quinta-feira, 30 de maio de 2013

"As Três Cores da Saudade". Por Lilian Rocha


As Três Cores da Saudade *
Por Lilian Rocha.

Verde, vermelho e branco. Eram essas as cores da Associação Atlética, um dos maiores clubes de Aracaju nos meus tempos de menina. Ficava na rua Vila Cristina, entre a praça Camerino e a Rua Senador Rollemberg. Além da Associação Atlética, outros clubes também disputavam as atenções dos aracajuanos, como por exemplo, o Iate Club e a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), que por muito tempo funcionou na Rua Riachuelo, lugar onde hoje é ocupado por uma agência do Banco do Brasil.
Naquele tempo, era muito difícil entrar num clube. Difícil e caro. Era preciso ser sócio e para ser sócio, era necessário apresentar uma proposta de admissão, que era cuidadosamente analisada pela Diretoria. Aprovada a proposta, o ‘candidato a sócio’ tinha que pagar uma elevada quantia, chamada ‘joia’, que equivalia, aproximadamente, a 20 vezes o valor da mensalidade em vigor e que, por sua vez, era dividida em inúmeras prestações...
Mas parece que todo esse sacrifício valia a pena, pois uma carteirinha de sócio abria as portas para o mundo encantado dos clubes, ou seja, o sócio e seus dependentes tinham direito à piscina, lanchonete, quadra de tênis, campo de futebol, festas, bailes de carnaval... Tudo naquele tempo acontecia nos clubes! Por isso, todo mundo queria ser sócio de um clube. Até eu.
Meu pai era bancário e consequentemente, logo virou sócio da AABB. Mas como o acesso a este clube era restrito aos funcionários do Banco do Brasil, ele sentiu necessidade de se associar a outro. E escolheu o Iate.
Portanto, nunca fui sócia de verdade da Associação Atlética, mas usufruí de todas as vantagens de um associado, graças a meu tio Afrânio Bastos, que era sócio e morava pertinho de lá, na rua Senador Rollemberg. E meu tio honrava o título de sócio, pois era um verdadeiro atleta. Nadava, remava, jogava, entendia de todos os esportes.
E de tanto gostar de esportes, um dia ele cismou que tínhamos de aprender a nadar, eu e Márcia, a filha dele, minha prima e amiga inseparável. E foi assim que entrei, pela primeira vez, na piscina da Associação Atlética, para aprender a nadar com ele. A piscina era gigantesca, uma piscina olímpica, na verdade, com blocos, raias e um trampolim enorme. Ele não sabe, mas nunca consegui aprender a nadar de verdade, pois sempre achei muito difícil administrar, de uma só vez, braços, pernas, respiração e não sei mais o quê... Mas graças a ele, perdi o medo de piscina e mesmo sem técnica, consigo ir de uma ponta a outra e sentir, dentro d´água, o mesmo prazer de todos os grandes nadadores...
Além da piscina, o clube tinha quadra de tênis, quadra de futebol, sauna e um grande salão de bailes que ficava no andar superior da sede. Para chegarmos ao salão, subíamos por uma escada bastante curiosa, que começava reta e depois se abria para os dois lados, em formato circular.
Em 1972, a Associação Atlética também viria a ser palco de uma das lembranças mais marcantes da minha vida. Ali, logo na entrada e sentados no chão, assistimos a um show de uma banda quase desconhecida ainda, formada por um monte de baianos cabeludos e uma única mulher, dona de uma voz doce e meiga que dançava freneticamente no palco, exibindo uma barriga enorme, de quase 9 meses de gravidez. Foi assim, cercada pelos muros da minha Associação Atlética, que fui apresentada aos “Novos Baianos”...
E entrou por uma perna de pato e saiu pela de pinto...
O clube fechou as portas e durante alguns anos ficou agonizando em meio ao mato que cresceu ao redor, à espera, talvez, de um príncipe que a libertasse do seu abandono, tal como acontece nos contos de fada...
Mas o príncipe, mais uma vez, não veio. Como também não apareceu para libertar o Colégio N.S. de Lourdes, nem o Cine Rio Branco, nem a casa de dr. Augusto Leite, nem a casa dos Vila Nova, nem tampouco o Hotel Parque dos Coqueiros. Todos foram sumariamente destruídos. E junto com eles, foram-se, também, mais algumas páginas da história de Aracaju...
Não resisti hoje e entrei no que um dia foi a Associação Atlética. De pé, encontrei apenas um resto do que foi uma arquibancada, 3 blocos de onde os nadadores se preparavam para cair na piscina, uma parede da sauna, a cobertura da boite Catavento e uma escada intacta que hoje não leva mais a lugar nenhum. Uma escada pintada de verde, vermelho e branco, as três cores com as quais escolhi pintar minha saudade de hoje... (Lilian Rocha – 28.05.13).

Fotos e texto reproduzidos da página do Facebook do
Grupo "RECORDANDO", postagem de Austeclino Rocha *

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 30 de maio de 2013.

terça-feira, 28 de maio de 2013

São João em Sergipe e sua História


São João em Sergipe e sua História
Por Marcos Paulo Carvalho Lima*

Sabe-se que Patrimônio Cultural é todo tipo de manifestação que representa um povo, de uma comunidade, que são reconhecidas através da sua referência cultural e histórica. Chamadas de festa caipira ou de quadrilha matuta, as quadrilhas juninas também estão inseridas no contexto que nos traz a concepção de Patrimônio Imaterial. Entendemos que a quadrilha junina tem esse referencial de expressivo valor para os brasileiros, principalmente aos nordestinos. Em Sergipe a maioria delas foram fundadas há cerca de quarenta anos, sendo a Século XX uma das mais antigas, fundada em 1964, e outras com destaque não só na região, mas também em nível nacional como é o caso da Unidos Em Asa Branca, oriunda do Conjunto Leite Neto, em Aracaju/Se.

Teve vários nomes de 1980 até o seu registro em cartório em 09 de maio de 1986, sendo José Elói Filho, junto com outros amigos, responsável pela fundação do grupo. Desde sua fundação tem participado de todos os concursos de Quadrilhas Juninas realizados na Capital, sido campeã por várias vezes, ou sendo classificadas entre as 04 primeiras. Já se apresentou no programa da Hebe Camargo no SBT e já fez apresentações em vários estados como Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, São Paulo, Brasília etc. Entretanto, podendo um grupo ser
reconhecido como Patrimônio Imaterial, por sua representatividade cultural e referência histórica.

Pesquisas revelam que desde o século XIX, a quadrilha já era dançada no Brasil. Não há uma grande preocupação sobre a preservação no que se refere a conservação dessa cultura tradicional (quadrilhas juninas) como um todo, porque é uma tradição fortíssima, pouco provável seu fim, e sim o distanciamento cada vez mais de sua originalidade, lembrando que a sociedade está em constante mudança. Já foi feito um trabalho de pesquisa com as quadrilhas em nosso Estado, para a sistematização de ação para apoio às quadrilhas, feita através de ficha de inscrição e visita de fiscalização aos locais dos ensaios. (Dados obtidos por intermédio da publicação São João é Coisa Nossa, Série Memória – Volume: II – Aracaju/SE, 1990).

Hoje existem quadrilhas estilizadas que se apresentam como uma nova forma de expressão junina. São grupos de danças que se organizam com formato diferente de quadrilha tradicional e, com coreografia própria. Os passos ensaiados e marcados previamente com um corpo de balé, executam números criados exclusivamente para determinadas músicas. Também apresentam diversos personagens, conhecidos popularmente: o cangaceiro Lampião, Maria Bonita, o cigano, a espanhola, etc. (São João em Sergipe. Aracaju, 1990). Em algumas cidades de Sergipe são realizados grandes campeonatos de quadrilhas, com prêmios e regulamentos rígidos que visam manter a tradição. (São João em Sergipe. Aracaju, 1990).

São João, Bairro Santo Antônio, em Aracaju/SE, relatado pela professora antropóloga Eufrásia Cristina da Universidade Federal de Sergipe, durante a sua palestra na I Semana de Educação Patrimonial organizado pelos alunos e professores do Curso de História. A professora Eufrásia cita também sobre a perda das coreografias tradicionais, por conta das mudanças que ocorre na sociedade, novos repertórios sobre o homem urbano com novas representações durante as apresentações, perdendo um pouco da essência tradicionalíssima do caipira com os dentes pintados de preto como estivessem podres, etc. Comenta também pela necessidade de algumas quadrilhas sergipanas necessitarem de apoio para a sua continuidade. É uma das preocupações, se perderem por falta de incentivo, como subsídios para a manutenção da mesma.

