistíamos em meados de 60, o Programa Jovem Guarda, todos os sábados à tarde, sintonizados na TV Jornal do Comércio do Recife, único canal, que pegava, com as famosas “espinhas de peixe, e, mesmo chuviscando bastante, vibrávamos quando o Roberto dizia: É uma brasa, mora?.

Indo para a Rua da Vitória, paramos na casa das amigas Maria Otília e Cândida, que foram homenageadas, seguimos lembrando aqueles locais, a Fábrica de Doces de Batata, a casa da Maestrina D. Odete, paramos na residência das Torres, do Colégio Auxiliadora, e foi cantada a música “A Professorinha”, e então lembramos da antiga Escola de Datilografia do Prof. Ferreirinha, e, paramos novamente na casa de Verinha Pinheiro, que trouxe seu filho, que ficou maravilhado com esse estilo de músicas.

Adiante, seguimos pela Trav. Márcio Britto, passando pelas casas em que moraram as famílias do César Cabral e do Seu Domingos Quintiliano, chegamos à Rua Jackson de Figueiredo, o povão aplaudindo e o cortejo aumentando, entramos na Trav. Santa Izabel, parando na porta do Radialista Ferreira Filho, lá estavam os amigos e primos da Norma, Serjão, Marquinhos, Rico e Quinha, seguimos para a Praça Tobias Barreto, parando na residência da Sra. Beliene, descemos a Rua do Brejo, e, homenageamos a casa da família do amigo Yokanaan Santana, seguimos pela Praça do Coreto, vimos o Grupo Escolar João Fernandes de Brito, onde fiz os primeiros anos da Escola de Comércio que ali funcionava.

Por cerca das 01:30 da manhã, o evento foi concluído, parados nos degraus da Catedral, onde teve os agradecimentos do Prof. Ludwig Oliveira e do César Cabral.

Parabéns aos queridos Maestro Medeiros, Reginaldo Marinho, Nelsão, e demais acompanhantes que os seguiram, parabéns ao Grande Prof. Ludwig, mas, principalmente Parabéns ao povo da minha terra, que vibrou, emocionou, e participou ativamente, com certeza outras serenatas virão.

Com tantas emoções ali vividas, e depois de tantas “Gilletadas” sentidas, só podia contar mesmo com o meu grande amigo, o Dr. Johnny Walker, que não me largou um só momento, como também de muitos amigos que pediam para cumprimenta-lo.

Um beijão para todos. Johnny Bolla.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 20 de outubro de 2013.

domingo, 20 de outubro de 2013

Lagarto – 133 anos crescendo com Sergipe (2013)


Publicado por lagartonet.com, em 19 de abril de 2013.

Lagarto – 133 anos crescendo com Sergipe.
Por Rusel Barroso *

Numa época em que os números não mentem, Lagarto, 3º núcleo populacional do estado, desponta na lista dos municípios que vislumbram a casa dos 100 mil habitantes.

Seu território, com uma marca que assinala 970 km², consoante aferição do IBGE, corresponde a 4,4% de Sergipe, o que o torna o 3º município em área. Neste espaço, Colônia Treze, Jenipapo, Brasília e Olhos d’Água figuram entre os maiores povoados lagartenses, estando o primeiro a aproximadamente 13 km da sede municipal.
Localizado no centro-sul do Estado, a 78 km da capital, Lagarto – 3º município mais antigo do solo sergipano -, mantém-se forte como monólito irrefragável, respeitado pelo seu passado histórico, autenticidade folclórica e arquitetura moderna, sendo, pois, passagem obrigatória para os que visitam o Nordeste.

Seu ponto culminante é a Serra dos Oiteiros (500m), embora os lagartenses privilegiem visitas à Serra da Miaba, localizada na divisa Lagarto – São Domingos.
Banhado pelos rios Vaza-Barris, Quirino, Piauí, Machado e Jacaré, entre os principais, Lagarto conta, ainda, com os riachos Oiti, Pombos, Flechas e Urubutinga. Sua altitude assinala 183 metros, a uma latitude 10º55’02″ sul e a uma longitude 37º39’00″ oeste. É também dotado de riquezas minerais, a exemplo de: argila, calcário, mármore, enxofre e pedras de revestimento. Em meio às suas áreas de preservação estão as piscinas de fontes naturais do povoado Brejo e do Balneário Bica, ressaltando-se que este último encontra-se desativado.