Para tanto, enfatizo a importância de se valorizar essa cultura através de reconhecimento pelo poder público. Para a Cidade de Aracaju no que se refere ao patrimônio cultural imaterial como formas de expressão, vejo que as quadrilhas juninas é um referencial forte, por isso, servindo de representação como cultura identitária. Então, é uma grande razão para uma pesquisa através de inventario para as quadrilhas, que servirá como mapeamento, diagnóstico e posteriormente se fazer um estudo apontando um ou mais grupos para um reconhecimento da sociedade e oficialmente pela Prefeitura de Aracaju, dentro dos procedimentos técnicos para que se obtenha o título de Patrimônio Cultural Imaterial. Daí surge à necessidade de um diálogo com a sociedade, para que possa esclarecer o que leva uma cultura a ser contemplada e qual a razão para que uma ou outra receba esse tipo de homenagem
assim, perpetuando cada vez mais, colaborando para a manutenção da cultura popular tradicional da sociedade aracajuana e contribuindo para a memória do Estado de Sergipe.

*Graduando em História pela UFS e Assessor Técnico da Coordenação de Preservação da Subsecretaria de Estado do Patrimônio Histórico e Cultural

Texto e foto reproduzidos do blog: canalr5blog.blogspot.com.br

Fotos Edson Araujo.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 4 de março de 2013.

Cordelteca João Firmino Cabral completa dez anos (2013)

Publicado pelo Portal Infonet, em 27/05/2013.

Cordelteca João Firmino Cabral completa dez anos
Cordelteca é um setor da Biblioteca Pública Clodomir Silva

Há dez anos a cultura e o resgate popular vêm sendo trabalhados através da cordelteca, setor da Biblioteca Pública Clodomir Silva, unidade vinculada à Secretaria Especial de Cultura (SEC/Funcaju). Primeira Biblioteca de Cordel do Brasil, a cordelteca homenageia o saudoso João Firmino Cabral, natural do município de Itabaiana.

De acordo com a diretora da Clodomir Silva, Fátima Góes. "O ambiente da biblioteca tem características da literatura de cordel e a escolha do nome deve-se à carreira de sucesso do primeiro cordelista sergipano a levar o nosso cordel para fora do estado, João Firmino Cabral".

O Nordeste brasileiro herdou a literatura de cordel, que nasceu na terra de Pedro Álvares Cabral, um dos vestígios deixados pela colonização portuguesa. É um gênero popular escrito na forma rimada, originado em relatos orais e depois impressos em folhetos com figuras desenhadas em xilogravuras e expostos para vendas penduradas em barbantes, o que deu origem ao nome cordel.

Segundo o cordelista sergipano Ronaldo Dória, as rimas e métricas nascem a qualquer hora e o dom de brincar com as palavras vêm desde a infância. "Desde pequeno fazia poemas e poesias, mas nunca tive coragem de mostrar. Os temas surgem a partir de uma história, de um sonho, de uma reportagem na TV e assim vai, estou sempre com papel e caneta. Me dediquei mais ao cordel quando me aposentei, há 12 anos, e agora possuo 155 histórias contadas em cordel", comenta.

Sarau Poético

A Cordelteca João Firmino Cabral é palco do Sarau Poético que reúne grandes autores ou cordelistas para recitarem versos de forma cantada acompanhados de suas violas. "Destinamos esse encontro para conversar sobre cultura, música e arte. Momento especial para a comunidade e estudante aprenderem sobre cordel", completa a diretora Fátima Goés.

O trabalho educacional é intenso, professores e coordenadores de escolas levam o livreto para a sala de aula com o objetivo de trabalhar temas transversais através dos poemas rimados. "A biblioteca recebe diariamente docentes de diversos bairros em busca de inserir no cotidiano de seus alunos temas como geografia, cultura popular, histórias que são encontrados nos livretos e esse espaço é de fácil acesso e está aqui para toda a população", justifica a coordenadora de eventos, Maria José.

"Digo com muito orgulho que fui aluno de João Firmino. Se hoje visito as escolas levando a cultura local para crianças e adolescentes é porque aprendi tudo que sei sobre literatura de cordel com ele, que levava meus versos para analisar em casa e no outro dia me explicava", afirma Ronaldo Dória.

Cordelteca

A Cordelteca João Firmino Cabral abriga mais de 500 livretos de cordelistas nacionais e locais, de variados temas. A Biblioteca Clodomir Silva foi eternizada na literatura de cordel através da homenagem feita pelo também sergipano Chiquinho Além Mar.

"Hoje a cordelteca possui títulos escritos por de 36 cordelistas sergipanos, mas aqui também há obras de autores de outros estados. Você encontra nomes como Enoque Araújo, Gilmar Santana Ferreira, Zé Antônio e de mulheres que fizeram e fazem história com as rimas, a exemplo de Antônia Amorosa, Izabel Nascimento, Salete, entre outras", ressalta Fátima Góes.

João Firmino

Patrono da primeira cordelteca do país, João Firmino Cabral despertou para a Literatura de Cordel ainda na adolescência, quando pedia à irmã para ler os livretos comprados na feira de Itabaiana, município de Sergipe. Seguiu os passos do poeta e mestre, Manoel D'Almeida Filho, produzindo o seu primeiro livreto sobre as profecias de Padre Cícero, aos 17 anos.

Em 2002, João Firmino recebeu da Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA) a medalha de Mérito Cultural Serigy. Ao falecer, em fevereiro deste ano, João Firmino deixou a banca que tinha instalada no Mercado Municipal Antônio Franco, no Centro de Aracaju, e deixou vaga a cadeira de número 36, da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), que ocupava desde 2008.

Fonte: AAN

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/cultura

Cordel é um gênero literário popular escrito na forma rimada e expostos à venda pendurado em barbantes.

Foto: Ascom/Funcaju.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 28 de maio de 2013.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Depoimento Sobre a Sociedade de Cultura Artística de Sergipe


Sobre a Sociedade de Cultura Artística de Sergipe

Depoimento de Amaral Cavalcante, ex Secretário Executivo da Entidade

Observação inicial:
O presente relato não deverá ser tido como um documento acabado, nem deverá ser incorporado a nenhuma pesquisa sobre a Sociedade de Cultura Artística de Sergipe sem um trabalho criterioso de comprovação e datação dos fatos nele contidos. Trata-se de uma descrição de fatos memoriais alinhados empiricamente, carecendo-lhes o necessário rigor científico e metodológico. Como pretendo escrever mais sobre o tema, solicito aos amigos que me corrijam os lapsos e subsidiem-me com fatos e detalhes não lembrados aqui.

Fundação e objetivos

Fundada em 1951 por um grupo de intelectuais sergipanos, entre eles o Dr. Felte Bezerra e o jovem político José Carlos Teixeira, a Sociedade de Cultura Artística de Sergipe – SCAS - seguiu o modelo consagrado por entidades congêneres existentes em outras unidades da federação, dedicadas ao fomento e difusão da cultura artística e ao apoio à circulação de concertos musicais e espetáculos de arte cênica em todo o país. A nossa Sociedade de Cultura Artística resulta de uma campanha empreendida por intelectuais, comerciantes e políticos locais, visando angariar fundos para a aquisição de um piano de qualidade, destinado ao uso de músicos concertistas que, eventualmente, nos visitassem. A mobilização social sagrou-se vitoriosa, não apenas possibilitando a aquisição de um piano ½ cauda, da prestigiosa marca Stainwey, quer foi instalado no auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, como pela oportunidade de associar cidadãos a um empreendimento cultural mantido por doações financeiras e pagamento de mensalidades, a SCAS.

Àquele tempo, não havia na estrutura do serviço público, nos níveis municipal, estadual ou federal, algum órgão dedicado exclusivamente á Cultura, havendo apenas nos organogramas das secretarias estaduais e do ministério da Educação um departamento de Cultura sem dotação orçamentária própria e em condições precárias de funcionamento. As Sociedades de Cultura Artística proliferaram como solução encontrada pela sociedade brasileira para estabelecer um circuito de espetáculos com roteiro nacional integrado e custos diluídos, bem como para viabilizar uma melhor interação da ação cultural entre os Estados.

Aracaju no roteiro

Graças aos relacionamentos políticos e contatos pessoais do Dr. José Carlos Teixeira na capital federal, o Rio de Janeiro, a cidade de Aracaju passou, pouco a pouco, a ser incluída no roteiro de grande companhias em circulação pelo país, geralmente patrocinado pelo Gabinete Civil da Presidência da República - os nacionais, e pelo Ministério das Relações Exteriores- os estrangeiros que nos visitavam amiúde, por conta de convênios de cooperação cultural firmados entre o Brasil e outras nações.
Deste modo o Estado de Sergipe passaria a ser a “porta de entrada” dessas companhias internacionais, talvez pela nossa localização geográfica e, certamente, pela recepção calorosa com casa cheia e produção impecável, predicados que a SCAS de Aracaju foi tornando famosos. As crônicas da época descrevem os saraus musicais e os espetáculos da Cultura Artística como eventos de visível bom gosto, oportunidade em que a sociedade sergipana, desde a classe média aos mais abastados se encontrava na elegante plateia do Teatro Atheneu, com seus melhores trajes e outros refinamentos.

São desse período áureo alguns espetáculos memoráveis como o recital dos Meninos Cantores de Viena, o ator Paulo Autran com a Opereta “O Burguês Fidalgo”, de Molière, recitais com várias orquestras e concertistas europeus e de grandes companhias brasileiras de teatro, como as de Ítala Nandi, Cleide Yáconis e Procópio Ferreira. Com esta última a SCAS manteve uma relação mais estreita, vez que “emprestou” por toda uma temporada o cenógrafo sergipano Nestor Braz, funcionário da entidade, que excursionou por um bom tempo com a companhia teatral de Procópio Ferreira, considerado um ícone imortal do teatro brasileiro.

A construção da sede

Ainda em consequência de gestões do Dr. José Carlos Teixeira, agora eleito deputado federal, o Ministério da Educação e da Cultura destinou verbas federais para a construção de um Teatro em Aracaju, a ser administrado pela SCAS. Como a entidade não possuía um terreno condizente e não dispunha de recursos financeiros para adquiri-lo e na iminência de ter que devolver a verba, a diretoria resolveu apelar para a Construtora Norcon que disponibilizou um terreno da sua propriedade, na esquina da Rua São Cristóvão com a Avenida Ivo do Prado, de dimensões insuficientes para a instalação de um Teatro, mas suficiente para a construção de uma sede para a SCAS. A Norcon foi, então, encarregada da obra e construiu um prédio de salas comerciais com cinco andares e uma loja térrea com mezanino. As salas do Edifício SCAS, erigido no coração do centro comercial de Aracaju com designer moderno e elevador, passaram a ser alugadas por profissionais e empresas, passando a ser a fonte mantenedora da entidade, mais lucrativa que as mensalidades dos associados.
Tempos depois, os aluguéis constantemente renovados sem os devidos reajustes contratuais condizentes com a localização do imóvel e com os efeitos da inflação, foram se tornando irrisórios, mal dando para cobrir despesas com manutenção e folha salarial dos funcionários. Acresce a essa dificuldade o encarecimento na contratação de espetáculos de boa qualidade artística, a maioria deles dando preferência às vantagens comerciais oferecidas por ricas praças interioranas no eixo Rio/São Paulo, por facilidades comerciais de translado e produção. Esse quadro ainda perdura, tornando quase impeditiva a vinda de grandes espetáculos de reconhecido valor artístico, às capitais nordestinas.

Principais gestões:

José Carlos Teixeira
Depois do Professor Felte Bezerra, assumiu o Dr. José Carlos Teixeira, cuja gestão se constitui no tempo áureo da SCAS, lembrado com saudade por quantos o acompanharam. Foi o tempo das grandes companhias nacionais e internacionais, quando a cidade Aracaju era tida com um importante polo de difusão da cultura artística, roteiro obrigatório para artistas nacionais e estrangeiros em excussão pelo país. Nessa gestão a SCAS concedeu uma bolsa de estudos ao maestro Genaro Plech, para aperfeiçoamento dos seus estudos musicais na Europa.

Professor João Costa
Sucedeu-lhe o Professor João Costa que permaneceu no cargo por um longo período. Ele, além de continuar a excelente programação de espetáculos, geriu a construção do edifício sede, publicou obras literárias, patrocinou cursos de teatro minitrados por figuras relevantes no cenário teatral da época e criou o TECA – Grupo de Teatro da Cultura Artística, sem dúvida o melhor grupo teatral jamais atuante em Sergipe. Dele fizeram parte figuras como Alencar Filho, Tereza Prado, Aglaé D’Ávila Fontes, Ilma Fontes e outros.
O TECA montou, sob a direção de João Costa, espetáculos de rebuscada carpintaria teatral como “Chuva” de Colton e C.Randolph, “Dias Felizes” de Puget, “Armadilha para um Homem Só” de Robert Thomas, “O Pedido de casamento” de Thecov, “Natal na Praça” de Henri Ghéon e o “Boi e o Burro a Caminho de Belém” de Maria Clara Machado. Da sua autoria João Costa montou, sob o patrocínio da SCAS, “Três de Dez de Mil Novecentos e Tanto”, “ Um Milhão” - a partir de um conto de Maupassant, “A Dança do Ouro” e, finalmente, “Recital sem Opus” que conquistou os prêmios de Melhor Espetáculo e Melhor Direção em Festival de Teatro realizado na Paraíba e o de Melhor Espetáculo no Festival Nacional de Teatro Amador realizado no Rio de Janeiro pelo célebre mecenas, o embaixador Carlos Magno. A peça, um libelo às liberdades políticas encenada em plena ditadura militar, tinha no elenco Luiz Antonio Barreto, João Gama, Prof. Joaquim, Orlando Vieira e Chico Varella. A SCAS também enviou ao referido Festival a peça infantil “A Volta do Camaleão Alface”, de Maria Clara Machado, para duas apresentações de rua em Copacabana, fora da competição, tendo no elenco Lânia Duarte, Amaral Cavalcante, João de Barros e Wellington Mangueira.

João Augusto Gama
João Costa foi sucedido pelo Dr. João Augusto Gama que recebeu da diretoria a missão de levantar a entidade que se encontrava desativada e já sem associados pagantes. Foi na coordenação da campanha para angariar novos sócios que eu ingressei na SCAS como remunerado, sendo, depois, incorporado ao seu quadro funcional no cargo de Secretário Executivo. A Campanha logrou êxito, conseguindo inscrever 1.500 novos associados e as atividades culturais da SCAS renasceram com a mesma pujança dos primeiros anos. Os espetáculos de artes cênicas, agora patrocinados pela Funarte vinham mensalmente e a nova direção da SCAS incluiu a musica popular de boa tradição em sua grade de programação, diversificando a oferta e atraindo novas plateias. Também foi criado um programa permanente de exibição de filmes clássicos sob a orientação do crítico Ivan Valença, além de concursos literários com a publicação dos vencedores e a edição de revista apresentando a obra de poetas locais como Mário Jorge e Clodoaldo de Alencar, ilustrada por artistas plásticos locais.
Outra grande contribuição da gestão João Gama à cultura local foi a contratação do Ator Bemvindo Sequeira para ministrar em Aracaju um curso de Teatro Livre com a duração de três meses e que resultou na criação do Teatro de Rua da SCAS, pioneiro na modalidade, que inspirou a criação de outros grupos como o Imbuaça, ainda hoje em atividade com brilhante e premiada carreira.

Luiz Antonio Teixeira
A gestão do Dr. Luiz Antonio Teixeira deu continuidade, por algum tempo, à programação implantada na gestão anterior, mas devido às dificuldades financeiras passou a copatrocinar espetáculos com bilheteria paga, reservando aos associados a aquisição de ingressos com 50% de abatimento. Também intensificou a cocessão de patrocínio financeiro da entidade à montagem de shows e espetáculos locais. Na sua gestão o prédio da SCAS foi alvo de uma criteriosa reforma e os contratos de locação começaram a ser refeitos com a devida majoração. Durante a gestão Luiz Teixeira deixei secretaria da entidade, continuando a servi-la, por algum tempo, no Conselho Fiscal.