Um pouco da história de Lagarto é contado por sua gente e está registrado em cada ponto da cidade. Também histórico é o marco que revive os primeiros acontecimentos da colonização do município, localizado no povoado Santo Antônio.
Em Lagarto, os logradouros no centro da cidade ainda guardam o aspecto do século passado, destacando-se algumas ruas estreitas como o Calçadão da D. Pedro II e a Rua Acrísio Garcez.

Além das manifestações folclóricas e religiosas, a “Cidade Ternura” oferece aos seus visitantes e moradores atrações variadas, apresentadas nas praças de eventos do Tanque Grande, do Forródromo, no Parque Zezé Rocha, no espaço livre da Barragem Dionízio Machado ou em ginásios de esportes. Exibições folclóricas e outros festejos são também características da cidade, com destaque para a Festa da Padroeira “Nossa Senhora da Piedade” e a Exposição-Feira de Animais, realizadas no mês de setembro. Os folguedos de São João e São Pedro estão reservados, em seu calendário, para o mês de junho com quadrilhas, fogueiras, fogos de artifícios e comidas típicas, em que a maniçoba e o ginete não podem faltar. A tradição das festas natalinas também é mantida pelos seus habitantes.

Lagarto não poupou generosidade aos seus filhos ao longo da história. Aníbal Freire da Fonseca, Sílvio Romero e Laudelino Freire são alguns dos lagartenses que deixaram um legado incomensurável de conhecimentos para a cultura brasileira. Uma herança que atravessa gerações e, certamente, continuará a enobrecer o acervo de nossa gente. Mas, apesar disso, alguns traços culturais perderam-se no tempo, como os cinemas, os shows de calouros promovidos nos cines Glória e Pérola, este, um dos mais suntuosos e aconchegantes de sua época. Seu interior, artisticamente decorado com pinturas de motivos egípcios, uma obra prima de Edson Ferreira, chamava a atenção dos que o visitavam. Música ambiente e o sublime “Tema de Lara” – na abertura de suas exibições -, faziam parte de sua programação diária. O “velho” Cine e Teatro Glória, de arquitetura mais singela, ousava receber os maiores artistas de sucesso nacional, a exemplo de Roberto Carlos, Ângela Maria e de inúmeras outras celebridades que pisaram seu palco. Apresentações de Alceu Monteiro, Roberto Alves, Los Guaranis e R-Som 7 eram uma constante. Felizmente, ainda nos confortam Los Guaranis, essa admirável orquestra que dignifica a nossa terra; o surgimento da Companhia de Teatro Cobras & Lagartos, o Grupo Lacertae e, mais recentemente, os espaços de Encontros Culturais do Santo Antônio e o Charles Brício, que, aos poucos, vão recebendo talentos de uma nova geração. Lagarto da Sorveteria Cristal, da Bica, da Rua da Glória, do Rosendo Palace Hotel, do Colégio Salete, do Tanque Grande, da Panificação e Pastelaria Doce Lar, do Educandário Dom Frei Vital… De homens públicos, amantes de sua terra, a exemplo de João Almeida Rocha, José Vieira Filho, Dionízio Machado, Acrízio Garcez, Nelson Ferreira, Ursulino Loiola, Cláudio Monteiro, Luiz Antônio Barreto e mais personalidades que a história se encarregará de perpetuar.

Lagarto cresceu, evoluiu, deixou para trás alguns valores, mas mantém aceso o orgulho de sua gente plácida e trabalhadora, inspirado em sua história, um particular que a torna dessemelhante de muitas outras cidades. Lagarto da Zabumba de Terreno, dos Cangaceiros de Zé Padeiro, da Encomendação das Almas de Maninho de Zilá, do Rei Momo de Antônio de Sinhô, das narrativas de Adalberto Fonseca e Onofre Santos, hoje a acompanhar a modernidade, o progresso, o mundo da tecnologia e da comunicação, com a participação de outros filhos de uma nova época.
Cidade simples, de gente amistosa, Lagarto caracteriza-se pelo acolhimento e serenidade que oferece aos seus visitantes. O seu primeiro núcleo populacional foi o Santo Antônio, onde se encontra o marco histórico que revive os primeiros acontecimentos da colonização do município. Segundo historiadores, a existência de uma pedra em forma de lacertílio é uma das versões que conduzem ao nome da municipalidade.