Aracaju, 05/maio/2013

Amaral Cavalcante.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 26 de maio de 2013.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Foi-se Embora!


Foi-se embora!

Passou um engenho de rapadura, um carcará pousado na cerca. A vaquinha de ar pensativo regurgitando capim. O olho abestalhado de quem sabe de tudo, mas nem tai. Um alvoroço de preás chispa invisível na beira do mato. O calango também sustou danado, esperando imóvel no pé de mulungu, só o olho rodando o mundo em volta - que calango não tem pressa. É capaz de ficar assim, só o olho rodando, até a próxima trovoada.

Viu no mar de capim o vento assanhando as nhampupés. Uma cotia ali debaixo do pé de araçá. Na encosta, casinhas em ponto de cruz, as chaminés fumegando o café no oceano verdão do pasto.

Tudo ficando pra traz que ele estava indo embora, em cima de um caminhão!

Queria sair de si, dos corredores da casa onde os fantasmas brincavam de esconde-esconde. Queria ficar longe das besteiras sem serventia nos alfarrábios da família.

Juntou sua coleção de sinos, seu farnel de auroras, pendurou no peito o seu farnel de valentias e decidiu partir. Queria ser um coletor de sonhos trepidantes, o resto da vida engolindo estrada na carroceria de um caminhão.

Então, chegou detardinha.

O sol rajava em aquarelas sanguíneas. Traços surreais reinventavam a paisagem em impossíveis croquis. Um mourão se alongando como minarete, loooongo, se espreguiçando na estrada. Mais longe, uma pedra derramava ouro sobre um filete de água. O velho dicurizeiro impedindo a passagem, estendido em sombra e veracidade no chão da rodagem. Passou. Passou um mandacaru rezando agoniado, que as coisas de Deus iam se envultando. A paisagem pedia silêncio.

O cruzeiro na serra já se incendiava, um carneiro dourado acomodado aos seus pés. Na sombra da mata um bordado de nuvens céleres, acenava. Ovelhinhas e ogros tristes procuravam repouso, era chegada a hora!

Detardinha, o sono grená dos passarinhos peja os umbuzeiros dessa paz restrita às criaturas de Deus, quando o por do sol pinta dourado a vida e silencia o clamor das coisas. Então, o pé de jaca também já vai dormir que debaixo dele uma vaca malhada lambe a cria e recomenda em sussurro: - Bezeeeerro, vamos dorrrrmir.

Só ele inda corria na moldura da noite, indo-se embora na carroceria de um caminhão.

Bateu uma dorzinha não sei onde, que nem dor direito era. Era uma tristeza banal sem pé nem cabeça, a falta de não sei o que lhe incomodando. Falta de ar não era que ele engolia o vento veloz, a natureza lhe invadindo o nariz em lufadas e cheiros. Ar, novos ares lhe gastando a vida, o peito inflando em possibilidades. Não viesse ninguém dormir nos seus cabelos que o alvoroço ali era tanto... Escancarava a boca engolindo as alfaias da noite e, corajoso ainda, guardava o sopro do mundo a lhe invadir o peito.

Mas escureceu de vez. A dor fininha muito doida pinicando! Onde dormiria ele, cadê seus lençóis, as quenturas do quarto, uma moringa esfriando no peitoril da janela? Onde a certeza dos pés ao chão, a vida jabá nos becos da vida, as vielas confortáveis da cidade? A dor virou saudade.

Para que ele desce aqui!


Amaral Cavalcante.

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(Comentário de Marcelo Déda sobre a crônica "Foi-se embora", postada aqui.)

Maravilha, homem!

Mereceria estar em qualquer antologia de histórias curtas, sejam contos ou crônicas. Prosa porreta, grávida a não poder mais de poesia, que lhe escorre dos parágrafos e pontos e vírgulas... Tá pronta. Carece apenas de uma espanadinha sutil, como aquelas que se dá nos biscuits de porcelana inglesa das avós só para espantar uma poeirinha, mas sem mexer na disposição solene com que foram postos na mesa da sala em atitude de aguardar eternidade.

Tonho Viana certo dia lhe falou em "interesse geral", "universalismos" que o texto exigiria para exibir-se em livro. Você pensou e piscou: ninguém zomba mais da academia e reserva a ela tanto temor quanto você? Pois toma aí! Quem tá nesse caminhão? Amaral? Não, nós todos - encostos vivos montados na sua literatura para viajar e comer a poeira dos sonhos que você sonhou por nós, bandido! É a fuga de casa, poetizada e reinterpretada pela sua experiência de vida e de literatura.
O mundo rural da minha Simão Dias, replicando nos seus singulares predicamentos, os campos de todo o mundo: "Oh! A vaca é a mesma que eu vi num quadro do Van Gogh..." O mundo é a sua aldeia e só a compreendendo na sua particularidade mais extrema é que você será capaz de cantar o universo.

É a vontade do novo, da aventura, do desenlace. É um rito de passagem que não se completa, atocaiado pela saudade matreira do bem-bom: lençolzinho cheiroso, cama macia, cuscuz com leite no café-da-manhã, beijo de mãe na testa, olhar de soslaio do pai conferindo a cria. É o medo da saudade, tantas vezes maior do que ela.
E os cheiros... sua memória tem motor proustiano; é movida a milhões de cheiros trazidos por milhões de ventos e brisas que inventam perfumes e emprenham nuvens que você cataloga num tratado universal das tardes.

Na madrugada mineira, sóbrio e acordado num hotel de Belzonte sou arrebatado pela beleza do seu texto, pela universalidade do seu tema, pela arte com que você entretece sentimentos e os mistura ao concreto da vida. E com Humor. Humor com H maiúsculo, surpreendente, inesperado, filosófico.

Emocionei-me, eis tudo. E isso vale mais que uma missa, vale uma missão. A missão do artista, do poeta, do artesão de memórias. Maravilha.

Marcelo Déda.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em  22 de maio de 2013.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Japaratuba – da origem ao século XIX


Publicado em 07/07/2007


Japaratuba – da origem ao século XIX

Por Luiz Antônio Barreto 



Japaratuba tem uma história de riqueza açucareira conotada, de um lado, pela presença de proprietários enobrecidos pelo Império, e, do outro lado, pela quantidade de negros e de escravos que suplantava, por quase todo o século XIX, a população branca e livre. Em torno dos engenhos e das fazendas de gado, os negros escravos cumpriam uma vasta lúdica, apoiados pela devoção mantida pelas igrejas e capelas. Cultos, festas, se transformavam em cenários, nos quais os grupos folclóricos, com suas tradições, coloriam as ruas e os terreiros das senzalas, com seus batuques, cantos e danças que afirmavam a forte presença africana.



Uma cerimônia antiga, de coroação de reis negros, manteve-se viva em Japaratuba, adornando a festa de Santos Reis, mesclada de louvação a São Benedito. Na frente da Igreja Matriz, depois da missa, o padre e as autoridades põem toscas coroas na cabeça de negros e negras do Cacumbi, do Maracatu, devolvendo, simbolicamente, a autoridade dos africanos, arrancados a ferro de suas terras, para o cativeiro distante, do outro lado do mar.



Um cortejo se forma, depois que os grupos folclóricos fazem apresentações em louvor dos reis e rainhas, e toma as ruas da cidade, atraindo à porta de casa, parte da população japaratubense. A guerra das cabacinhas, reminiscência do velho carnaval (os limões de cheiro do entrudo), atesta a antiguidade da celebração, sedimentando uma identidade que tem caminhado ao lado da história, esta construída desde as cartas de sesmarias, margeando o rio que dá nome ao lugar.


Dos Boimés, índios aldeados na Missão de Japaratuba, nada parece ter sobrado, salvo, talvez, um ou outro toque, um ou outro passo, acomodados nos guardados do povo. Japaratuba ouve, no entanto, o som das suas cercanias: o Reisado de Sabau, no Marimbondo, e o Ilariô, ambos de Pirambu, o Samba de Aboio e os Bacamarteiros, de Aguada, Carmópolis, o Guerreiro de Zé de Jove, no São José, que com certeza cantarão mais triste, depois da morte de Dona.