O seu progresso reflete o desenvolvimento do município, hoje possuidor de grandes empresas, emissoras de rádio, instituições de ensino superior, e de uma quantidade de veículos e pessoas em movimento no trânsito, o que traduz a pujança da sua gente.

*Rusel Barroso é escritor e pesquisador lagartense.

Fontes: Lagartonet/Cinform.

Foto e texto reproduzidos do site: lagartonet.com

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 19 de outubro de 2013.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Antigos postais da Rua João Pessoa, em Aracaju

Antigos postais da Rua João Pessoa, em Aracaju/SE.

 "Durante muitas décadas a Rua João Pessoa foi o centro das atenções, por ela passaram Procissões, Blocos Carnavalescos e Desfiles Estudantis. Comícios também tinham a sua vez nessa artéria. Além das tradicionais casas comerciais existiam os pontos de lazer e cultura como o Cinema Rio Branco, o Ponto Chic, a Livraria Regina, o Café Central, a Sorveteria Primavera e os bares. Não podemos esquecer o famoso "Footing" , o hábito de caminhar nas noites de domingo, para observar as vitrines das casas comerciais e também realizar a famosa "paquera". Boa parte das atividades que atualmente realizamos nos Shoppings eram feitas na Rua João Pessoa. Como disse Murillo Melins: "Para os que viveram aqueles bons tempos, apenas restam recordações e uma doída ponta de saudade".

Fotos: SOUZA, José Expedito de. Memórias de Aracaju. Aracaju (SE): J. Andrade, 2012. As fotos referem-se aos anos 1974 e 1976 respectivamente.

Fotos e texto reproduzidos da página do Facebook/Aracajuantiga

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 30 de maio de 2013.

Breve Histórico sobre a Feira de Itabaiana

Mercado dos Cabaús
Foto: Acervo João Teixeira Lobo.

Breve Histórico sobre a Feira de Itabaiana
Por Wanderley Menezes. *

O povoamento de Itabaiana se iniciou a partir de doações de sesmarias a colonos entre o final do século XVI e início do século XVII. A povoação foi elevada à condição de vila pela portaria de 20 de outubro de 1697. Itabaiana tornou-se vila sob nome de Santo Antônio e Almas de Itabaiana. Durante o século XVIII e XIX, era a maior de Sergipe, ocupava grandes porções dos atuais agreste e sertão sergipano e terras do atual sertão baiano. Em 28 agosto de 1888, pela resolução 1331, foi elevada à condição cidade. Devido ao desenvolvimento econômico e processo de divisão administrativa, Itabaiana se desmembrou em diversos municípios, mas tornou-se o mais importante município do interior sergipano.

Os itabaianenses do século XIX comercializavam nas mais importantes feiras da Província de Sergipe (Laranjeiras, São Cristóvão, Maruim, Propriá), Bahia, Ceará e Pernambuco. Itabaiana ainda não tinha em sua sede uma feira bem estruturada, apesar de ser uma terra com grande produção agrícola. Desde tempos idos a feira de Itabaiana é realizada aos sábados. O local da antiga feira de Itabaiana era a Praça da Matriz. Comercializavam-se as mercadorias em pequenos botecos confeccionados com varas e esteiras. Assim se procedia por facilitarem a tarefa de desarmamento tão logo a feira fosse encerrada, no final da tarde. As mercadorias pagavam impostos. Desde essa época grande era a variedade de produtos comercializados (carnes, cereais, açúcar, café, bebidas, remédios caseiros, tecidos, couro e etc).

Grande impulso ganhou a feira de Itabaiana com a edificação de um Mercado Municipal no final do século XIX, situado atualmente num prédio vizinho à atual Prefeitura. Devido às rivalidades políticas da República Velha, a cidade passou a ter dois mercados (Mercado dos Pebas e Cabaús). Em 1926, foi edificado o Mercado Municipal e a feira passou a funcionar no atual Largo Santo Antonio. Com o crescimento da cidade, especialmente nas décadas de 50 e 60 do século passado, a cidade passou a ter dois dias de feira livre, o tradicional sábado e quartas-feiras. Nessa época também a extensão da feira foi sensivelmente ampliada com a ocupação do atual Largo José do Prado Franco. Mais recentemente, o município edificou o atual “Marcadão”, outrora Tanque do Povo, o que impulsionou de forma decisiva o progresso da cidade. Atualmente, a feira de Itabaiana ocupa um espaço físico considerável do centro da cidade e é frequentada por milhares de pessoas das mais variadas cidades.

Itabaiana é nacionalmente conhecida terra de empreendedores graças à sua feira que é, indubitavelmente, a mais importante do Estado de Sergipe e uma das mais destacadas do Norte e Nordeste, chegando até a ser cenário do romance “Vidas Perdidas” do escritor Carvalho Neto e homenageada com a canção pelo cantor Nill Cacho.

*Secretaria Municipal de Cultura.

Imagem e texto reproduzidos do blog: culturaitabaiana.blogspot

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de outubro de 2013.

Itabaiana, Terra de Ceboleiros.

Foto ilustrativa - reproduzida do blog: culturanotnet.blogspot

Itabaiana, terra de ceboleiros.

Quem nunca ouviu falar na terra da cebola, nos ceboleiros ou nos papa-cebolas? Essas expressões populares ligadas a Itabaiana atualmente constitui um patrimônio cultural imaterial de Sergipe sem o reconhecimento oficial. Apesar de não ter nenhum patrimônio cultural tombado, a urbe agrestina tem uma infinidade de bens culturais enriquecedores da cultura sergipana. Examinaremos, sob o ponto de vista histórico, um dos mais significativos desses bens: as expressões papa-cebolas e ceboleiros. As expressões em estudo são bastante utilizadas e difundidas em todo Estado de Sergipe e além-fronteiras, porém muito pouco se escreveu sobre os apelidos coletivos de Itabaiana. Merece especial destaque as lacônicas considerações do folclorista José de Carvalho Déda (1898-1868) e do pesquisador José Sebrão de Carvalho (1898-1973), reproduzidas por Vladimir de Souza Carvalho (1950- ). O artigo Aspectos antropológicos dos itabaianenses, do escritor Alberto Carvalho (1932-2002), não se ateve a expressão como marca identitária dos itabaianense. Privilegiou o escritor serrano em seu “tipo singular” itabaianense aspectos como o municipalismo (bairrismo), a sagacidade para os negócios, o fenótipo, o uso de apelidos, a paixão pelo jogo e a violência. Nosso objetivo é explicar brevemente as supostas origens, significados e mutações desses apelidos coletivos.

Primeiramente, é importante compreendermos o que vem a ser (ou o que pode ser) patrimônio cultural imaterial. Nas últimas décadas do século XX, o patrimônio cultural passou a se concebido para além dos bens materiais. Os estudiosos observaram que os bens culturais imateriais também são portadores de referência à memória e identidade cultural de um povo e, na maioria das vezes, representam muito mais determinadas comunidades que edificações de “pedra e cal”. A convenção para salvaguarda do patrimônio cultural imaterial (2003), realizada em Paris, definiu o patrimônio cultural imaterial como compreendendo os usos, representações, expressões, conhecimentos e técnicas, junto aos instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhes são inerentes, que os grupos e em alguns casos, os indivíduos reconheçam como parte de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial é recriado constantemente pelas comunidades, grupos e indivíduos em função de seu meio ambiente (entorno), sua interação com a natureza e sua história, gerando um sentido (sentimento) de identidade e continuidade, contribuindo para a formação da diversidade cultural.