Japaratuba com seus estandartes, desfilando nas ruas aladeiradas, revive todos os anos um acervo de lembranças, com o qual fortalece as comunidades em seus laços mais profundos, e rende ao seu passado as homenagens que a fé na padroeira – Nossa Senhora da Saúde – alimenta, como um vínculo permanente. Japaratuba que serviu de berço a uma linhagem branca de senhores de engenho e fazendeiros de gado, também foi útero de Artur Bispo do Rosário, com seus mantos e estandartes escritos com as tintas do melhor sentimento, mesmo quando sua obra artística, exposta nas ruas, mais parecia um desajuste pessoal, de um fora da linha.

É Japaratuba, desde a sua origem e até o século XIX, que Eduardo Carvalho Cabral investiga, em documentos da história, e em mais fontes, para registrar e fixar informações essenciais e esclarecedoras, no fio do tempo, e na vigência dos fatos. Um livro, enfim, que amadureceu na admiração do autor pelo objeto estudado, na procura permanente de pistas, na interpretação segura, na fidelidade às responsabilidades que tomou para si, como um gesto de amor, mas também como um trabalho sério, amplo e profundo, capaz de ser uma fonte de múltiplas referências.

Com o livro de Eduardo Carvalho Cabral – Japaratuba, da origem ao século XIX (Aracaju: Gráfica Triunfo, 2007) Japaratuba passa a ter um marco da sua história, ao qual se poderá recorrer sempre, em busca de uma cronologia afortunada, repleta de episódios, protagonizados por gente de todas as condições. Vista desde as suas remotas origens, varando o tempo e conquistando o século do Império, da organização da vida política, da instrução de todos os graus, das artes e especialmente da literatura, Japaratuba é um ícone, uma experiência, um êxito, em todo o recorte que o autor utiliza em sua pesquisa e em seu escrito.

Foram anos de intenso trabalho e principalmente de dedicação de Eduardo Carvalho Cabral ao seu projeto de escrever uma história de Japaratuba. Valeu o esforço, realçou-se a competência, concluiu-se uma etapa. Agora é com os leitores, pesquisadores, interessados no conhecimento de Sergipe, palmilhado através de sua geografia, evocado pelas suas tradições, compreendido pela vida renovada em direção ao futuro. 

Serigy - A história de um povo
Texto reproduzido do site: clientes.infonet.com.br/serigysite


Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 15 de maio de 2013.

Luis Antônio Barreto - O Sergipano Que Enaltecia Sua Terra


Luis Antônio Barreto

O sergipano que enaltecia sua terra

Publicado em 17/04/2012, pelo Portal Serigy/Infonet

Luiz Antônio Barreto falece aos 68 anos em pleno vigor, atuante e participativo no cenário cultural e político sergipano. Imortalizado pela Academia Sergipana de Letras, onde ocupava a cadeira de número 23, o historiador figura no rol daqueles poucos que possui um currículo brilhante e extenso. Muito estudo, trabalho e cordialidade lhe transformou em uma das maiores referências da história do Estado de Sergipe.

O lagartense atuava ultimamente como diretor do Instituto Tobias Barreto, escrevia constantemente em sua página Serigy Site, mas também em vários locais da imprensa sergipana, como colunista do Portal Infonet e do jornal O Dia. Também se debruçava na escrita da biografia do reitor Joubert Uchôa, o qual seria lançado o livro no próximo mês.

Ele foi escolhido pela Universidade Tiradentes para fazer esta pesquisa no ano em que a Universidade completa 50 anos. Mas esta não foi a única alegria que a instituição lhe proporcionou. Ano passado, lhe foi cedido nova sede para aquele que lhe era o mais caro acervo,- O Instituto Tobias Barreto (ITB).

O ITB tem uma história de 27 anos e mantém, em seu acervo, um memorial do filósofo sergipano Tobias Barreto. Além disso, conta com mais de 30 mil itens – livros, fotografias, discos –, muitos deles com conteúdos sobre Sergipe. No momento de sua reinauguração, o professor ressaltou o amor por sua terra, “Desde sempre, em minha vida, aprendi o amor à minha terra. Quem não ama a sua própria terra, não é capaz de amar terra alguma e em tempo algum”.

Carreira

Luiz Antônio Barreto foi diretor da Galeria Álvaro Santos, Secretário de Educação e de Cultura de Aracaju e de Sergipe, Assessor do Instituto Nacional do Livro (INL), Superintendente e Diretor do Instituto de Documentação Joaquim Nabuco, Diretor da Fundação Augusto Franco, Diretor do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (Portugal), Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e do Conselho Estadual de Cultura.

Foi autor de mais de 30 livros e centenas de artigos. Nos últimos anos se tornou um especialista em biografias, o que lhe rendeu a escrita do livro Personalidades Sergipanas, em 2007.

Em 2009, Luiz Antônio Barreto completou 50 anos de jornalismo. Em Sergipe ele teve passagens por vários veículos de comunicação: Sergipe Jornal, Folha Popular, A Cruzada, Correio de Sergipe, Jornal da Cidade, Gazeta de Sergipe, Revista Perspectiva, Jornal O Dia e Portal Infonet.

Fonte: Portal InfoNet

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 15 de maio de 2013.

Pioneiro da Arqueologia em Sergipe: José Augusto Garcez.


Memorial de Sergipe/UNIT

Sala
Arqueologia: José Augusto Garcez.

Na Sala da Arqueologia, temos um destaque da contribuição do Arqueólogo sergipano José Augusto Garcez (1918-1992). Natural do município de São Cristovão, Garcez exerceu a profissão de Jornalista, Escritor e Arqueólogo, mesmo sem ter obtido formação de nível superior. Esteve vinculado a quinze instituições culturais em todo País. Os achados de Garcez trouxe importante contribuição à pesquisa arqueológica e paleontológica do Estado, compõe a segunda sala do Memorial de Sergipe.

Dentre as suas peças podemos destacar a Igaçaba, uma urna funerária encontrada no sítio de Itabaiana, onde o corpo dos indígenas eram depositados após o falecimento. Além da intitulada pré-história, a exposição de Garcez possui adornos, indumentárias e artefatos que referenciam os índios brasileiros. Fragmentos de cerâmicas lisas e decoradas, encontradas nas escavações realizadas pelo próprio Garcez.

Ainda na sala da arqueologia, é possível visualizar um painel do município de Canhoba (SE), plotado na parede, onde destaca-se a Preguiça Gigante, que viveu em Sergipe há cerca de 10 mil anos. Encontra-se em destaque nas vitrines, não só os fragmentos ósseos da Preguiça gigante, é possível visualizar fragmentos ósseos da arcada dentária de um Mastodonte Brasileiro, paquiderme similar ao elefante. O Mastodonte possuía peculiares e enormes marfins e pelugem densa. Foi datado no mesmo período da Preguiça Gigante.

Encerrando a visitação à fabulosa sala da Arqueologia, ainda é possível observar a exposição aberta de animais marinhos fossilizados, como o dorso de um Espadarte – peixe de água salgada, similar ao peixe-espada, que teria habitado o litoral sergipano há milhares de anos, vértebra de baleia jovem, e o fóssil de um cefalópode (molusco).

Texto e foto reproduzidos do site: ww3.unit.br/memorialdesergipe/acervo/arqueologia-jose-augusto-garcez/

Foto: Suyan Dionizio
Igaçaba – Urna Funerária

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 14 de maio de 2013.

Centro de Memória Lourival Baptista.


Centro de Memória Lourival Baptista.
Publicado por Suyan Dionizio.

A preocupação com a preservação da memória cultural de nosso Estado já se tornou uma prática constante da Universidade Tiradentes. O Centro de Memória Lourival Baptista é mais uma prova disso, colocando à disposição da sociedade sergipana a vida e obra desse eminente homem, médico e político.

Fenômeno contemporâneo, os Centros de Memória são, além de espaços de preservação, centros dinâmicos estimuladores da reflexão acerca do fazer histórico. Nessa perspectiva , o Centro de Memória Lourival Baptista tem por objetivo revitalizar a memória política de nosso Estado, a partir dos anos 1940 aos nossos dias, através da divulgação e preservação do acervo de um dos mais notórios homens públicos da história de Sergipe e do Brasil, Sr. Lourival Baptista.

Na sua residência, em São Cristovão, encontramos seu acervo, organizado por ele mesmo, com a intenção de mostrar e registrar a todos, amigos e convidados, a trajetória de sua vida. Esse acervo é constituído, principalmente, por fotografias, mobiliário, pinturas, diplomas e medalhas, bem como documentos que abrangem a história político-administrativa desde que foi Deputado Estadual, Prefeito de São Cristovão, Deputado Federal, Governador de Sergipe, e eleito três vezes Senador por nosso Estado, atuando, no cenário político brasileiro, desde a década de 19, até os anos 90.

A FORMAÇÃO

Aos 03 dias de outubro de 1915, em Sítio do Meio, município de Entre Rios, Bahia, nasceu Lourival Baptista.

Lourival ingressa no Primário da Escola Jesus Maria José (Alagoinhas-BA) e, no Ginásio Ipiranga (Salvador-BA) e depois, no Secundário, no Colégio Antônio Vieira. Forma-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1942, prestando residência no Serviço Médico do Exército, como médico R2, e na própria Faculdade.

A FAMÍLIA

Em novembro de 1943, Lourival Baptista casa-se com a Srª Hildete Falcão Baptista e, já médico em São Cristóvão, constitui, em Sergipe sua família. Tempos depois, vem a primeira filha, Adnil Falcão Baptista, a primogênita de 4 irmãos: Francisco da Costa Baptista Neto, Lourival Baptista Filho e Angelina Falcão Baptista.

SERGIPANO DE CORAÇÃO

Nacido em Entre-Rios, Bahia, Lourival Baptista chega ao nosso Estado em 1943, constituindo aqui a sua família, adotando Sergipe como seu lar. Médico, formado pela Universidade Federal da Bahia, vem exercer a profissão na cidade de São Cristóvão. Sua atuação, entretanto, não fica restrita ao exercício da Medicina, tornando-se mais tarde Deputado Estadual (1947-1951) e em seguida, Prefeito da Cidade de São Cristovão (1951-1954). É eleito Deputado Federal por nosso Estado (1959-1962 e 1963-1967), e em 1966, assume o Governo do Estado de Sergipe sendo, logo em seguida, eleito Senador em 1970, permanecendo no Senado por 24 anos.

Tanto como legislador quanto administrador, sua atuação política foi caracterizada pela ênfase no trabalho e no progresso, sendo a ele atribuído o título de “O Realizador”. Tendo como lema de ordem “Pacificação e Desenvolvimento”, seu mandato, enquanto governador, por 3 anos, 3 meses e 14 dias, foi marcado com inúmeras realizações de grande porte para Sergipe, como o Estádio Estadual Lourival Baptista – o Baptistão, o Edifício “Estado de Sergipe” e o “Tribunal de Contas”, além da instalação da Petrobrás e do Centro Universitário. Promoveu, ainda, a eletrificação do interior do Estado, aberturas de estradas, construção de hospitais e maternidades, além de inúmeras escolas rurais. Durante seu governo, Sergipe cresceu, evidenciando sua política progressista através de benefícios que testemunham a importância de Lourival Baptista enquanto homem público para o nosso Estado.

Em 08 de março de 2013, aos 97 anos, falece Lourival Baptista, em Brasília.

Acervo: Memorial de Sergipe/UNIT/Centro de Memória Lourival Baptista
Foto e texto: reproduzidos do site ww3.unit.br/memorialdesergipe

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 14 de maio de 2013.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Artista Plástico Sergipano - Felix Mendes (1944 - 2013)


Artista Plástico Sergipano - Felix Mendes (1944 - 2013)

Nascido na cidade de Estância, Félix Mendes Rodrigues morava há muitos anos na rua Siriri, onde criou, na década de 1980, o Forró e o Natal da rua Siriri. Com trabalhos expostos em vários Estados do Brasil e países da América Latina, Félix Mendes, segundo Luiz Adelmo, diretor da Galeria de Arte Álvaro Santos, foi o primeiro artista naïfsergipano.

“Embora tenha despertado seu dom no Rio de Janeiro, nunca deixou de ser sergipano (declarado). Aproveitou sua arte para espalhar nosso folclore e festas populares em cartões postais. Foi secretário de cultura de Estância, na primeira administração do prefeito Carlos Magno e, este ano, o XXII Salão dos Novos o homenageou como patrono. Na semana passada, o atual prefeito de Estância, Carlos Magno me disse que o São João da cidade também o homenagearia. Numa terra de tantos talentos, Félix Mendes é mais uma estrela que se vai, mas deixa uma história e uma obra de muito brilho”.

Além de artista plástico, Félix Mendes era compositor, particularmente de forró, com muitas das suas composições interpretadas por cantores sergipanos. Ele foi o grande responsável pela divulgação do São João de Sergipe, trabalhando nas redes de TV cobrindo os festejos da sua cidade natal. O estanciano chegou a levar para Copacabana, no Rio de Janeiro, os barcos de fogo e a guerra de espadas da sua cidade.

Diversos painéis de sua autoria podem ser apreciados em agências do Banco do Nordeste do Brasil.

Trecho extraído de publicação do jornaldacidade.net
Quando de seu falecimento em 13/04/2013.
Foto: Divulgação.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 3 de maio de 2013.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=585547294797722&set=o.259696634059007&type=1&theater

30 anos de ‘Sargento Getúlio’


Publicado em 06/03/2013 pelo jornaldacidade.net

30 anos de ‘Sargento Getúlio’.

Corria o ano de 1983, quando um filme rodado em Sergipe, começou a deixar sua marca na cinematografia brasileira, com prêmios no Festival de Gramado e em outros cantos do mundo (Locarno e Havana).

Corria o ano de 1983, quando um filme rodado em Sergipe, começou a deixar sua marca na cinematografia brasileira, com prêmios no Festival de Gramado e em outros cantos do mundo (Locarno e Havana). Trata-se de “Sargento Getúlio” dirigido por Hermano Penna, cuja adaptação do livro homônimo de João Ubaldo Ribeiro, foi realizada pelo próprio escritor, juntamente, com Penna e Flávio Porto.

Protagonizado por Lima Duarte (Getúlio) e contando com um casting sergipano- Orlando Vieira, Amaral Cavalcante, Antônio Leite, entre outros- o filme foi rodado em 1977, no interior do Estado, mas só sentiria o contato com a tela do cinema, seis anos depois, período em que foi ampliado de 16 mm para o formato de 35 mm.

Passadas três décadas de seu lançamento, “Sargento Getúlio” será exibido em Canindé de São Francisco, nesta sexta-feira, às 19h, na Praça Ananias Fernandes, como uma forma de homenagear os participantes dessa empreitada. A iniciativa partiu do Grupo Raízes do Nordeste, de Poço Redondo, que junto com a prefeitura municipal de Canindé, uniu forças para realizar a projeção do filme e um debate com o diretor Hermano Penna e os atores Orlando Vieira (que interpretou o personagem Amaro), Antônio Leite e Amaral Cavalcante.

“Essa carinhosa manifestação aos 30 anos do ‘Sargento Getúlio’ teve origem na iniciativa do grupo Raízes do Nordeste, grupo de ação cultural de Poço Redondo, liderado por Val Santos, cantora e guerreira da cultura regional do sertão São Franciscano de Sergipe. E é Poço Redondo que numa atitude única e exemplar no Brasil, homenageia o cinema brasileiro tornando o ‘Sargento Getúlio’, Patrimônio Cultural da cidade. Fato que deve ser divulgado em prosa e verso para todo o País. O filme tem uma relação tão profunda com Sergipe que é natural que todos se sintam patronos dessas homenagens. No caso de Canindé, a cidade é citada nominalmente numa das primeiras falas de Lima Duarte, logo no início do filme. Justificativa maior não há para a exibição acontecer nessa cidade”, explica o diretor.

Ambientado nos anos de 1940, o filme conta a história de Getúlio (Lima Duarte), um rude sargento que tem a missão de levar um prisioneiro, inimigo político de seu chefe, de Paulo Afonso (BA) a Aracaju (SE). No meio do caminho, em virtude de uma mudança no panorama político, o sargento recebe a ordem para soltar o prisioneiro, mas devido a seu temperamento avesso às mudanças, ele decide terminar a missão que lhe foi confiada, mesmo que tenha de matar para completá-la.