Ao que tudo indica, a expressão papa-cebola remota os tempos imperiais. Em meados do século XIX, as principais feiras de Sergipe estavam concentradas na região do Cotinguiba. O itabaianense comercializava nas ricas regiões dos canaviais por não ter aqui um centro comercial estruturado. Os nossos antepassados eram comerciantes natos que abasteciam as outras vilas e cidades de Sergipe e Bahia com seus produtos. Não havia, como até nos dias atuais, uma só feira em Sergipe que não tivesse um itabaianense. A histórica e cultural cidade de Laranjeiras chamava atenção na segunda metade do século XIX pela pujança econômica e cultural. A feira de Laranjeiras, pela proximidade e importância, era para onde afluíam caravanas de itabaianenses. Estes dominavam a feira de tal forma que eram hostilizados pelos habitantes locais. Nessa época, a sociedade itabaianense era formada, sobretudo, por humildes comerciantes, lavradores e criadores. Homens rudes intelectualmente pela falta de instrução pública, porém espertos e aventureiros. Laranjeiras era o berço da intelectualidade sergipana, terra de João Ribeiro e de refinada elite açucocrata. Os gêneros alimentícios de primeira necessidade consumidos em Laranjeiras eram produzidos em Itabaiana. As férteis terras margeadas pelo Cotinguiba eram destinadas à plantação de cana para exportação. Eram os sítios serranos que abasteciam o comércio interno sergipano, daí o rótulo de cidade celeiro de Sergipe.
A forma que os laranjeirenses usaram para ferir o orgulho dos itabaianenses foi de denominá-los de papa-cebolas. Por que papa-cebolas? Itabaiana tinha produção razoável nas férteis encostas serranas da verdura acre de cheiro forte. Chamando os itabaianense de papa-cebolas, estavam chamando-os de fedorentos a cebola. E mais: de somíticos, pois mesmo conseguindo volumas somas com a venda de gêneros alimentícios e outros objetos, os itabaianenses substituíam a carne (mais cara) por uma farinha acebolada produzida por suas esposas. O cheiro de cebola era perceptível de longe. Bastava um itabaianense colocar sua marmita para se ouvir os moleques gritarem: “papa-cebola, papa-cebola, papa-cebola!!!”.

Papa-cebola era um termo pejorativo. Inicialmente, a expressão não foi bem aceita. As chacotas, às vezes, acabava em revide de ofensas, brigas ou em episódios mais trágicos. Com o passar do tempo, o curioso apelido coletivo tornou-se tradicional e aceito pelos próprios itabaianenses. As novas gerações de papa-cebolas muitas vezes não entendiam a origem jocosa e o primitivo significado da alcunha; pensavam que era por serem trabalhadores e terem abundantes cebolais. Tinham alguns que se sentiam orgulhosos quando eram rotulados de papa-cebola.

José Sebrão de Carvalho, o famoso Sebrão Sobrinho (1898-1973), pesquisador itabaianense, o mais bairrista de todos os itabaianólogos, nos oferece outra versão para a origem da expressão. O velho pesquisador legou em suas pesquisas valiosas informações acerca do passado de sua terra natal, além de arrebanhar um volume documental impressionante sobre Itabaiana do século XVII ao XX. Sebrão descreveu, numa série de artigos para o Sergipe-jornal, diversos aspectos da vida social e cultural-histórica de Itabaiana dos anos 40. Ele acredita que o apelido nasceu em Itabaiana devido ao apelido imputado a Júlio Cesar Berenguer de Bitencourt, juiz municipal na época. Esse magistrado esteve em Itabaiana no ano de 1849 e fixou residência no sítio Pé da Serra, local de destacada produção de cebolas. Com isso, os amigos do juiz começaram a chamá-lo pelo apelido de papa-cebola. A expressão outrora pessoal tornou-se coletiva. A aceitação do apelido tempos depois, segundo Sebrão Sobrinho, dava-se pelo fato de pensarem os itabaianense que se tratava de um elogio a “superioridade de sua terra para a policultura”. Essa versão nos parece ter menos valor explicativo que a anterior, pensada por Carvalho Déda.