Durante um certo tempo, Getúlio consegue resistir ao enfrentamento das forças federais, por conta da ajuda do fiel escudeiro Amaro (Orlando Vieira). Porém, acaba sendo abatido no terceiro combate com elas.

Não deve ter sido fácil para Hermano Penna adaptar os longos monólogos do Sargento no livro para as telas, ainda que tenha contado com o auxílio de João Ubaldo para essa “cinematização”.Quando questionado se o filme ainda hoje é reconhecido como um dos melhores da safra brasileira e de suas constantes comparações com a obra original, o diretor é categórico.

“Melhor do que o livro não é. ‘Sargento Getúlio’ é um dos cinco melhores livros da literatura de língua portuguesa, no dizer do ‘cometa’ Glauber Rocha. Mas se tenho algum orgulho é saber do apreço e carinho que João Ubaldo tem pelo filme, como demonstrou numa mesa redonda da Balada Literária realizada em São Paulo, em novembro passado. Acrescento que muitas outras homenagens estão sendo programadas para este ano em todo o País, inclusive, com a publicação de um livro contando a saga do filme”.

É uma pena, no entanto, que até hoje, o filme não tenha sido lançado em DVD (apenas foi digitalizado pela Programadora Brasil, projeto da Secretaria do Audiovisual para levar clássicos ecults nacionais em DVD apenas a universidades e centros culturais). Segundo Penna, há intenção de lançar “Sargento Getúlio” neste formato, mas para isso,a cópia precisa ser restaurada. “Estamos lutando para realizar essa operação. Esse é o único entrave. E porque não, o Governo de Sergipe tomar essa iniciativa? Não custa muito. Seria uma forma de se associar à vontade do povo sergipano que se expressa com tanto carinho e apreço ao filme através dessas exibições”.

Com uma forte ligação com o sertão sergipano, tendo filmado nos anos de 1970, além de “Sargento Getúlio”, “Mulher no Cangaço”, o cineasta cearense voltou a Sergipe, há um ano e meio para realizar “Aos Ventos Que Virão” protagonizado por Rui Ricardo Dias (de “Lula, o Filho do Brasil”), Luís Miranda e Emanuelle Araújo.

Com locações em Canindé e Poço Redondo e um orçamento em torno de R$ 2,4 milhões, o longa-metragem narra a trajetória de Zé Olímpio (Rui Ricardo), que após uma experiência como cangaceiro troca sua terra natal por uma vida nova em São Paulo, na construção civil. Ao voltar para sua região de origem, a fim de reconstruir o que lá deixou, ele entra na carreira política e vislumbra toda a fragilidade de caráter em torno das disputas pelo poder.
“O filme está totalmente finalizado e esperando ‘os bons ventos’ de uma boa distribuição. Nessa minha visita a Sergipe, pretendo discutir com o Governo do Estado, Secretaria de Cultura e outros patrocinadores como o Banese, uma exibição do filme em Aracaju. Espero fazer isso ainda no primeiro semestre desse ano”, conta o diretor.

Quem sabe não vem por aí, um filme tão promissor quanto “Sargento Getúlio”? É esperar para comprovar.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net
Foto: Divulgação.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, 3 de maio de 2013.

Marcélio Bonfim: Um Ícone da Resistência em Sergipe


06/05/2013 - MEMÓRIAS DE SERGIPE - Jornal da Cidade.Net

Marcélio Bonfim: um ícone da resistência em Sergipe.
Por Osmário Santos.

Fala das torturas que sofreu no quartel do 28º Batalhão de Caçadores e que até hoje traz marcas em seu corpo, além de relatar fatos inéditos da época em que militou em partidos de esquerda em Sergipe.


Marcélio Bomfim Rocha nasceu em 25 de maio de 1944 na cidade ribeirinha de Canhoba/SE. Seus pais: Marcelino Rocha e Margarida Bomfim Rocha.

Seu pai por muitos anos trabalhou na roça até que veio para Aracaju onde conseguiu emprego de vigia do matadouro da cidade. Dele herdou a coragem para o trabalho, amor à família e luta permanente por direito à vida. Já de sua querida mãe, o caráter, firmeza, espírito fraterno e solidário. “Ela mora na Rua Vitória, é da Ordem 3 ª do São Francisco e vive hoje ajudando os mais necessitados”.

Fugindo de uma seca, quando tinha três anos de idade, seu pai trouxe toda a família para Aracaju. Com a tia Elizabeth Bomfim, que também veio de Canhoba junto com a família, o menino Marcélio foi alfabetizado. Fez o primeiro ano do curso primário na escola pública Ivo do Prado que funcionava no bairro 18 do Forte e mais outro ano no Grupo General Valadão, que no seu tempo, era dirigido à época pelo professor Benedito Oliveira.

Por conta da religiosidade de seus pais, que nunca deixaram de ir à missa aos domingos na igrejinha do matadouro, Marcélio tornou-se coroinha da igreja, e passou a ajudar o padre nas missas constantemente. Com essa influência religiosa dos pais, do padre da paróquia do matadouro e do bispo Dom Fernando Gomes, terminou querendo ser padre e ingressou como interno, no Seminário Menor de Aracaju. Terminou com os padres o curso primário e mais dois anos do curso ginasial. “Eu devo parte da minha formação ao Seminário. Tinha como colega Messias Góes e os ex-padres: Padilha e o Orfey ”.

Pelo espírito de seriedade e honestidade, ao perceber que sua vocação não era a de ser religioso e, ao refletir que não poderia continuar usando os recursos da igreja que poderia ser aplicado com um outro jovem, tomou a iniciativa de sair do seminário no ano de 1960, depois de passar o tempo de quatro anos.

Voltou a morar com os pais e se matriculou no Colégio Atheneu Sergipense e se envolveu por completo em política estudantil, embora por pouco tempo, devido ao seu ingresso na militância do Partido Comunista Brasileiro no ano de 1961.

Detido pela 1ª vez no episódio da renúncia do presidente Jânio Quadros, logo é solto por ser menor de 16 anos de idade. “A partir daí, já passei a assumir responsabilidades e meu envolvimento foi crescendo”.

Por conseguir um emprego como servente no Serviço de Água e Esgoto, hoje a Deso, já que estudava pelo dia, passou a estudar no turno da noite no Colégio Tobias Barreto, graças a uma bolsa conseguida junto ao diretor do colégio, professor Alcebíades Melo Vilas Boas, onde terminou o ginásio, encerrando sua trajetória nos bancos escolares.

Como servente na Água e Esgoto ficou o tempo de três anos. Depois passou para auxiliar administrativo. Com a criação da Deso, passou por opção própria a trabalhar na Secretaria de Administração, saindo do serviço público no primeiro PDV do Estado.

Foi preso em 64 por conta do Golpe Militar. “Essa prisão é curiosa. A Companhia de Saneamento é hoje onde funciona a Câmara de Vereadores e no dia 31 de março nós fomos presos da Leste, quando estávamos aguardando armas para podermos resistir ao Golpe, já que não tínhamos armas, não tínhamos nada. Mas nada dessas armas. Mas antes de irmos para a Leste, com os companheiros Paulo Barbosa, Luís Eduardo Costa e Kapan, pela ideia de resistir ao Golpe que passava de um grupo de pessoas, e não uma decisão do partido, grupo esse que entendia se a gente deixasse Aracaju no escuro, facilitava, quem sabe, uma invasão no quartel da Polícia Militar e com isso arranjar as armas. Aí saímos para tentar dinamitar uma torre que trazia de Paulo Afonso a energia para a cidade. Arranjamos a dinamite, arranjamos tudo, mas na hora h, como ninguém sabia como operar com a dinamite, tivemos que desistir, se não morreríamos todos nós (risos). Aí, na volta, eu vim com Paulo Barbosa para a Leste e Luís Eduardo foi para a sua casa. Na hora que nós chegamos, o Exército chegou, cercou a estação e todos nós fomos presos. Como eu tinha 19 anos, depois de dois dias, me soltaram. Foi quando voltei a trabalhar assombrado no Serviço de Água. Para surpresa minha, eu estava sentado na máquina, porque eu era datilógrafo, quando vi entrar um colega meu de metralhadora na mão. Um colega que tinha estudado comigo no Colégio Tobias Barreto. Quando percebi que ele estava olhando para mim, disse: Você veio me buscar, não foi? Ele disse: Foi. Me perguntou se eu ia reagir e eu disse que não. Esse colega meu, por incrível que pareça, é hoje meu colega de PPS, o vereador Motinha (risos e mais risos). Ele era soldado e estava acompanhado de mais dois recrutas e tinha um sargento no comando dessa operação”.