Acreditamos que de início não havia o termo ceboleiros, mas somente papa-cebolas. A utilização da expressão ceboleiros é bem provável que tenha sido iniciada na segunda metade do século passado, para servir de sinônimo do termo anterior que entrou em desuso ou, não é razoável supor, o fato de a expressão papa-cebola ser ofensiva contribuiu para sua substituição paulatina pelo seu termo mais corrente nos dias atuais, restando apenas a antiga expressão na memória dos mais idosos. Seja como for, as alcunhas coletivas papa-cebola e/ou ceboleiro eram tão pejorativas que muitos rapazes naturais de Itabaiana não conseguiam namorar com moças de famílias tradicionais de Aracaju e outras cidades de Sergipe, pois os pais davam sempre o conselho às filhas para não quererem itabaianenses, ou seja, os fedorentos a cebolas e tabaréus. Hoje, é até uma honra ter um genro ceboleiro, principalmente se for rico ou “cabra macho” trabalhador.

Nas últimas décadas, a palavra ceboleiro ganhou força dentro e fora de Itabaiana de modo inimaginável. A expressão ceboleiro foi tão integrada ao itabaianense que praticamente se tornou sinônimo de todos aqueles que nascem ou moram em Itabaiana. Se no passado seu uso era uma forma pejorativa, no presente a função é outra: tornou-se um elogio, uma forma de identificação dos itabaianenses, um patrimônio cultural. Contribuiu decisivamente para o fortalecimento da alcunha de terra da cebola a construção do Mercado de Hortifrutigranjeiros, nosso famoso Mercadão, em 1989. Nesse grande empório comercializam-se volumosas quantidades de cebolas produzidas em Itabaiana e, principalmente, provenientes de outros estados. Verdadeiras montanhas de cebolas são vistas todos os dias, dando um perfume especial à feira local.

O apelido adentrou de tal forma o imaginário social itabaianense que o mascote da Associação Olímpica de Itabaiana, principal clube de futebol da cidade e um dos mais tradicionais do Estado de Sergipe, é uma cebola vestida com o uniforme tricolorido de azul, vermelho e branco. Até mesmo o universo acadêmico sofreu a ação do acebolamento social. O Campus Universitário “Prof. Alberto Carvalho” (UFS) tem como mascote, escolhido em votação, uma cebola - o cebolufs.

Portanto, a palavra ceboleiro, usada no contexto de identificação do itabaianense, é um patrimônio cultural imaterial sergipano por ser uma expressão cultural que gera identidade e continuidade para a comunidade itabaianense e sergipana. Sergipe é um estado rico em apelidos coletivos. Nós, os ceboleiros, não somos caso único. Os lagartense receberam a pejorativa designação de papa-jaca, os simão-dienses de capa-bodes, os porto-folhenses de buraqueiros, os campo-britenses de lobisomens (ou labisomis) e etc. Era a rivalidade local que produzia esses apelidos coletivos que atualmente compõe uma rica e pouco estudada herança patrimonial. Todas essas expressões populares integram o patrimônio cultural sergipano e provam que a cultura sergipana também é rica fora do eixo litorâneo (Aracaju-Laranjeiras-São Cristóvão).

BIBLIOGRAFIA

CARVALHO, Alberto. Aspectos antropológicos do itabaianense. Vão Livro. Aracaju: s/d, 1996. P. 75-80;

CARVALHO, Vladimir Souza. Apelidos em Itabaiana. Curitiba: Juruá, 1996;

_________. Vila de Santo Antonio de Itabaiana. Aracaju: J. Andrade, 2009;

DÉDA, José de Carvalho. Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano. Aracaju, Livraria Regina, 1967. P. 83-84;

IPHAN. Patrimônio Imaterial. Disponível em: www.iphan.gov.br/bens/P.%20Imaterial/imaterial.htm acessado em dez/2005;

LIMA JÚNIOR, F. A. de Carvalho. Monografia histórica do município de Itabaiana. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, v.2, n.4, 1914. p.128-149;

SEBRÃO SOBRINHO. Cordial política da plutocrata terra papa-cebola. Sergipe-Jornal, Aracaju/SE, 26 jan. 1944, p.1. Transcrito em SEBRÃO, SOBRINHO. Fragmentos de histórias municipais e outras histórias. Org. Vladimir Souza Carvalho. Aracaju: Instituto Luciano Barreto Júnior, 2003. P. 253-256.

Texto reproduzido do blog: culturaitabaiana.blogspot

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de outubro de 2013.