Fez questão de dizer que na prisão em 64, durante o período de dois meses em que passou preso no quartel do 28 º Batalhão de Caçadores, só sofreu a tortura psicológica.

Meio cauteloso, voltou ao trabalho, mas depois de um certo tempo foi aconselhado pela direção do PCB a sair do País.

Revelou que só no mês de outubro de 64, é que os companheiros do Sul de seu partido partem para a primeira tentativa de reestruturá-lo. Naquele momento, em Sergipe só encontra Milton Coelho e ele.

Lentamente Milton e Marcélio, que era o secretário geral do PCB, foram reorganizando o partido, buscando sempre gente nova. “A partir daí é que veio Jackson Barreto, Benedito Figueiredo, João Augusto Gama, Wellington Mangueira, Mário Jorge. Naquele momento o partido estava na clandestinidade e não tinha essa de assinar filiação. Essa turma participava da base estudantil na Universidade Federal de Sergipe”.

Na formação dessa base, passou a se expor muito e foi por isso que no ano de 1966, por decisão do comitê central do PCB, teve que sair do Brasil, pois se continuasse por aqui, iria ser prejudicial à organização.

Foi para Moscou, onde passou de 1966 a 1969. Nessa passagem pela Rússia, mantém forte amizade com Luís Carlos Prestes, que fez tudo para que Marcélio não retornasse ao Brasil em 69. “Ele queria que eu ficasse lá para estudar e só saísse após concluir um curso superior. Na sua avaliação, chegando como técnico, seria muito melhor para mim e para o partido. Ele me deu uma tarefa para ver se eu iria desistir da ideia de voltar, que foi a de representar o Brasil no Encontro da Juventude Socialista da Bulgária, mas como terminou o encontro, tomei a decisão final e retornei a Sergipe”.

Na volta, encontrou o PCB com muito mais adeptos e mais estruturado em todo o território nacional. Retornou ao trabalho de ativista do partido em Aracaju e junto com o saudoso Antônio Jacintho Filho, conseguiu organizar uma poderosa base de trabalhadores na Petrobras. “Foi nesse período que a Petrobras saiu de Alagoas e montou seu distrito em Aracaju. Aí crescemos. Passamos alguns anos controlando o aparelho sindical da Petrobras” .

Com a repressão de 1976, é preso na Operação Cajueiro onde passa no quartel do 28º Batalhão de Caçadores cerca de 90 dias. “Todo mundo foi solto, mas eu, Milton Coelho, que já estava nesse momento quase cego, porque identificou quem estava levando e para onde ia, Carivaldo que já morreu e mais uns três companheiros que não me lembro agora. Todo mundo foi liberado e ficamos aguardando o julgamento do pedido de prisão preventiva que foi derrubada na Auditoria Militar. Por sorte da gente, fomos soltos, mas continuamos a responder o processo até o seu julgamento, que aconteceu em 1978, quando fui absolvido”.

Do tempo em que passou preso no 28º Batalhão de Caçadores, até hoje tem cicatriz na testa por conta das inúmeras porradas que recebeu. “Para se ter uma ideia, depois da morte do jornalista Wlademir Herzog, que foi morto de porrada, aí eles tiveram o cuidado de ter médico nessas operações de tortura, para cuidar do preso antes da tortura, e depois da tortura, Com isso, tentava impedir que ocorresse o que aconteceu com Wlademir. Me lembro como hoje, que depois de tirar a minha pressão, me auscultar por completo, o médico chamou o oficial em particular e disse alguma coisa. Nesse momento devia ter dito: o homem está pronto para tomar porrada” .

Das torturas revela que era submetido a choques elétricos, a pau de arara, era jogado num túnel de cabeça para baixo com uma viseira nos olhos. Também conta que ficava dentro da cela algemado com as mãos para trás e encostado numa parede sem reboco, totalmente chapiscada de cimento. “Quando era chamado para depor, o soldado vinha e era puxado pela goela do macacão”.

Pela amizade com Prestes em Moscou, ele o acompanhou em sua saída do Partido Comunista Brasileiro. “Já naquele época do exílio eu sabia que Prestes estava se preparando para romper com o PCB. Ele não acreditava mais na prática, na escritura e na organização do partido. Por isso, já vim com isso na cabeça. Para onde ele pendesse, eu acompanharia”.

Como Prestes nos seus pronunciamentos no Rio de Janeiro já sinalizava que a sociedade brasileira deveria construir um novo partido dos trabalhadores, isso facilitou a sua vida política, pois resolveu trabalhar para o Movimento Pró-PT. “Em nível nacional assinei a ata de fundação dos Partido dos Trabalhadores”. No PT em Sergipe foi o seu primeiro presidente e o primeiro candidato a governador pelo partido na eleição de 82.

Participou com todo entusiasmo da Campanha das Diretas e, ainda como integrante do PT, foi às ruas. Não sendo aprovada emenda Dante Oliveira e com a formação da Aliança Democrática que tinha como pessoa chave Tancredo Neves, começou a sua divergência com o PT: “Eu era membro do diretório nacional e na última reunião que eu participei a gente saiu em bloco. Eu saí do PT acompanhado de Airton Soares, que era deputado federal por São Paulo, e da deputada federal Bete Mendes, além de um grupo de parlamentares membros do diretório nacional que se afastaram para entrar na campanha de Tancredo Neves. Eu me afastei do PT e tive o cuidado de aqui em Sergipe eu sair só. Quero dizer que eu nunca falei e nem em entrevista fiz essa revelação. Uma coisa que eu tenho o maior orgulho do mundo, é o de ter contribuído para a organização do PT, porque é mais uma alternativa partidária que a sociedade brasileira quer. No PT fui seu delegado regional”.

Ingressou no PSB no ano de 86 e saiu a candidato a deputado estadual. “Perdi a eleição porque faltou 200 votos na legenda” .

Foi nomeado delegado regional do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), órgão ligado ao Ministério do Trabalho.

Se elegeu vereador de Aracaju em 1988 pelo PSB, sendo o presidente da 1ª Câmara Municipal Constituinte.

A convite de Jackson Barreto assume a Secretaria de Serviços Urbanos da Prefeitura de Aracaju.

No momento atual está filiado ao PPS e saiu na eleição de outubro como candidato do partido a vereador, mesmo a contragosto de alguns integrantes da Executiva Municipal. “Tentaram impedir o registro da minha candidatura. O diretório municipal do PPS não incluiu o meu nome na relação em que enviou ao Tribunal Regional Eleitoral. Só vim saber disso no dia 30, dia da convenção. Por alguns dias eu comecei a reagir de forma diferente. Eu achava que tinha mandato para continuar a fazer política, pois como acabei de contar a minha história, por toda uma vida sempre fiz política sem ser candidato e sem ter mandato. Mas diante da violência praticada contra mim, eu não queria mais ser candidato, mas não ia deixar de fazer política. Aí foi quando a coisa complicou, porque centenas de pessoas de todos os lados de Aracaju passaram a me pressionar e a me cobrar o comportamento que eu sempre tive no passado, de enfrentar os problemas de frente e não temer ameaças. Foi toda essa pressão, que me levou a entrar com recurso no TRT no último dia de prazo final, que era o dia 5 de julho. Tive a felicidade da Justiça Eleitoral ter devolvido a minha filiação partidária. Agora, eu vou em casa em casa, pois em todo lugar que eu chego a pergunta é uma só: é ou não é candidato? Vou dizer para toda essa gente: sou candidato”.

Casou com Maria Geovanina de Carvalho Rocha e dessa união nasceram os filhos: Marx, Marília Saskia, Mônica Pablo Neruda. É avô de quatro netos.

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Marcélio Bomfim foi homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe com a medalha da Ordem do Mérito Parlamentar no dia 6 de maio de 2013.

Foto e texto reproduzidos do site: jornaldacidade.net/osmario-leitura

Foto: Álbum de família Ao lado de Lula.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 7 de maio de 2012.